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Brasil encerra missão de paz no Haiti

1 de setembro de 2017

Tropas brasileiras iniciam saída do país caribenho, após 13 anos liderando a Minustah, única operação da ONU comandada sempre por um único país. Polícia Nacional Haitiana é um dos principais legados, aponta general.

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Militares brasileiros em Porto Príncipe, em março de 2017
Militares brasileiros em Porto Príncipe: no total, Brasil enviou 37,5 mil homens ao país caribenhoFoto: Getty Images/AFP/H. Retamal

O Brasil encerra nesta sexta-feira (1º/09) sua presença no Haiti após 13 anos liderando militarmente a Missão das Nações Unidas para a Manutenção no Haiti (Minustah), iniciada em 2004, após um golpe que provocou a renúncia do então presidente Jean-Bertrand Aristide.

Na noite de quinta-feira, uma cerimônia na capital Porto Príncipe marcou o início oficial da desmobilização do batalhão brasileiro. O evento contou com a presença do ministro da Defesa, Raul Jungmann, que viajou ao Haiti na companhia de uma comitiva formada por militares e civis. 

Jungman afirmou que o Brasil recebeu convite para participar de outras dez missões de paz da ONU e que "a melhor avaliação" seria para a República Centro-Africana, onde há um grande número de refugiados.

"À meia-noite do dia 1º de setembro, encerraremos oficialmente as operações. Isso quer dizer que, a partir de 2 de setembro, nenhum soldado brasileiro sairá às ruas armado para realizar patrulha ou qualquer operação", disse o comandante da missão, general Ajax Porto Pinheiro, em entrevista à rádio Verde Oliva, do Exército brasileiro.

O cronograma de desmobilização prevê que 85% dos 981 militares brasileiros no país sejam trazidos de volta ao Brasil até 15 de setembro. Os outros 152 soldados e oficiais ficarão encarregados de proteger as instalações brasileiras e cuidar das últimas medidas administrativas necessárias para a repatriação de todo o material e equipamento brasileiro até 15 de outubro, quando também deixarão aquele que é considerado o país mais pobre das Américas e um dos mais carentes do mundo. 

Soldado brasileiro diante da catedral nacional, em Porto Príncipe, danificada pelo terremoto de 2010
Soldado brasileiro diante da catedral nacional, em Porto Príncipe, danificada pelo terremoto de 2010 Foto: AP

Brasil no comando de missão da ONU

A missão da ONU teve início com uma operação multinacional coordenada por EUA e Canadá, que ficou dois meses até que o Brasil fosse politicamente e militarmente convocado para chefiar a segurança, sob a égide das Nações Unidas. O embaixador brasileiro Paulo Cordeiro, que chefiou a presença brasileira no Haiti do o início da missão de paz até 2008, concordou que "é hora de o Haiti andar com as próprias pernas".

Para o general Pinheiro, um dos principais legados da ONU para o Haiti foi a formação da Polícia Nacional Haitiana (PNH). Pinheiro crê que a polícia esteja reestruturada e bem equipada, capaz de fazer frente em caso de grupos armados tentarem retomar território nas favelas.

"A ONU nem cogita a possibilidade de voltar, pois se tivermos de voltar, foi porque falhamos", admitiu Pinheiro em entrevista ao portal G1. "O ambiente seguro e estável que existe agora é o maior legado que deixamos. São 13 anos em que a paz trouxe empresas, emprego, renda e maior qualidade de vida. Sem isso, certos negócios não teriam sido abertos aqui", disse o general. Ele garantiu que nunca viu o Haiti tão calmo, afirmando que "as coisas voltaram a funcionar após a eleição do novo presidente", Jovenel Moise, em janeiro.

Furacão Matthews causa estrago no Haiti
Haiti sofreu com crises políticas e desastres naturais, nos últimos anos: o mais recente, furacão Matthews, em 2016Foto: picture-alliance/dpa/UN/Logan Abassi

A Minustah foi a única operação da ONU comandada sempre por um único país, no caso, o Brasil. Entre 2005 e 2007, as tropas brasileiras realizaram operações para pacificar as três principais favelas de Porto Príncipe, Bel Air, Cité Militare e Cité Soleil, esta última considerada um reduto de "chiméres", grupos armados ligados ao ex-presidente Aristide. A Cité Soleil foi a última área entregue pelo Brasil ao Haiti e, desde o início de julho, a favela está sob a vigilância da PNH. 

Desastres naturais atrasaram recuperação

A recuperação do país foi muito afetada pelo forte terremoto em 2010, que provocou entre 100 mil e 300 mil mortos – o dado mais alto é uma estimativa do governo local. Desde então, os países parceiros tentam retomar a economia haitiana. A passagem de furacões e fortes tempestades pelo Caribe nos últimos anos só atrapalharam a recuperação.

Em abril, a ONU decidiu encerrar a missão de paz, alegando que havia feito a sua parte e que as tropas deixarão oficialmente o país até 15 de outubro. A partir de então, uma nova missão será criada, agora com 1.275 policiais internacionais para apoiar, até 2021, a formação da PNH, que não é ainda respeitada pelo povo. Na missão da ONU também estavam integradas tropas de Argentina, Benim, Bolívia, Canadá, Espanha, França, Índia, Marrocos, entre outras.

Desde junho de 2004, o Brasil enviou ao Haiti 37,5 mil militares. O maior contingente é o do Exército, que mobilizou 30.359 homens e mulheres. A Marinha enviou 6.299 militares e a Aeronáutica, 350. Vinte e cinco militares brasileiros morreram durante o período, incluindo dois generais.

PV/abr/lusa