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Brasil entra na batalha final contra o zika

11 de julho de 2018

Vacina contra o vírus, que já foi testada com sucesso em animais, está em fase de testes em humanos e agora precisa de voluntários para seguir evoluindo. Resultados são esperados dentro de dois anos.

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Moskitos Symbolbild ZIKA Virus
Foto: Reuters/P. Whitaker

Um grupo de pesquisadores internacionais está desenvolvendo uma vacina que poderá ser usada contra o zika, vírus que causou uma epidemia em 2015 e foi declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) emergência sanitária global em 2016. Os primeiros testes começaram em janeiro em centros em São Paulo, Estados Unidos, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Peru e Porto Rico. A expectativa é que os resultados sejam conhecidos dentro de dois anos.

"Os testes estão sendo feitos nesses países porque esperamos que, muito provavelmente, outras epidemias do vírus zika aconteçam em regiões mais quentes, especialmente nas Américas, onde o vírus vem circulando com muita intensidade desde 2015", justifica o médico Esper Kallas, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador da produção das vacinas em São Paulo.

A vacina, que já foi testada com sucesso em animais, encontra-se em fase de testes em humanos e agora precisa de voluntários para seguir evoluindo. No laboratório da FMUSP, em São Paulo, onde os testes brasileiros são realizados, são necessários 220 voluntários entre 15 e 35 anos, saudáveis, homens e mulheres.

"Essa população é exatamente o intervalo que mais concentra a idade reprodutiva. E está aqui a grande ameaça do vírus: quando uma mulher está grávida e é infectada pelo zika, o vírus pode ser transmitido para o bebê e causar malformações, inclusive a microcefalia. Saber se a vacina pode proteger contra o zika é especialmente importante para essa faixa etária", explica Kallas.

Emergência global

O primeiro caso de zika na América ocorreu no Nordeste do Brasil e foi notificado em maio de 2015. Em fevereiro de 2016, o vírus já havia infectado populações de 28 países da América Latina e do Caribe.

Inicialmente tida como uma doença leve – já que o infectado apresenta apenas febre baixa, conjuntivite, erupção cutânea e dores nas articulações –, a enfermidade passou a ser tratada como emergência internacional em 2016, após as primeiras evidências da relação do zika vírus com o aumento de casos de microcefalia no Brasil, uma doença que afeta o desenvolvimento e crescimento do cérebro da criança, causando severas sequelas mentais e motoras para o resto da vida. A microcefalia não tem cura.

De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, de novembro de 2015 a maio de 2018 foram notificados 16.028 casos de malformações resultantes do zika, com confirmação de 3.124 casos até o momento. No mesmo período, também foram notificadas 1.064 mortes de bebês suspeitas de estarem relacionadas com vírus zika, com confirmação em 327 casos.

A vacina

Kallas assegura que a vacina que está sendo testada nas Américas é segura. Os resultados preliminares da primeira fase de testes, com animais, foram satisfatórios e publicados na Science, uma das mais influentes revistas de pesquisa científica do mundo. Os testes em humanos também mostram resultados animadores.

"Mais de uma centena de pessoas já recebeu as doses da vacina, e observamos, mais uma vez com sucesso, a produção de anticorpos entre os vacinados", conta Kallas, lembrando que, no Brasil, ainda é preciso mais testes em pessoas para que se confirme a eficácia da imunização.

Em todos os centros de pesquisa envolvidos, espera-se contar com  2.400 voluntários para testar a vacina. Os voluntários passarão por uma bateria de exames e, comprovado o bom estado de saúde, receberão três doses da vacina e serão acompanhados até 2019.

"O estudo está previsto para durar dois anos, mas esperamos que a resposta sobre se a vacina vai funcionar chegue antes disso", afirma Kallas.

O médico Jorge Kalil, professor de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP e ex-presidente do Instituto Butantan, um dos principais institutos produtores de vacinas no Brasil, explica que, se houver um novo surto em algum dos países em que a vacina é testada em menos de dois anos, a resposta sobre a eficácia poderá ser observada mais rapidamente, uma vez que os vacinados estarão em contato com o vírus em um ambiente natural.

"Como a incidência da doença provocada pelo zika é baixa atualmente, ainda se necessita de muitos voluntários para os testes em laboratório", explica Kalil.  

Vacina em mulheres grávidas

Kallas explica que, mesmo em fase de teste, a vacina pode ser aplicada em quase todas as pessoas, mas, por precaução, os pesquisadores não estão vacinando gestantes, "embora tenhamos a perspectiva de usar a vacina inclusive em mulheres grávidas no futuro", afirma.

Kallas assegura que não é possível ser infectado por vírus zika por meio da vacinação. "A vacina não é feita de vírus vivo nem de vírus neutralizado. A vacina é feita de um plasmídeo [molécula de DNA] derivado de uma bactéria que, no homem, é inerte. Neste plasmídeo se inseriram os genes de duas proteínas que induzem a resposta protetiva. Não há vírus na vacina", garante Kallas.

De acordo com o médico, a vacina que está sendo desenvolvida apresenta um novo conceito que poderá "combater não somente o zika, mas várias outras doenças infecciosas no futuro".

Misteriosa queda no surto

Segundo o Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa), do Ministério da Saúde, publicado em junho, 1.153 municípios brasileiros, o equivalente a cerca de 22% do território nacional, apresentam um alto risco de surto para dengue, zika e chikungunya em 2018.

Apesar da alta circulação do vírus este ano, Kalil explica que o quadro é muito diferente do observado em 2015 e 2016, quando houve a epidemia de zika.

"Se olharmos para o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, veremos que houve uma diminuição drástica do número de casos de zika no Brasil desde 2016", diz o professor.

"O motivo? Não se sabe ao certo. Mudança climática? Alteração do ciclo de vida do mosquito? Ou o primeiro surto foi tão grande que deixou poucos indivíduos suscetíveis? Não sabemos ainda", afirma, apontando que ainda existem muitas perguntas a serem respondidas sobre o surto de zika nas Américas.

Apesar de ser inverno em grande parte da América, período em que há a menor probabilidade de transmissão do vírus, a microcefalia continua sendo uma ameaça, segundo a OMS.

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