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Bernie Sanders se diz "perturbado" com Trump

Jefferson Chase md
1 de junho de 2017

Em Berlim, senador que concorreu nas últimas primárias democratas à Casa Branca, divulga novo livro e faz duras críticas ao presidente americano e suas políticas "terríveis". Público predominantemente jovem aplaude.

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Senador americano Bernie Sanders
Senador americano Bernie Sanders promoveu livro "Our Revolution" na capital alemãFoto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld

"Basta seguir todos esses jovens", disse um passante ao ser questionado sobre como chegar ao auditório principal da Universidade Livre de Berlim, onde Bernie Sanders, ex-pré-candidato democrata à presidência americana, lançou a edição alemã de seu livro Our Revolution (Nossa revolução, em tradução livre), nesta quarta-feira (31/05).

O que esses jovens estavam esperando de um senhor de 75 anos que se autodenomina socialista, vindo de um dos estados mais obscuros nos EUA? "Estou aqui porque achei que a eleição americana foi muito interessante, e Bernie Sanders foi a única pessoa que tinha ideias radicalmente interessantes", afirma um estudante alemão.

"Na França, Bernie Sanders também é muito popular", completa uma universitária francesa, participante de um programa de intercâmbio. "Eu sou russa, e para mim é muito interessante ouvir um americano que se define como socialista. Isso não é muito comum", diz outra integrante do público.

O aplauso que o senador de Vermont recebeu ao entrar no salão rivalizava com qualquer evento de campanha da eleição do ano passado. E se o público estava esperando críticas mordazes a Donald Trump, ele teve exatamente o que queria.

Ao chegar ao palco, Sanders disse que falaria sobre "o que diabos está acontecendo nos Estados Unidos?" Ele afirmou que o relacionamento entre os EUA e a Europa tem sido essencial na prevenção de conflitos e para garantir o padrão de vida em ambos os lados do Atlântico. "Apesar do presidente Trump", isso é o que também acha a "esmagadora maioria" do povo americano, declarou.

Sanders disse que seria um "erro terrível" para os EUA se retirar do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, criticando Trump mais uma vez. "Não importa o que Trump acha ou não, há um movimento em todos os EUA para desativar a indústria de combustíveis fósseis", assegurou. "Não pensem que o povo dos Estados Unidos estão virando as costas para esta crise."

Pessoa na plateia em Berlim segura cartaz de campanha de Bernie Sanders à presidência dos EUA
Estudantes aplaudiram Sanders em Berlim como se ele ainda estivesse em campanha eleitoral pela presidênciaFoto: DW/J. Chase

"Desrespeito aos valores americanos" 

Na parte talvez mais esperada do discurso, Sanders manifestou expressamente sua opinião sobre Trump. "Eu não sou um grande fã", disse, provocando risos da plateia, que suspeitava o que vinha a seguir.

Ele começou criticando o orçamento proposto por Trump para os EUA, que segundo o senador, mostra como o presidente não tem "contato com a realidade". Sanders definiu o orçamento como o pior da história moderna dos EUA.

Sanders ressaltou que 23 milhões de americanos ficariam sem acesso aos serviços de saúde, se Trump seguir o caminho que propõe, e que milhares "morrerão desnecessariamente". "Por outro lado, a parcela mais rica, 1% dos americanos, terá 3 trilhões de dólares de cortes de impostos", lembrou.

O político americano afirmou estar "profundamente perturbado" sobre o "desrespeito de Trump à democracia e aos valores americanos tradicionais", como a liberdade de imprensa. Ele condenou a rotulagem de meios de comunicação americanos respeitáveis, como New York Times e Washington Post, como "produtores de notícias falsas" e afirmou que as investidas de Trump contra instituições jornalísticas e são um "grande ataque à democracia nos Estados Unidos".

Presidente americano Donald Trump
Presidente americano, Donald Trump, foi principal tema da palestra de Bernie Sanders em BerlimFoto: picture-alliance/AP Photo/S. Walsh

Sanders frisou que Trump, em contraste com os muitos outros conservadores com os quais ele lida, "frequentemente diz mentiras flagrantes, que não são apoiadas por fatos". Ele acusou Trump de ter apoiado tentativas republicanas para "suprimir o voto" em muitos estados.

"Oligarquia"

O senador se disse indignado com o que chamou de tentativas de Trump para dividir as pessoas por raça e religião. "É um escândalo que o presidente pareça estar mais à vontade com os autocratas do que com os líderes dos países democráticos", reclamou. "Muitos americanos, por exemplo, não entendem a aproximação de Trump com o presidente russo, Vladimir Putin, ou com o líder filipino, Rodrigo Duterte", acrescentou.

Sanders disse que Trump foi eleito porque os políticos em Washington não escutaram a "dor" de operários americanos que foram deixados para trás pela economia global. Ele criticou corporações que fizeram enormes lucros sem pagarem impostos e disse que é preciso haver esforços internacionais para combater o problema.

Sanders expressou preocupação com a possibilidade de os EUA estarem se transformando numa "forma oligárquica de sociedade, em que um pequeno número de bilionários controla nossa economia, assim como a nossa vida política".

Ele disse que o 1% mais rico da população mundial tem mais dinheiro que os outros 99%, e que as oito pessoas mais ricas têm mais dinheiro do que a metade mais pobre da humanidade. "Nosso trabalho é não aceitar isso", ressaltou Sanders, provocando aplausos. "Isso é simplesmente inaceitável."