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Baladas de Berlim

27 de março de 2010

Jovens de todo o mundo amam a capital alemã, onde se encontram dez das 100 melhores casas noturnas. De aventura pós-Guerra Fria, a indústria das festas noturnas se tornou forte fator econômico.

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Toque russo no Club VoltageFoto: Voltage

Portão de Brandemburgo, Ilha dos Museus, Muro de Berlim: tradicionalmente estes eram os pontos altos para qualquer passeio turístico pela capital alemã. Mas, desde que a idade média dos visitantes passou a ser menor do que 40 anos de idade – e um terço está mesmo abaixo de 30 – esse status se alterou radicalmente.

As novas atrações berlinenses se chamam Berghain, Watergate, Bar 25, WMF ou Weekend. Nesses clubes, os mais bem pagos e famosos DJs ditam o tom e atraem, a cada fim de semana, cerca de 15 mil turistas de todo o mundo.

Trendreiseziel Deutschland Berlin Flash-Galerie Friedrichshain Club Berghain
Berghain Club por dentroFoto: picture-alliance / schroewig

Trocando o trabalho pela dança

Eles chegam à capital em voos baratos e, mal fazem o check out, já vão direto para a porta das mais disputadas danceterias. Estudantes, colegiais, jovens funcionários e trabalhadores enfrentam, bem comportados, filas de uma centena de metros, para depois poderem contar pelo mundo afora que estiveram em um dos clubes mais exclusivos que existem.

Por exemplo, no Berghain, uma antiga usina de calefação no bairro de Friedrichshain, em pleno leste da cidade. Onde há 20 anos se trabalhava duro, a ordem hoje é dançar até não poder mais ao som dos baixos estonteantes. Mais de dois terços dos frequentadores vêm de outros países da Europa, de Israel ou dos Estados Unidos.

Tesouros ocultos

Segundo uma revista de música britânica, dentre os 100 melhores clubes do mundo, dez se encontram na capital da Alemanha. Desde a virada do século 21, Berlim se internacionalizou crescentemente, em grande parte, graças a suas danceterias.

"É isso que leva a cidade adiante, é o que a modificou", assegura Tobias Rapp. Autor e encarregado de cultura pop da revista Der Spiegel, ele observou a ascensão de Berlim à metrópole da vida noturna desde o início, cerca de 20 anos atrás.

Após a queda do Muro, os jovens descobriram Berlim Oriental, abandonada e anárquica. Eles se aventuraram por porões escuros, ocuparam casas misteriosas, se apoderaram de monstruosas ruínas industriais. Bastava comprar umas caixas de cerveja, avisar os amigos e cair na festa.

Trendreiseziel Berlin Flash-Galerie Clubszene
Club Tresor instalou-se numa antiga caixa-forteFoto: picture-alliance/ ZB

Para tal, o que não faltava eram lugares espetaculares em Berlim, lembra Thomas Andrezak, aliás DJ Tanith, um dos pioneiros das festas daquele tempo. Chegado a Berlim em 1987, ele foi um dos que instalaram o Club Tresor na caixa-forte subterrânea da antiga loja de departamentos Wertheim, transformando-a num templo do tecno de fama mundial.

O tesouro "parecia que estava desocupado há anos", recorda o DJ. "Era assim uma espécie de país das aventuras. Chegamos lá e ninguém tinha a menor ideia do que nos esperava." Cartazes russos da década de 1960 estavam espalhados pelos cantos, pois as dependências haviam abrigado uma agência de turismo para diplomatas na ex-Alemanha comunista.

O charme do ilegal

A palavra de ordem na época era só uma: "ilegal". Ninguém ligava para estatutos, leis, licenças ou relações de propriedade. Mas ilegal não significava nada proibido, e sim a definição de uma estética própria.

Nos espaços ocupados, experimentavam-se novas ideias: artes plásticas, música, moda, design. Vivenciava-se uma simbiose, dando origem à vanguarda underground da década de 1990. O tecno era a trilha sonora da queda do Muro, que à noite enchia os clubes iluminados por flashes de estroboscópio e cheirando a suor.

O final da década, porém, anunciou o fim desses anos loucos. Os velhos edifícios foram vendidos a bom dinheiro pelos proprietários, perdendo parte de seu encanto selvagem.

Trendreiseziel Deutschland Berlin Flash-Galerie Kreuzberg Club SO36
SO 36 fica no bairro de KreuzbergFoto: Picture-Alliance / Tagesspiegel

Nova geografia virtual

No entanto, os departamentos de marketing das grandes empresas também entenderam que podiam fazer enormes lucros com o potencial criativo dos clubes berlinenses. Com um faturamento de 180 milhões de euros e mais de 10 mil pessoas envolvidas, a vida noturna berlinense tornou-se um fator de grande peso econômico. Creative industry é agora um conceito padrão nos folhetos turísticos sobre a imagem da cidade.

O banco Berliner Investitionsbank calcula, com base num crescimento constante entre 3% e 3,5%, que se criarão, nos próximos anos, cerca de 20 mil novos postos de trabalho no setor. Um crescimento que se dá apesar de constantes chicanas por parte dos funcionários públicos e políticos locais.

Assim é Berlim: antigamente, uma cidade ultra-alemã, hoje uma metrópole internacional. E esse turismo dos fanáticos da dança não é um mero fenômeno de massa: ele tem algo a ver com a busca do indivíduo por algo especial. Neste ponto, a capital alemã parece ser pioneira: nasce uma nova geografia turística europeia, em que cada um acha e pega para si aquilo que lhe parece atraente.

Autor: Christoph Richter / Augusto Valente
Revisão: Nádia Pontes