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Bento 16 quer "diálogo das religiões"

gh20 de abril de 2005

Joseph Ratzinger inicia pontificado tentando acalmar seus críticos e promete dar continuidade aos entendimentos entre a Igreja Católica e outras confissões.

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Novo papa celebrou primeira missa na Capela SistinaFoto: AP

O papa Bento 16 iniciou seu pontificado nesta quarta-feira (20/04) com a promessa de "defender a unidade dos cristãos e prosseguir o diálogo das religiões", iniciado por seu antecessor, João Paulo 2º.

Em sua primeira missa como papa, na Capela Sistina, às 9h (horário europeu), o cardeal alemão anunciou no sermão em latim que dará continuidade ao legado de Karol Wojtyla "sem restrições à completa e visível reunificação dos cristãos. Quero permanecer em diálogo aberto com representantes de outras religiões", disse. Ele acrescentou que, em seu pontificado, pretende se deixar guiar pela mão do falecido papa João Paulo 2º.

Bento 16 afirmou que se sente "inquieto diante da grande responsabilidade do cargo" e pediu as orações e a cooperação do Colégio dos Cardeais presente à missa. Ele disse que a eleição o surpreendeu. "Na confusão de todas as minhas expectativas, a providência divina me chamou através da voz dos cardeais, a suceder esse grande papa [João Paulo 2º]."

Viagem à Colônia

Numa referência ao antecessor, declarou: "Sinto que ele me segura pela mão. Sinto que posso ver seus olhos sorridentes e ouvir sua voz me dizendo: 'Não tenha medo'". Segundo Bento 16, João Paulo 2º tornou a Igreja Católica mais "corajosa, livre e jovem". Ele confirmou também que comparecerá à 20ª Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, de 15 a 21 de agosto de 2005.

Bentou 16 também deu a entender que quer descentralizar mais o poder da Igreja, intensificando a cooperação com os bispos das igrejas locais. Ele reafirmou seu compromisso com as decisões do Concílio Vaticano II, com o qual João 23 tentou, nos anos ano 60 do século passado, uma cautelosa abertura e a modernização da Igreja.

O diálogo entre as religiões não ficará apenas na teoria, garantiu Joseph Ratzinger: "Não basta uma demonstração de boa vontade. Precisamos de gestos que toquem as almas e consciências, de estímulo mútuo à conversão interna, que é a base de qualquer progresso no caminho do ecumenismo".

Antes do sermão, o Sumo Pontífice comandou a procissão dos 114 cardeais que o elegeram à Capela Sistina, onde fez seu sermão em latim, conforme uma tradição que remonta ao período anterior ao Concílio Vaticano II. Para sua entronização festiva, no próximo domingo, são esperados mais de 500 mil fiéis na Praça de São Pedro.

"Inquisidor abrandado"

A eleição de Ratzinger alegrou a ala conservadora da Igreja Católica e decepcionou cristãos liberais e representantes de outras confissões. "Ratzinger é uma catástrofe para a América Latina, onde vive quase a metade dos 1,1 bilhão de católicos. Ele quer acabar com a Teologia da Libertação", declarou o sociólogo mexicano Bernardo Barranco.

Na Alemanha, as reações à eleição de Bento 16 oscilam entre o choque, um "certo orgulho" e a resignação. O vice-presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães, Walter Bayerlein, disse que "é impossível governar uma Igreja tão grande monocraticamente, a partir de Roma".

"O grande inquisidor abrandado pela idade" (Der Spiegel) anunciou a intenção de combater o que chama de "ditadura do relativismo". Em Berlim, líderes políticos nascidos da revolução estudantil de 1968 temem que Ratzinger favoreça o avanço de uma onda conservadora sobre o país.

O presidente da Confederação dos Bispos Alemães, Karl Lehmann, tenta dissipar esse medo. "Na Alemanha, sempre tivemos uma imagem muito negativa de Ratzinger. Eu o conheço desde o início do Concílio Vaticano II, em 1962, e fizemos muitas coisas juntos. Na Alemanha temos uma imagem muito restrita, mas isso não significa que tenhamos de estar sempre de acordo com todas as posições da Igreja", disse em Roma, nesta quarta-feira (20/04).