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Berlusconi tira a máscara

Angela Göpfert (av)21 de junho de 2008

Pouco após assumir o governo italiano pela terceira vez, político populista e magnata da mídia mostra a verdadeira cara. Retorno de sua política egomaníaca não prejudica apenas a imagem da Itália.

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Silvio BerlusconiFoto: AP

Não faz nem seis semanas desde que Silvio Berlusconi voltou a assumir o poder em Roma, e até há poucos dias reinava estranha calma em torno de sua pessoa. Mas agora o político populista colocou mãos à obra, proporcionando uma semana berlusconiana em grande estilo.

Na terça-feira (17/06), requereu a suspensão de uma juíza que lhe desagradava. Na quarta-feira, impôs no Senado uma emenda de lei para servir a seus interesses pessoais. Por fim, na quinta-feira insultou os comissários da União Européia.

Mal retornado ao governo, Berlusconi já se entrega a seus velhos hábitos. Isto fica especialmente claro na continuação de sua cruzada contra a Justiça italiana. "Começou de novo", geme o periódico La Stampa.

A lei certa para o crime certo

Assim, o primeiro-ministro anunciou que faria suspender uma juíza por abuso político do cargo. Na realidade, Nicoletta Gandus fez aquilo que praticamente nenhum colega seu ousaria na atual Itália: iniciar um processo por suborno contra Silvio Berlusconi.

A Promotoria Geral de Milão indeferiu o pedido do chefe de governo, porém este tem um "jeitinho" para tudo. Assim, fez simplesmente aprovar uma lei que permite congelar durante um ano processos referentes a crimes cometidos antes de 20 de junho de 2002 e que incorram em pena inferior a dez anos de prisão.

E – que surpresa! – os delitos de que Berlusconi é acusado preenchem exatamente estes prerrequisitos. Como em diversas outras ocasiões, durante seus mandatos anteriores, em que o político de direita modificou a legislação penal em benefício próprio.

Ingenuidade dos eleitores

Na realidade, a nova-velha concepção de Justiça berlusconiana não espanta quem observa há muitos anos a política da Itália. Este é o caso de Roman Maruhn, do Centro de Pesquisa Política Aplicada (CAP), de Munique.

Quem se espanta é a população italiana, explicou o especialista, numa entrevista à DW-WORLD.DE. Afinal, durante um bom tempo o magnata da mídia conseguiu varrer para debaixo do tapete os conflitos – como, por exemplo, suas contendas pessoais com a Justiça.

"Durante a campanha, Berlusconi se apresentou maduro e como uma espécie de Sarkozy [o presidente francês]. E a opinião pública italiana foi ingênua o suficiente para acreditar nele." A direita do premiê (Força Itália) baseou sua campanha justamente no slogan "Certeza da punição" – e venceu.

Mordaça para os comissários da UE

Italien Ministerpräsident Silvio Berlusconi zieht seine Hose hoch
Cinto apertado para os outrosFoto: picture-alliance/ dpa

Porém esta semana mostrou também para os políticos da União Européia de onde o vento soprará, a partir de agora. Com a frase "Não acho que a função dos comissários seja falar", Berlusconi praticamente condenou à mordaça as vozes críticas partindo da Comissão Européia.

Em parte devido a sua política em relação aos estrangeiros, o governo italiano está sob a mira de Bruxelas. Também o déficit das finanças públicas, os subsídios estatais para a semi-falida companhia aérea Alitalia e os problemas com o lixo de Nápoles são fonte de conflitos com a Comissão.

"Berlusconi não leva nem um pouco a sério seu dever de representar um papel exemplar, também no palco europeu", analisa o especialista em assuntos italianos Maruhn.

Tendências anti-européias

Mas o choque que se anuncia entre Roma e as autoridades européias é bem maior do que deixa vislumbrar esse punhado de insultos. Pois a Liga Norte de Umberto Bossi representa para os italianos avessos à UE um possante porta-voz dentro do governo.

Por isso, o deputado do Parlamento Europeu Mario Borghezio, filiado à Liga Norte, festejou abertamente o "não" dos irlandeses como a "morte" do Tratado Constitucional da UE.

Maruhn concede, no entanto, um mínimo de esperança: "A Liga sempre dá um pouco uma de louca. Porém a outra parte do governo sabe muito bem que não se pode governar sem a Europa".

Alarme econômico e financeiro

Não só na política européia, como na de economia e de finanças, a Itália precisa mais do que nunca de um chefe de governo eficiente e capacitado. A situação é grave, e o país está ameaçado de perder a conexão com as grandes economias da Europa.dd

A atual taxa de desemprego é a mais alta desde o segundo semestre de 2006, e os peritos vêem aqui um sinal de alerta. "A partir dos dados do mercado de trabalho podemos concluir que a economia [italiana] vai muito, muito mal", comenta Susana Garcia, do Deutsche Bank.

De fato, o prognóstico de crescimento para 2008 teve que ser corrigido para baixo, de 1,5% para 0,3% a 0,5%. A confederação empresarial Confindustria chega até a falar de crescimento zero. A dívida pública alcançou um novo recorde de 1,648 trilhão de euros, a inflação se aproxima da marca dos 4%.

Os problemas da Itália estão sobre a mesa. Porém, em vez de procurar a solução, Berlusconi desperdiça tempo com uma política de interesses nitidamente regidaa por motivos egoístas. Tempo este de que a Itália não dispõe.