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Liberdade de imprensaBelarus

Belarus retira credencial de jornalistas estrangeiros

29 de agosto de 2020

Repórteres de veículos como BBC e Reuters têm suas credenciais de imprensa revogadas na véspera de um grande protesto contra o governo. Equipe de emissora alemã é detida, e profissionais russos são expulsos do país.

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Mulheres enfrentam polícia em protesto contra Lukashenko em Minsk
Mulheres protagonizaram um protesto contra Lukashenko na capital, Minsk, neste sábadoFoto: picture-alliance/dpa/S. Bobylev

As autoridades de Belarus retiraram neste sábado (29/08) as credenciais de imprensa de vários jornalistas de veículos estrangeiros que vinham cobrindo a onda de intensos protestos no país contra a reeleição do autoritário presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos.

Entre os repórteres afetados estão profissionais que trabalham para as agências de notícias francesa Agence France Presse (AFP), americana Associated Press (AP) e britânica Reuters, a emissora britânica BBC, a emissora pública alemã ARD e a estação americana Radio Liberty.

A ARD afirmou que uma equipe de televisão da emissora foi detida durante a madrugada. Os três profissionais, dois assistentes russos e um produtor bielorruso, foram presos em frente ao hotel onde estão hospedados e liberados na manhã desta sexta-feira, depois de as autoridades retirarem suas credenciais de imprensa. Os dois russos foram ordenados a deixar o país, e o bielorrusso deve ser processado na próxima segunda-feira.

O porta-voz do governo bielorrusso, Anatoly Glaz, afirmou que a decisão de revogar as permissões a jornalistas foi tomada por recomendação da unidade de contraterrorismo do país. Ele não especificou quantos profissionais foram afetados pela medida.

A Associação Bielorrussa de Jornalistas, por sua vez, fala em uma onda de retirada de credenciais de repórteres que trabalham para agências de notícias, jornais e emissoras de rádio e televisão de vários países.

"O Ministério do Exterior de Belarus me ligou e informou que meu credenciamento e o de um dos meus colegas correspondentes da BBC foram cancelados. Eles exigiram que eu devolvesse meu cartão", contou a jornalista Tatyana Melnichuk à AFP.

A Reuters, por sua vez, afirmou não ter conhecimento de nenhum ato de seus jornalistas que possa justificar a perda do credenciamento. "Esperamos que as autoridades restaurem suas credenciais para garantir que nossos jornalistas possam continuar entregando notícias independentes e imparciais de interesse público."

A líder oposicionista Svetlana Tikhanovskaya, que fugiu para a Lituânia após a eleição presidencial de 9 de agosto e alega ter vencido Lukashenko no pleito, declarou em comunicado que a retirada de credenciais de jornalistas é extremamente preocupante.

"É mais um sinal de que esse regime está moralmente falido e que a única maneira de tentar se agarrar ao poder é por meio do medo e da intimidação", disse ela, que vem convocando protestos contra o governo. "Essa tática não vai funcionar. O povo bielorrusso não tem mais medo. Nós vamos ganhar. A hora mais sombria é sempre antes do amanhecer."

A mais recente repressão à imprensa estrangeira ocorre na véspera de uma grande manifestação da oposição, programada para este domingo em Minsk, capital bielorrussa. Representantes da mídia afirmaram à agência de notícias alemã DPA que a medida é provavelmente uma tentativa do governo bielorrusso de impedir que os protestos sejam noticiados fora do país.

Quem decide sobre a revogação de permissões de trabalho em Belarus é uma comissão para segurança da informação, que inclui representantes do Ministério da Defesa, do Ministério do Interior e da agência de inteligência KGB (que manteve o nome do serviço secreto soviético após a dissolução da União Soviética).

Profissionais da imprensa precisam de uma credencial para poder trabalhar em Belarus. Autoridades recentemente recusaram a entrada de jornalistas estrangeiros que chegaram ao aeroporto de Minsk sem esse credenciamento.

Os protestos contra Lukashenko

A onda de manifestações antigoverno eclodiu após as eleições presidenciais de 9 de agosto, que garantiram oficialmente um sexto mandato consecutivo para Lukashenko, no poder desde 1994, por mais de 80% dos votos.

A oposição alega que a eleição foi fraudada e, em grandes protestos nas ruas do país, vem exigindo a renúncia do chefe de Estado e a realização de um novo pleito.

As autoridades bielorrussas têm reagido às manifestações com uma violenta repressão policial, que é condenada por líderes europeus e organizações de direitos humanos. Ao menos três pessoas morreram e centenas ficaram feridas em meio à repressão. Cerca de 7 mil foram detidos, e há relatos de atos brutais de violência contra os presos.

A União Europeia não reconheceu o resultado da eleição presidencial bielorrussa e já anunciou que está preparando sanções às autoridades do país do Leste Europeu.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua vez, afirmou que o governo em Moscou está pronto para ajudar o país vizinho se a situação de segurança "sair do controle".

Liberdade de imprensa em Belarus

Nesta semana, dezenas de jornalistas que cobriam os protestos foram detidos temporariamente pela polícia, incluindo uma correspondente da DW, tendo alguns deles relatado que tiveram fotos e vídeos deletados de seus equipamentos.

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) denunciou repetidamente que a imprensa está sendo silenciada no país europeu e se disse "altamente alarmada com as numerosas prisões de jornalistas em Belarus depois da eleição presidencial".

Segundo comunicado divulgado pela ONG em meados de agosto, profissionais de comunicação têm sido arbitrariamente detidos, espancados e presos por longos períodos. "Tal ataque à imprensa livre, particularmente em um país europeu, é absolutamente inaceitável", afirmou Michael Rediske, porta-voz do conselho da RSF.

Belarus ocupa a 153ª posição no ranking de liberdade de imprensa da Repórteres sem Fronteiras, entre 180 países. Lukashenko é conhecido como o "último ditador da Europa",

EK/afp/dpa/ots