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Pedido a Dilma

10 de janeiro de 2012

Yoani Sánchez garante que único país em que quer viver é Cuba. Mesmo assim, Havana não lhe dá permissão para viajar ao Brasil, que a convidou para estreia de documentário sobre a liberdade de imprensa em Honduras e Cuba.

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Nos últimos quatro anos, governo cubano negou por 18 vezes permissão de saída a Yoani Sánchez
Yoani Sánchez teve negados vários pedidos para sair de CubaFoto: picture-alliance/ dpa

No próximo dia 10 de fevereiro, estreia na cidade de Jequié, na Bahia, o documentário Conexão Cuba/Honduras, realizado pelo brasileiro Dado Galvão. Uma das protagonistas do documentário sobre a situação da liberdade de imprensa em Honduras e Cuba é a blogueira cubana Yoani Sánchez, que com seu blog Generación Y tornou-se uma das vozes de maior reconhecimento internacional em sua crítica ao governo cubano.

Yoani Sánchez foi ganhadora do concurso internacional de blogs da Deutsche Welle The BOBs em 2008, tendo sido considerada pela revista Times no mesmo ano uma das 100 personalidades mais influentes do planeta.

Ela foi convidada a participar do lançamento do documentário na Bahia, mas o governo em Havana lhe nega a permissão de sair de Cuba. Um verdadeiro movimento de apoio a Yoani se forma agora nas redes sociais do Brasil. Através de uma petição online, assinaturas de apoio estão sendo recolhidas através do Facebook.

A própria blogueira enviou uma mensagem de vídeo através da internet, pedindo apoio à presidente Dilma Rousseff para que intervenha junto ao governo cubano por sua permissão de saída. Um dos que mais se engajam pela causa de Sánchez é o senador Eduardo Suplicy, que enviou carta ao embaixador de Cuba no Brasil, solicitando a autorização da visita. Segundo Suplicy, o próprio ex-presidente Lula da Silva sugeriu a Yoani Sánchez que pedisse apoio a Dilma Rousseff, que tem viagem planejada para Cuba no final de janeiro.

Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle, Yoani Sánchez falou sobre seu desejo de visitar o Brasil e sobre os motivos que a impedem de viajar.

Deutsche Welle: Fale sobre esta petição que está fazendo à presidente Dilma Rousseff para que sua visita ao Brasil seja autorizada. Por que você quer vir ao Brasil?

Yoani Sánchez: A ideia de viajar ao Brasil é algo que venho levando comigo há quase dois anos. O motivo fundamental é participar da apresentação de um documentário feito por um realizador brasileiro, Dado Galvão. O documentário aborda o jornalismo em Cuba e em Honduras. Esse documentário será apresentado em 10 de fevereiro na cidade de Jequié, na Bahia.

Qual sua participação nesse documentário?

Eu sou uma das protagonistas desse documentário, que inclui testemunhos de vários jornalistas de Cuba e Honduras. E eu fui uma das pessoas que Dado convidou para que desse meu testemunho sobre minha experiência como jornalista.

Esta não é a primeira vez que as autoridades cubanas lhe negam um visto para sair de Cuba. Por que não querem permitir sua saída?

Há muitos motivos para que as autoridades neguem a permissão de saída a um cubano. Por exemplo, se é um médico, ele muito provavelmente não poderá viajar para fora do país, o mesmo acontece com um ex-militar ou alguém que saiba segredos de Estado. E há um grupo que somos nós, os críticos, os inconformados, os jornalistas independentes, cujo castigo por se expressar livremente ou ter uma posição política diferente é precisamente impedi-los de sair do país.

As autoridades têm medo do que possam vir a falar?

Exatamente, em Cuba muitas pessoas podem utilizar o silêncio como proteção, e se rompem essa fórmula de se calar podem ser penalizadas de muitas maneiras, uma das maneiras de penalizar é impedir que saiam do país. Agora, esta não é a explicação que é dada de forma oficial. Em todas as vezes que pedi permissão para viajar para fora de Cuba, que somam 18 ocasiões nos últimos quatro anos, sempre me respondem de forma muito automática, eles dizem: Você não está autorizada a viajar. Mas nunca explicam por quê.

Claro, como eu não sou médica, não tenho segredos militares e não estou sendo processada legalmente, a única explicação plausível é que não me deixam sair devido aos meus escritos, ao meu blog, por minhas ideias, pela minha maneira crítica com a qual vejo o governo cubano.

As autoridades sabem que você quer voltar, caso venha a viajar para fora de Cuba?

Sim, exatamente. Eu não quero viver em outro lugar que não seja Cuba. Quero retornar imediatamente após a viagem. Pretendo ficar cerca de duas semanas no Brasil, fazer uma pequena viagem por países latino-americanos e, talvez, pela Europa e EUA, e regressar para minha família e meu país.

Você acredita que Dilma possa intervir junto ao governo cubano para que você obtenha esta permissão de saída?

Dilma é uma mulher que sofreu na própria carne o autoritarismo, a repressão, a desproporção de forças entre um governo autoritário e uma cidadã. Então penso que ela tem a sensibilidade, a capacidade de compreender minha situação. Além disso, Dilma Rousseff é uma pessoa escutada pelas autoridades cubanas, ou seja, o governo de Raúl Castro escuta o governo do Brasil. E isso me dá alguma esperança.

Você acha que algo como uma Primavera Árabe possa vir a acontecer em Cuba?

No momento, eu não creio que seja possível. Porque tudo está muito desconectado, em estado ainda muito embrionário. Por outro lado, é muito difícil que se possa cumprir o papel das novas tecnologias aqui, como foi na África do Norte. É preciso lembrar que vivemos num país com uma das menores conectividades de internet do planeta. E isso dificulta muito a possibilidade de nos convocar, ou seja, os meios nacionais estão em mãos de monopólios estatais e é muito difícil fazer com que o outro saiba que pensamos igual a eles, e convocá-los para uma manifestação numa praça.

Você quer mandar algum recado aos brasileiros?

Gostaria muitíssimo de conhecer a realidade brasileira e gostaria de conhecer todas as pessoas que estão fazendo algo para que eu possa tomar um avião e ir à Bahia, porque há muitas cidadãos que estão utilizando a rede social para denunciar o que está acontecendo comigo. Também sei que o senador Eduardo Suplicy tem feito diversos movimentos, o próprio documentarista também, e muitas assinaturas estão sendo reunidas no Facebook. Se for pela solidariedade cidadã, sei que vou conseguir.

Entrevista: Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer