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Berlim: a terra de origem

3 de janeiro de 2013

"Ser judeu é algo que você carrega consigo", diz o berlinense Lutz Landsberg, que depois da reunificação alemã descobriu parentes pelo mundo.

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Foto: DW

"Meu pai evitava essas coisas de confraternização familiar. Ele pouco falava sobre isso conosco, para evitar que se repetisse aquilo que ele vivenciou", diz Lutz Landsberg. Ele vive em Berlim, é casado e tem três filhos adultos. Seu pai era um judeu alemão, que aos 13 anos foi levado para a Inglaterra no que chamavam na época de Kindertransport – transporte de crianças.

Sobre o tempo na Inglaterra, seu pai falou tão pouco quanto sobre a internação no Canadá, que viria a seguir. E só pouco antes de morrer é que ele revelou ter sido tradutor nos julgamentos de alguns dos principais criminosos de guerra nazistas em Nurembergue.

Sobre seu retorno à Alemanha, Rolf Landsberg contou ao filho que foi uma escolha consciente: "Ele decidiu-se pela República Democrática Alemã (RDA) porque acreditava que ali poderia surgir uma Alemanha na qual poderia viver livremente, onde poderia se desenvolver. Era uma tentativa de fazer algo diferente", diz o filho Lutz.

O retorno no pós-guerra

Esta era uma esperança que o pai, Rolf, dividia com muitos emigrantes que voltaram no pós-guerra: a de que a Alemanha Oriental pudesse seguir um novo caminho. Lutz Landsberg estudou Economia. Na RDA, quem escolhia estudar Economia não podia manter contato com o Ocidente. "Foi aí que percebi pela primeira vez o que estava acontecendo com esse país. Percebi que não podia viajar para conhecer a parte da família que tinha emigrado, não podia reencontrá-los", diz Lutz.

Mesmo assim, de vez em quando ele recebia visitas, seja o tio do Canadá ou a família Hamburger do Brasil. E a alegria em receber os familiares nem era tanta, pois na sequência era preciso justificar a visita perante as autoridades. "Eu tinha a impressão de estar sendo encostado na parede", lembra o berlinense, que depois da queda do Muro de Berlim passou a viajar muito e com prazer, junto de sua esposa. Os dois têm necessidade de conhecer o mundo e a família cheia de ramificações em diversos continentes, à qual se sentem afetuosamente ligados.

Princípio básico

"Quando você vê essas semelhanças que temos na família, as opiniões parecidas que dividimos, você vê que isso é o decisivo, na verdade. Essa ligação familiar. E não o fato de que tivemos, algum dia, uma origem judaica", fala Lutz. Na casa de seus pais, não havia comida kosher, nem se frequentava a sinagoga.

"Não tínhamos nenhuma crença", diz. "Mas ser judeu é algo que você carrega consigo", completa. Fora isso, não é de grande importância: esse sempre foi um princípio básico da família, conta Lutz, lembrando uma frase que sua esposa, Ester, disse ao visitar o Museu Judaico de Berlim: "No momento em que você separa o judaísmo, acentuando quem era judeu, você está segregando de novo", repete Lutz Landsberg. "E isso eu acho digno de nota", conclui.

Autora: Silke Bartlick (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer