1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Prêmio Nobel Alternativo

30 de setembro de 2010

Ele é austríaco, mas foi reconhecido por sua atuação no Brasil. O bispo Erwin Kräutler defende populações indígenas e convive com ameaças de morte. Ele divide o prêmio com projetos do Nepal, Nigéria e Israel.

https://p.dw.com/p/PQqb
Erwin Kräutler, bispo do XinguFoto: Picture alliance / dpa

Os ganhadores do Prêmio Nobel Alternativo de 2010 indicam o caminho para uma mudança de postura: todos os quatro projetos escolhidos promovem iniciativas que não esperaram apoio financeiro ou político para entrar em ação.

Todos os anos, o Right Livelihood Awards (o prêmio leva o nome da fundação que o concede) busca no mundo todo exemplos que oferecem soluções práticas e exemplares para os principais desafios da atualidade. Entre eles, está o bispo austríaco Erwin Kräutler, reconhecido por sua atuação no Brasil.

Kräutler, de 71 anos, foi premiado "pelo trabalho de toda sua vida, dedicado aos direitos humanos e ambientalistas das populações indígenas, e por seu incansável esforço para salvar a floresta amazônica da destruição", conforme justificaram os jurados. Com os outros escolhidos – Nimmo Bassey, Shrikrishna Upadhyay e uma organização médica palestino-israelense –, ele divide um prêmio de 200 mil euros, que será entregue em Estocolmo em 6 de dezembro próximo.

O único europeu

O bispo do Xingu nasceu na Áustria, é cidadão brasileiro, e desde meados da década de 1960 atua na região norte do Brasil. O presidente do Conselho Missionário Indígena da Igreja Católica no Brasil tornou-se um dos mais importantes defensores dos índios ao longo de mais de três décadas.

Mas foi a sua ferrenha oposição à construção da usina de Belo Monte que chamou a atenção da comunidade internacional. O seu posicionamento a favor das comunidades locais rendeu a Erwin Kräutler ameaças de morte e, desde 2006, o bispo vive sob proteção policial. A sua insistência por uma investigação completa sobre o assassinato da irmã ativista Dorothy Stang também o colocou na mira dos criminosos.

"Estou convencido de que outro mundo é possível, no qual os indígenas e os pobres possam finalmente viver com dignidade e paz", ressalta Kräutler diante das dificuldades que encontra para atuar.

Uma voz na África

Öl Bohrplattform im Niger Delta
Plataforma da Shell no delta do NígerFoto: AP

Na Nigéria, Nimmo Bassey tenta mobilizar os cidadãos para lutar contra as grandes corporações petrolíferas e evitar a devastação ambiental. O diretor executivo da Environmental Rights Action no país africano e membro da Friends of the Earth International diz que cerca de 300 vazamentos são registrados anualmente no delta do Níger – foram 3.200 entre 2006 e 2010, segundo o governo nigeriano.

"Vemos os esforços feitos nos EUA para parar o vazamento de petróleo. Mas, na Nigéria, as empresas ignoram os vazamentos, os escondem e destroem a vida de pessoas e o meio ambiente. A mancha no Golfo pode ser vista como metáfora do que acontece diariamente nos campos de petróleo na Nigéria e em outras partes da África", exemplificou Bassey.

Contra a pobreza no Nepal

Shrikrishna Upadhyay nasceu no Nepal, educou-se nos Estados Unidos e decidiu aplicar seus conhecimentos junto à população rural pobre do seu país. Ele criou uma fundação de apoio aos produtores carentes (Sapros) e, desde 1991, trabalha com o conceito de autossuficiência nas regiões mais pobres do Nepal.

Entre os atos da Sapros que foram decisivos para a conquista do prêmio estão a formação de mais de 2 mil grupos de crédito, 273 cooperativas com 1,3 milhão de membros – 40% são mulheres –, além do fato de a organização ter conseguido atuar mesmo ao longo dos anos de instabilidade política vividos no Nepal.

Nepal Landarbeiter
Pequenos produtores rurais recebem ajuda no NepalFoto: Reese Erlich

Saúde em terras ocupadas

Fundada pelo médico Ruchama Marton em plena Intifada, em 1988, a PHRI é uma organização de médicos que reúne profissionais israelenses e palestinos. A entidade defende "que cada pessoa tem o direito à saúde no sentido mais amplo, segundo definido pelos princípios de direitos humanos, justiça social e ética médica".

A PHRI oferece diversos tipos de atendimento, inclusive a prisioneiros e a cidadãos desprovidos de documentos legais, Baseada em Israel, a organização também atua em territórios palestinos ocupados, e unidades móveis atendem pacientes na Faixa de Gaza.

Outros brasileiros

O Right Livelihood Awards foi criado em 1980 e, desde então, ficou conhecido como Prêmio Nobel Alternativo. Já são 141 ganhadores, dentre eles o brasileiro Chico Whitaker Ferreira, que foi nomeado em 2006 pelo seu trabalho a favor da democracia no Brasil e fundação do Fórum Social Mundial.

Leonardo Boff também conquistou o prêmio, em 2001. Dez anos antes havia sido a vez do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O primeiro brasileiro a ganhar o Nobel Alternativo foi José Lutzenberger, em 1988.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer