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Brasileiro condenado por Sérgio Moro é detido na Alemanha

31 de janeiro de 2017

Ex-gerente envolvido no Caso Banestado estava em lista da Interpol e foi levado para presídio ao desembarcar em Munique. Advogado afirma que tudo não passou de um engano e que pena já havia sido extinta.

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Symbolbild Polizei Deutschland
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stein

Um brasileiro que foi condenado em 2004 pelo juiz Sérgio Moro por fraudes relacionadas ao escândalo do Banestado foi detido no aeroporto de Munique, anunciou a polícia alemã. Trata-se de Carlos Donizeti Spricido, de 60 anos, um ex-gerente do antigo banco paranaense. Ele constava em uma lista da Interpol como foragido há 12 anos.

Ele foi detido na manhã da última quinta-feira (26/01). Segundo a polícia alemã, Spricido teve a entrada negada nos EUA e estava em trânsito de volta para a Itália quando seu voo fez uma escala em Munique. Ele desembarcou usando um passaporte italiano. As autoridades notaram que seu nome estava em uma lista de procurados da Interpol.

Quando interpelado pelos policiais, Spricido tentou argumentar que não estava mais sendo procurado no Brasil e que havia recebido uma anistia. Os policiais alemães afirmaram que não encontraram nada que provasse as declarações e resolveram detê-lo. Ele acabou sendo levado para a Penitenciária de Stadelheim.

Seu advogado, Waldir Leske, afirmou à DW que tudo não passou de um engano. "A pena já havia sido reduzida e foi finalmente extinta no final do ano passado, mas o nome dele de alguma maneira permaneceu na difusão vermelha da Interpol", afirmou. Ele afirma que Spricido já foi solto e voltou para a Itália. 

Spricido foi originalmente condenado a dez anos e seis meses de prisão por fraude e organização criminosa. Segundo a sentença de Moro, que à época comandava a 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, o ex-gerente foi apontado como "um dos principais responsáveis pela execução da fraude" no Banestado. Ele já era considerado foragido na época do julgamento. 

Spricido foi condenado especificamente pela evasão de 2,4 bilhões de reais (em valores de 1997). "O dano provocado às divisas nacionais é irreparável", escreveu Moro na sentença. "O propósito do crime parece ter sido apenas o desejo de locupletar-se ou de trazer benefícios de curto prazo ao Banestado em prejuízo do sistema financeiro nacional e de toda a coletividade."

Escândalo do Banestado e Lava Jato

O caso Banestado foi um dos maiores escândalos de lavagem de dinheiro da história brasileira. O caso envolveu oficialmente a evasão de 28 bilhões de dólares em divisas entre 1996 e 1997 por meio do antigo banco estatal paranaense.

O esquema operado por Spricido e outros condenados envolvia a abertura de contas CC5 em nomes de 91 laranjas em uma agência do Banestado em Foz do Iguaçu. Tais contas deveriam ser usadas apenas por brasileiros que moravam no exterior e queriam enviar recursos para outros países, mas acabaram virando um mecanismo de evasão de divisas. Boa parte do dinheiro foi enviada para paraísos fiscais.

Os processos decorrentes do caso projetaram a imagem de Sérgio Moro como um juiz severo e também ajudaram a Justiça Federal do Paraná a montar um time completo de especialistas em lavagem de dinheiro, entre delegados e procuradores, que acabariam atuando na força-tarefa da Lava Jato.

Ao longo do caso, entre 2003 e 2007, Moro condenou 97 pessoas e cruzou pela primeira vez com o doleiro Alberto Youssef, que acabou mais tarde se tornando uma das testemunhas-chave do escândalo da Petrobras. Também no Banestado, Moro fez uso da delação premiada – então um instrumento relativamente novo em casos de lavagem de dinheiro – para conseguir a colaboração de suspeitos, entre eles Youssef.