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Biodiversidade musical no rádio

av7 de agosto de 2003

Ex-ministro sugere combater hegemonia do idioma inglês nas rádios da Alemanha com remédio já aplicado no Brasil na década de 70: uma quota obrigatória de música nacional. E reativa assim uma velha polêmica.

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Julian Nida-Rümelin bate-se pela produção alemãFoto: AP

O ex-ministro alemão da Cultura Julian Nida-Rümelin manifestou-se a favor de uma quota obrigatória de música nacional nas rádios alemãs. Em artigo para o jornal Süddeutsche Zeitung, o político classifica o debate sobre este tema como “cada vez mais grotesco”. Ele começa por enumerar os argumentos negativos:

“Quem é a favor de uma quota de música germanófona...
... quer mais música ‘brega’ e folclore nas rádios;
... é contra o pop e o rock, geralmente em indioma inglês;
... quer obrigar a execução de música cuja qualidade não basta para que alcance sucesso no mercado;
E o preconceito possivelmente mais efetivo de todos: quem é a favor de uma quota de música germanófona demonstra mentalidade nacionalista.”

Nida-Rümelin contra-argumenta: a presença da música pop e rock alemã entre as 50 mais tocadas no rádio gravita na casa de 2%. E os títulos divulgados são sempre os mesmos: se antes eram cerca de um milhão, hoje estão em torno de apenas mil. Ele classifica o fenômeno de “uma dramática perda de diversidade musical de espécies”, ainda pior do que a biológica. Pois no fim sobrará apenas uma espécie: anglófona, musicalmente simples e portanto apropriada para o mercado global.

Mais do que uma questão de nacionalismo

Após assumir, de 2000 a 2002, a pasta da Cultura, Julian Nida-Rümelin leciona atualmente Filosofia na Universidade de Göttingen. Ele se pronunciou publicamente pela primeira vez por esta causa durante o festival de música PopKomm 2002, em Colônia.

Porém seis anos antes, a Associação dos Músicos Alemães Pop e de Rock já exigira a instituição de uma quota de música nacional na programação radiofônica. Apesar de representada por figuras como Udo Lindenberg e Konstantin Wecker, e portanto acima de qualquer suspeita do ponto de vista político, a iniciativa suscitou polêmica e acusações de nacionalismo. Até mesmo a indústria fonográfica alemã foi contra a investida.

Para o ex-ministro, lutar pela quota é justamente o contrário de um nacionalismo musical tacanho: trata-se antes de um esforço pela “multiplicidade cultural e pela criatividade artística”. Na Alemanha não se ouve apenas cada vez menos música alemã, mas também francesa, espanhola e italiana, sem falar na russa ou polonesa.

O tiro que sai pela culatra

Nesse ínterim, a maior parte do setor fonográfico já reconheceu que existe também interesse comercial na manutenção da variedade cultural. Pois a negligência dos novos talentos e a esmagadora dominância de uns poucos astros internacionais foram causa de enormes prejuízos para a indústria da música, comenta o ministro. Uma exceção seria a França, poupada da retração generalizada do mercado, exatamente por apoiar os artistas nacionais.

Lá vigora uma “quota combinada de idioma e novidade”, compatível com a legislação européia: 40% das canções irradiadas são francófonas e, destas, pelo menos 20% têm que ser recentes. Segundo o político alemão: “Um belo exemplo de que desregulação não é sempre economicamente interessante, de que o livre mercado por vezes destrói o próprio fundamento de seu êxito econômico. Neste caso, o interesse cultural”.