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Bombas brasileiras foram usadas na guerra do Iêmen, diz ONG

23 de dezembro de 2016

Human Rights Watch encontrou resquícios de munições do tipo cluster produzidas pela empresa Avibras, após ataque perpetrado em dezembro deste ano na cidade de Saada. Explosões mataram dois civis e deixaram seis feridos.

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Jemen Aden Selbstmordanschlag auf Soldaten
Desde março de 2015, a guerra no Iêmen já matou 10 mil pessoas.Foto: Getty Images/AFP/S. Al-Obeidi

De acordo com relatório divulgado nesta sexta-feira (23/12) pela organização humanitária Human Rights Watch (HRW), bombas de fragmentação fabricadas pela empresa brasileira Avibras Indústria Aeroespacial S/A foram usadas em um ataque perpetrado no último dia 6 de dezembro, no Iêmen. Segundo a organização, as explosões causaram a morte de dois civis e deixaram seis feridos, incluindo uma criança.

O ataque ocorreu próximo a duas escolas localizadas na cidade de Saada, no norte do país. A HRW afirma ter encontrado no local resquícios de foguetes do tipo "astros", fabricados pela Avibras, cada um com capacidade para carregar 65 bombas de fragmentação (conhecidas como "cluster") em seu interior.

A organização acredita que as bombas foram lançadas por membros da coalizão liderada pela Arábia Saudita, que desde março de 2015 vem conduzindo operações militares no Iêmen contra as milícias xiitas Houthi e forças leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, que querem retomar o comando do país. Desde o início da guerra, mais de 10 mil pessoas já morreram no Iêmen.

Este ataque de 6 de dezembro em Saada ocorreu um dia depois de a Assembleia Geral da ONU aprovar uma resolução reforçando a proibição de munições fragmentadas. As bombas de fragmentação foram banidas pela comunidade internacional em 2008, mas nem todos os países assinaram o tratado, como Brasil, Estados Unidos, Iêmen e Arábia Saudita. 

Lançado por foguetes e aviões, este tipo de munição é considerado bastante perigoso, pois contém múltiplos explosivos menores em seu interior, que provocam uma série de explosões que se espalham por uma área de grande alcance. Além disso, como nem todos esses explosivos menores são detonados imediatamente, as submunições carregadas tornam-as verdadeiras minas terrestres.

"O Brasil precisa saber que seus mísseis estão sendo usados em ataques ilegais na guerra do Iêmen", afirmou o  diretor da seção de armas da Human Rights Watch, Steve Goose. "Munições de fragmentação são proibidas e não deveriam ser usadas em nenhuma circunstância, por causa do dano que causam a civis. O Brasil deveria se comprometer imediatamente com a suspensão da produção e exportação de bombas de fragmentação." 

Segundo as organizações HRW e Anistia Internacional, essa não é a primeira vez que munições fabricadas no Brasil são usadas na guerra do Iêmen. Pesquisadores da Anistia International já haviam encontrado resquícios de munições cluster do tipo "astros", após um ataque perpetrado em outubro de 2015, em Saada, que deixou quatro civis feridos.

Até o momento, a HRW identificou 17 explosões com munições "cluster" no Iêmen. No total, elas resultaram na morte de pelo menos 21 civis.

NT/ots