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"Berlim Alexanderplatz" - in loco

(sm)17 de junho de 2005

Diretor Frank Castorf encena Berlim Alexanderplatz nas imediações do cenário original do romance de Alfred Döblin.

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Berlim e seus tipos, pelo filtro de Frank CastorfFoto: dpa

No leste, os barcos passando pelo Spree e, no oeste, umas pessoas jogando vôlei de praia em plena Schlossplatz. É nesta praça, diretamente ao lado da Alexanderplatz, que se localiza o Palácio da República, o polêmico edifício construído na época da Alemanha Oriental, a ser demolido e substituído pelo palácio barroco que anteriormente dominava o espaço ao lado da Catedral de Berlim, às portas da Ilha dos Museus e do bulevar Unter den Linden. O Palácio da República se transformou em parte da grande corrente urbana na noite desta quinta-feira (16/6). Pelo menos era este o desejo do diretor Frank Castorf, do Volksbühne.

Castorf zeigt Berlin Alexanderplatz im Palast der Republik
Diretor Frank CastorfFoto: dpa - Report

Cidade em construção

A luz de fim de tarde, vinda do bulevar Unter den Linden, reflete na fachada de vidro do Palácio da República, enquanto a história de Franz Biberkopf, protagonista do romance de Alfred Döblin, Berlim Alexanderplatz, se desdobra no palco. Para sua montagem deste clássico do modernismo alemão, Castorf não poderia ter escolhido cenário melhor. O cenógrafo Bert Neumann construiu uma paisagem de contêineres e tapumes, duplicando a desolação do palácio abandonado.

Biberkopf acabou de sair da cadeia. "Ele não é um homem comum"; ele é forte e quer levar uma vida honesta. Talvez seja justamente esta a fatalidade, pois "o mundo não é brincadeira". O ator Max Hopp, no papel de Biberkopf, dá murro em ponta de faca, mete a cabeça na parede. Em sua vã busca de emprego, dá com a cara na porta, se joga contra o tapume e grita: "Mercadores de escravos, eu faço qualquer coisa!". Enquanto isso, as cotações da bolsa de valores ficam passando por um luminoso.

Linguagens urbanas

Seguindo a intenção de Alfred Döblin, Castorf quer fazer o público sentir a "sinfonia da metrópole", mesmo que seja uma cacofonia. No palco, pescam-se fragmentos da realidade urbana, diálogos no mais incompreensível dialeto berlinense e na linguagem dos imigrantes do Leste Europeu.

O público sente a mesma coisa que Franz Biberkopf: até entende alguma coisa, mas não consegue descobrir o sentido de tudo isso. E assim Biberkopf tenta sua sorte no mundo dos malandros e alcoólatras, cafetões e prostitutas.

Berlim em extinção

A ação em palco é simultânea. "Acordem, desgraçados de todo o mundo!", grita um, enquanto outro discutem política na mesa de bar ou bebem até cair. O espectador é ao mesmo tempo voyeur e participante desta insólita excursão por Berlim Mitte, em torno da Alexanderplatz.

O público berlinense aplaudiu com entusiasmo a maratona de cinco horas de teatro. Não só por causa dos atores Max Hopp (Franz Biberkopf), Bibiana Beglau (Mieze) e Marc Hosemann (Reinhold). Talvez também pelo fato de a montagem de Berlim Alexanderplatz por Castorf, estreada originariamente em Zurique, em 2001, ter sido reapresentada in loco, além do mais num cenário urbano que está para desaparecer. O Palácio da República, fechado em 1990, será demolido a partir do fim do ano.