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Segurança nuclear no Pan

Júlia Carneiro13 de julho de 2007

Os Jogos Pan-Americanos se realizam no Rio de Janeiro com uma precaução inédita para os brasileiros: medidas de segurança nuclear, seguindo o exemplo da última Copa na Alemanha e das Olimpíadas de Atenas.

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Treinamento em segurança nuclear no Rio de JaneiroFoto: IAEA

Mais de 600 agentes da Força de Segurança Nacional e 150 integrantes da Polícia Federal brasileira foram treinados para detectar radiação nos 16 locais de realização dos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. Enquanto policiais e seguranças fazem o controle de praxe para impedir a entrada de armas ou qualquer instrumento de ameaça nos jogos, os agentes especiais reforçam a segurança munidos de monitores portáteis que detectam qualquer emissão radioativa.

Panamerikanische Spiele 2007 - Rio de Janeiro
Atleta levanta a tocha dos Pan-Americanos diante do CristoFoto: AP

O objetivo é prevenir ações terroristas com materiais radioativos. Não que haja uma preocupação real de ataques desta dimensão no Brasil. A probabilidade de que algo deste teor aconteça, segundo Laércio Vinhas, da Comissão Nacional de Segurança Nuclear (CNEN), é praticamente nula.

"Estamos tomando um cuidado exagerado", considera o diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da CNEN. "Entretanto, se esse cuidado foi tomado na última Copa do Mundo e nas últimas Olimpíadas, nós achamos que também tinha que ser tomado para o Pan."

Tendência mundial

Vinhas se refere a uma precaução que começa a acompanhar eventos deste porte no mundo todo. A primeira a adotar um plano concreto de segurança nuclear foi a Grécia, nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. A próxima foi a Alemanha, durante a Copa do Mundo de 2006.

Depois do Brasil, a China e o Reino Unidos já estão se mobilizando para ter uma estratégia de segurança nuclear pronta até 2008, nas Olimpíadas de Pequim, e 2012, quando os jogos acontecerão em Londres.

Panamerikanische Spiele 2007 - Rio de Janeiro
Presidente Lula acende a tocha do PanFoto: picture-alliance/dpa

"Isso está sendo um grande treinamento para nós, porque o Brasil é candidato à Copa de 2014 e quer sediar as Olimpíadas de 2016 [no Rio de Janeiro]," diz Vinhas. É importante que estejamos preparados para fazer esse tipo de monitoração em grandes eventos."

Resposta ao 11 de Setembro

O plano de ação adotado na Grécia, na Alemanha e agora no Brasil vem da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O órgão, que promove o emprego pacífico de energia nuclear, elaborou um plano de ação na área de segurança nuclear após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Desde então, a preocupação em garantir a segurança nuclear cresce na mesma medida da ousadia das ações terroristas. "Desde o 11 de setembro consideramos que material radioativo possa ser usado de forma criminosa, e desenvolvemos a segurança nuclear como resposta", explica Peter Colgan, especialista em segurança nuclear da AIEA.

Nos últimos seis meses, especialistas da AIEA estiveram no Brasil para treinar cerca de 30 pessoas da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Estes, por sua vez, ficaram encarregados do treinamento dos 600 agentes da FSN e 150 da PF que agora estão na ativa no Rio, munidos de monitores portáteis para detectar radiação.

IAEA-Training für Nuklearsicherheit in Brasilien
Detector portátil de radiaçãoFoto: IAEA

Os aparelhos são do tamanho de um telefone celular e identificam qualquer tipo de radiação. Vinhas esclarece, entretanto, que a monitoração é voltada para material radioativo, e não nuclear – termo que se aplica apenas a materiais como urânio, tório ou plutônio, que estão completamente fora de cogitação.

"O perigo não é que vai estourar uma bomba atômica, não é nada disso. Os riscos que tentamos detectar são de dois tipos: a chamada bomba suja, em que um explosivo convencional é usado para dispersar material radioativo, contaminando uma grande área; ou que alguém entre com material radioativo e contamine o ambiente, causando tumulto e pânico."

Cuidados com alarmes falsos

A AIEA forneceu cerca de 200 aparelhos de monitoramento para o Brasil. Enquanto alguns simplesmente detectam a presença de radiação, outros são mais sofisticados e acusam de que tipo de radiação se trata. Isso é fundamental para evitar alarmes falsos.

"A presença de radiação é mais comum do que se imagina numa população, por causa da grande quantidade de tratamentos ou exames médicos que envolvem o uso de material radioativo, como tratamentos contra câncer ou exames de medicina nuclear", explica Peter Colgan.

No caso de uma radiação ser detectada nos Pan-Americanos, portanto, um alarme não será acionado de imediato. "Se houver um caso desses no meio de uma multidão, a pessoa será colocada de lado e o pessoal da CNEN imediatamente se aproximará para verificar de que tipo de material se trata," esclarece Vinhas.

Monitoramento antes e durante os jogos

Panamerikanische Spiele 2007 - Rio de Janeiro
A varredura do Estádio João Havelange, uma das sedes dos jogosFoto: AP

Segundo o brasileiro, o trabalho de monitoramento no Rio começou duas semanas antes do Pan. Todos os locais de realização dos jogos foram analisados, assim como os hotéis onde as delegações dos países estão hospedadas e a Vila do Pan. "A vila tem sete prédios e 1.800 apartamentos, e fizemos uma varredura por todos", conta ele.

Para apoiar os agentes a Secretaria Nacional de Segurança Pública, a CNEN mobilizou mais 250 funcionários além dos 750 agentes das polícias. A ação se estende não apenas pelos jogos, que acabam dia 29 de julho, como também pelo mês agosto, durante os Jogos Parapanamericanos.

O trabalho de cooperação com a AIEA foi feito por iniciativa do Brasil, que pediu ajuda da agência para se preparar no setor de segurança nuclear, após ver os exemplos da Alemanha e da Grécia.

Ciência aplicada à segurança

O trabalho de segurança nuclear, segundo Colgan, tem três pilares: prevenção, detecção e resposta. "Ao oferecermos o treinamento, colocamos cientistas em contato com polícia, setores de inteligência, seguranças que atuam na linha de frente. Assim acrescentamos a ciência à estratégia de segurança baseada em armas, guardas, portões. E, com esse reforço, a polícia tem como responder se algo é detectado."

Além dos conhecimentos transmitidos aos brasileiros, Colgan diz que a central de emergência da AIEA em Viena, fica à disposição 24 horas por dia para oferecer suporte. "Não estamos cientes de qualquer ameaça, mas é responsabilidade do país oferecer segurança", diz, lembrando que o Brasil está recebendo 5.500 atletas de toda a América.