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Biden: "Esta é a década para agir contra a crise climática"

22 de abril de 2021

Em discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima, presidente americano anuncia que nova meta dos EUA é reduzir pela metade as emissões até 2030. Custo da inação contra mudanças climáticas está aumentando, alerta.

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Biden, de terno escuro e gravata vermelha, fala ao microfone. Ao fundo, uma bandeira dos EUA.
Biden destacou que os EUA são responsáveis por cerca de 15% das emissões em todo o mundoFoto: Evan Vucci/AP/picture alliance

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, abriu a Cúpula de Líderes sobre o Clima, nesta quinta-feira (22/04), afirmando que os Estados Unidos "não estão esperando" para liderar uma questão de "imperativo moral e econômico", ao se referir às mudanças climáticas que estão acelerando o aquecimento global. 

"Os sinais são inconfundíveis. A ciência é inegável. O custo da inação continua aumentando. Os Estados Unidos não estão esperando para agir", disse Biden no discurso de abertura do evento convocado pela Casa Branca, que ocorre nesta quinta e sexta-feira, de forma virtual.

Biden também anunciou oficialmente que a nova meta dos Estados Unidos é reduzir em 50% a 52% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com os níveis de 2005, e zerar as emissões até 2050. Atualmente, os EUA são responsáveis por cerca de 15% das emissões em todo o mundo.

"Esta é a década em que precisamos tomar decisões que evitarão as piores consequências da crise climática", disse Biden.

O democrata afirmou esperar que o novo objetivo americano incentive outros líderes a estabelecer metas mais ambiciosas de corte de emissões. Segundo cientistas, a humanidade precisa reduzi-las para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 ºC e, assim, evitar catástrofes.

Biden aumentou que um aumento da temperatura média da Terra acima de 1,5 ºC significaria "incêndios mais frequentes e intensos, inundações, secas, ondas de calor e furacões - devastando comunidades, vidas e meios de subsistência".

"Nenhuma nação pode resolver esta crise por conta própria, e esta cúpula é um passo no caminho para um futuro seguro, próspero e sustentável", escreveu Biden no Twitter minutos antes do início do evento.

Na abertura da cúpula, a cice-Presidente Kamala Harris acrescentou: "Como comunidade global, é necessário que atuemos rapidamente e juntos para enfrentar esta crise. Isto exigirá inovação e colaboração em todo o mundo."

Guinada sob Biden

A nova meta dos Estados Unidos é quase o dobro da anterior, que havia sido fixada pelo ex-presidente Barack Obama. Em 2015, o país tinha se comprometido a cortar as emissões entre 26% e 28%.

No entanto, durante o governo do republicano Donald Trump, o Estados Unidos se distanciaram de qualquer medida que ajudasse a frear o aquecimento global e o país chegou a sair do Acordo de Paris.

A guinada veio com a posse de Biden, em 20 de janeiro deste ano. Como um de seus primeiros atos como presidente, Biden colocou os EUA de volta no Acordo de Paris e, apenas três meses após sua posse, convocou 40 líderes mundiais para debater o clima, em um esforço para que os EUA voltem a liderar a luta contra a crise climática.

Além da União Europeia foram convidados representantes de Brasil, China, Índia, Canadá, Rússia, Reino Unido e África do Sul, entre outros.

Metas mais ousadas

Ao se pronunciar na cúpula virtual, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a próxima década deve ser uma década de transformação, e outros líderes mundiais fizeram eco à mensagem. Vários líderes enfatizaram a necessidade de os países ricos cumprirem suas promessas de ajudar os países mais pobres a se adaptarem às mudanças climáticas.

Além dos Estados Unidos, outros países também aumentaram suas promessas. O Japão anunciou planos de cortar as emissões em 46% até 2030, em comparação ao  níveis de 2013. Para o Canadá, a meta é reduzir as emissões de 40% a 45% até 2030, em comparação com os níveis de 2005.

Na terça-feira, o Reino Unido estabeleceu a meta mais ambiciosa do mundo com uma lei que obriga o país a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 78% até 2035, em relação aos níveis de 1990. 

"Se realmente queremos conter a mudança climática, então este deve ser o ano em que levamos isso a sério. Porque os anos 2020 serão lembrados ou como a década em que os líderes mundiais se uniram para virar o jogo, ou como um fracasso", afirmou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

Na quarta-feira, às vésperas da cúpula, a União Europeia (UE) chegou a um acordo para reduzir em pelo menos 55% as emissões até 2030, em comparação com valores de 1990.

China promete neutralidade de carbono até 2060

O presidente da China, Xi Jinping, reiterou a meta de atingir a neutralidade de carbono até 2060. Em seu discurso, ele defendeu que o combate às mudanças climáticas siga princípios do "multilateralismo e do direito internacional" e que os países assumam "responsabilidades diferenciadas", conforme suas situações econômicas.

Para ele, os países desenvolvidos devem "aumentar as suas ambições climáticas e ajudar os países em desenvolvimento a acelerar as suas transições para o desenvolvimento verde e de baixo carbono".

Xi também afirmou que a China  quer "trabalhar em conjunto com a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos". "Estou confiante de que, enquanto nos unirmos em nossos propósitos e iniciativas, triunfaremos diante dos desafios globais do clima e do meio ambiente", disse.

O presidente chinês também prometeu que seu governo "limitará estritamente" o aumento do consumo de carvão até 2025 e o "reduzirá" nos cinco anos seguintes.

A China é de longe o maior produtor de CO2 do mundo e, ao lado dos EUA, emite cerca de metade da poluição responsável pelas mudanças climáticas.

Merkel: "Não há dúvidas" de que mundo precisa dos EUA

A chanceler federal, Angela Merkel, saudou o anúncio feito pelos Estados Unidos. Para ela, a nova meta americana é um compromisso claro na luta contra o aquecimento global e um sinal importante de que os EUA estão de volta à mesa de negociações para enfrentar a questão climática.

Merkel também destacou que "não há dúvidas" de que o mundo precisa da contribuição dos EUA para poder frear o aquecimento global.

A Alemanha já reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 40%, em comparação com os níveis de 1990, afirmou a chanceler federal, apontando que o país continuará nesse caminho para alcançar a meta estabelecida pela União Europeia, de 55% até 2030.

Para chegar a esse objetivo, medidas importantes já foram tomadas, destacou a líder alemã. Como exemplo, ela citou a taxação do CO2 introduzida em 1º de janeiro de 2021 no setor de transportes e aquecimento.Além disso, a eliminação do uso de carvão está prevista para ser alcançada até 2038. A Alemanha também continua investindo em energias renováveis. No ano passado, 46% da eletricidade foi obtida de fontes de energia limpa, apontou Merkel.

Bolsonaro promete zerar desmatamento ilegal

Ao discursar na cúpula, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro - isolado no cenário internacional por causa da deterioração da imagem ambiental do Brasil e com a saída de cena de aliados como Trump -, adotou um tom defensivo, mas um pouco mais conciliador do que em seus discursos anteriores para plateias no exterior.

Bolsonaro afirmou que Brasil está na "vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global", anunciou a meta de tornar a economia brasileira neutra até 2050 – uma antecipação em 10 anos em relação à meta brasileira anterior – e prometeu zerar o desmatamento ilegal até 2030, uma promessa que já havia sido feita por Dilma Rousseff em 2015. 

Bolsonaro afirmou de modo vago que é "preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação". A fala seguiu a linha de planos do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que cobra recursos internacionais em troca de preservar a Amazônia. O presidente, no entanto, evitou mencionar valores.

le/lf (AP, Reuters, AFP, DPA, DW, ots)