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Bienal de Berlim

20 de junho de 2010

Em sua sexta edição, mostra de arte contemporânea em Berlim contribui para revitalizar o bairro Kreuzberg. Predomínio de artistas jovens e obras de teor documental marcam a exposição.

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Curadoria Kathrin Rhomberg aposta em interação com a cidade

Klaus Biesenbach, diretor do renomado MoMA P.S.1, em Nova York, é um dos curadores alemães mais reconhecidos internacionalmente. Criador da Bienal de Berlim em 1996, Biesenbach, hoje as 44 anos, teve a perspicácia necessária, ainda nos anos 1990, de ancorar na metrópole alemã uma mostra que marca as tendências da arte contemporânea internacional.

Ou seja, diante disso, não surpreende que a Bienal de Berlim (aberta até o próximo 8 de agosto) desperte hoje, 12 anos mais tarde, interesse do circuito internacional de artes. "A mostra irradia uma enorme força e é o início de muitas carreiras de artistas", diz Biesenbach.

Chamar a atenção

Kathrin Rhomberg, natural de Viena e atual curadora da Bienal, optou por transportar a mostra da área chique e cara que é hoje Berlim-Mitte para o bairro Kreuzberg. A região, argumenta Rhomberg, é mais interessante por agregar desde os anos 1950 um alto contingente de migrantes e trabalhadores.

As ondas subsequentes dessa migração estiveram continuamente visíveis, coexistindo de forma interessante com a chamada "sociedade majoritária", observa Rhomberg. "Sendo assim, Kreuzberg é um bairro que define as sociedades europeias do futuro", diz a curadora.

A mistura típica do bairro, de imigrantes turcos, jovens de esquerda, estudantes, profissionais liberais e desempregados, é tão significativa para a Bienal que Rhomberg colocou a mostra deste ano sob o lema "O que espera lá fora".

Com isso, a curadora quer mostrar como a arte atual reage ao tempo presente com todas as suas falhas, atentados terroristas, migração, guerra, crises financeiras e catástrofes ambientais. Uma das melhores provas dessa tendência é o trabalho do jovem kosovar Petrit Halilaj, que posicionou no amplo salão de obras da Bienal o esqueleto, em tamanho natural, da casa que um dia sua família construiu no Kosovo.

Biennale Berlin Flash-Galerie
Petrit Halilaj: tematizando a história do KosovoFoto: Biennale Berlin / Petrit Halilaj

Esse é, diz Rhomberg, um projeto para o futuro, já que a antiga casa da família do artista foi destruída durante a guerra na Iugoslávia, "com todos os traumas e histórias de migração a que se tem direito. Halilaj vai construir agora em Pristina uma casa 'sem história', voltada para o futuro. Ele trouxe para Berlim o revestimento de madeira e constrói aqui o espelho invertido da casa de sua família", explica a curadora.

Novas linhas de visão

Com sua instalação, Halilaj traz também a Berlim a realidade kosovar, presente há muito no dia-a-dia da cidade, embora pouco visível. É possível que nos bancos da praça Oranienplatz, no bairro de Kreuzberg, esteja sentado, entre senhoras turcas, estudantes e desempregados, também um refugiado kosovar, admirado que as pessoas tenham passado a conversar entre si.

Ele provavelmente não sabe que, sem aviso prévio, Ron Tran, artista natural de Saigon (a cidade mais populosa do Vietnã), reposicionou os bancos da praça, de forma que eles fiquem mais próximos e as pessoas possam se olhar diretamente nos olhos.

Biennale Berlin Flash-Galerie
Ron Tran: intervindo no espaço urbanoFoto: Biennale Berlin / Ron Tran

Não importa se isso é arte ou não, diz Kathrin Rhomberg, mas sim que um artista, através de seus meios, interferiu simplesmente no ambiente, provocando mudanças no dia-a-dia do bairro, a partir das quais podem talvez surgir histórias completamente novas.

Arte e vida

A Bienal apresenta este ano trabalhos de 43 artistas oriundos de diversos países, em sua maioria jovens. De viés predominantemente documental, essas obras, em grande parte, refletem a realidade através de fotos, vídeos e instalações: jovens excluídos da periferia de Paris, corretores ruidosos da bolsa de valores em Chicago, soldados israelenses provocadores ou mulheres turcas independentes, por exemplo.

A arte mantém o controle sobre a realidade, transformando-a em espaço artístico. A curadora faz questão de conduzir os visitantes da Bienal a um bar jogado às traças, a instalações de fábrica abandonadas, à casa de um artista e a uma antiga loja de departamentos vazia. Nesta, os visitantes caminham sobre tapetes usados, colocados pelo artista Hans Schabus sobre o chão nu de concreto, e podem observar através das vitrines limpíssimas as pessoas desfrutando os dias de verão na Oranienplatz.

Autorin: Silke Bartlick (sv)
Revisão: Augusto Valente