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Bossa nova alemã

23 de agosto de 2011

Bossa nova em alemão pode causar estranheza, mas é possível. Isso mostra a cantora franco-alemã Céline Rudolph, que acaba de lançar novo álbum, com músicas de Henri Salvador cantadas em ritmo de bossa nova e em alemão.

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Capa de 'Salvador', novo CD de Céline Rudolph
Capa de 'Salvador', novo CD de Céline RudolphFoto: Gregor Hohenberg

O primeiro contato de Céline Rudolph com a bossa nova foi aos cinco anos de idade, quando ela descobriu entre os discos do pai um LP de música brasileira. Curiosa, resolveu ouvir, e a primeira música que escutou foi Rosa Morena. Foi amor à primeira vista. Céline conta que não se cansava de ouvir a música de Dorival Caymmi interpretada por João Gilberto.

Mesmo sem entender a letra, ela cantarolava aquele ritmo dia e noite. Na adolescência, a brincadeira de criança passou a ganhar formas mais concretas. Céline Rudolph resolveu que seria importante entender aquelas letras misteriosas que povoavam sua infância.

Muitos anos depois e já dominando o português, a cantora lança neste mês na Alemanha, o álbum Salvador, em alemão, e se prepara para o lançamento em setembro do mesmo álbum em francês. O ritmo é a bossa nova, e as músicas são de Henri Salvador, músico francês considerado por muitos como o inspirador da obra de Tom Jobim, com o bolero Dans mon Île.

Ela conta que gravou o CD no Brasil e chegou na Alemanha com o trabalho pronto, que foi muito bem recebido pela gravadora, mas com um único porém – ninguém iria entender o que a letra dizia. Foi aí que nasceu a proposta de algo novo e arriscado: fazer bossa nova em alemão.

Hobby profissional

Apesar de a música ser sua paixão, Céline decidiu primeiramente estudar filosofia. Mas a arte falou mais alto e a cantora trocou o curso por jazz e composição, na Universidade Livre de Berlim.

Céline Rudolph nunca foi a Salvador
Céline Rudolph nunca foi a SalvadorFoto: Gregor Hohenberg

O que antes era um hobby estava se tornando algo profissional, o que gerou um certo ceticismo por parte do pai da cantora. "Ele perguntava muitas vezes: 'Minha filha, você vai ser feliz com isso?' E eu dizia, vou! É o que eu quero fazer. Então ele disse no final: 'Tudo bem, se você quer fazer isso então faça'. E a partir do momento que eles [pai e mãe] viram que eu me entregava à música de corpo e alma, desde então, os dois sempre me deram todo apoio." Diferente de outros artistas, Céline não cresceu em uma família de músicos, mas numa família de amantes da música, como ela mesma diz.

"Salvador": uma dupla homenagem

Por viver em um ambiente multicultural, já que o pai é alemão e a mãe francesa, ela teve contato com a música alemã e as canções francesas, as chansons. A família dispunha ainda de um acervo fonográfico de ritmos latinos e africanos. Além dos ritmos, os sons das línguas foi algo que a encantou e um fator a mais para que ela estudasse o português.

Hoje, ela considera que o seu conhecimento de idiomas é fundamental para sua obra. O português brasileiro possui um papel quase de protagonista em sua música. Encantada pelos seus tons, que se aproximam muito do francês, segundo a cantora, ela os mistura com alguns sons de línguas africanas e assim produz um idioma "de fantasia" para os momentos de improvisação no show.

Porém no álbum Salvador, não há músicas em português, mas o título remonta à saudade de algo que a cantora ainda não conheceu. "No meu último CD, o Metamorflores [2009], eu cantei Eu vim da Bahia, mas na verdade eu nunca nem mesmo fui à Bahia e agora o álbum se chama Salvador e eu não conheço a cidade. Ele representa essa nostalgia de querer conhecer Salvador."

Além da homenagem à capital baiana, o álbum também homenageia Henri Salvador. Segundo Céline Rudolph, Henri Salvador se tornou uma ponte entre a música brasileira e a europeia. "Ele estava junto, por exemplo, quando Gilberto Gil vinha fazer um show, ele estava ali pois ele era a ponte da Europa com a cena musical brasileira. Ele era como uma figura de pai para os músicos brasileiros que vinham à Europa."

Sonoridade e sentido da letra

A cantora foi criada em ambiente multicultural
A cantora foi criada em ambiente multiculturalFoto: Gregor Hohenberg

O álbum Salvador foi lançado em alemão e Céline se prepara para o lançamento do álbum em francês. Ela traduziu as músicas de Henri Salvador para o alemão. O resultado é surpreendente.

Para tanto, na hora de compor, ela diz que procurou trazer a suavidade e os sons do português brasileiro para a música em alemão e deu prioridade à melodia frente ao texto. Celine, que desde 2006 tem uma banda brasileira, está em turnê pela Europa e garante que em 2012 estará no Brasil para divulgação do CD.

Apesar de acreditar que os brasileiros vão entender mais o álbum em francês, por ser também uma língua latina, ela está na expectativa sobre o que a terra da bossa nova vai achar do álbum em alemão. Mas ela acredita na receptividade do público brasileiro, que deixa fortes lembranças e lhe proporcionou um dos momentos mais emocionantes da sua carreira, quando no ano passado pela primeira vez cantou Rosa Morena num palco brasileiro. "Foi para mim um momento muito emocionante, pois o público cantou junto, cantou baixinho, com coração."

Céline fala que ela também já misturou bossa nova com outros ritmos, mas acredita que a bossa nova original vai sempre ter seu espaço na música. "Eu acredito que ritmos brasileiros são ainda muito bem recebidos na Europa, Estados Unidos e também no Japão. A bossa nova é muito querida, pois ela irradia um calor especial, tem um som que traz calma. Eu acho que a música brasileira vai sempre ter um local de destaque no mundo inteiro."

Autora: Camila Saloto
Revisão: Carlos Albuquerque