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Cúpula do diesel tenta aplacar escândalo na Alemanha

1 de agosto de 2017

Em meio a pressões de ambientalistas, governo alemão e montadoras buscam chegar a um acordo sobre como diminuir a poluição de veículos movidos a diesel e assim evitar que cidades imponham proibições.

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Symbolbild Dieselskandal Automobilindustrie
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt

A recente decisão judicial favorável aos ambientalistas que lutam pela proibição da circulação de veículos a diesel na Alemanha acirrou ainda mais os ânimos nas vésperas da chamada "cúpula do diesel", um encontro organizado pelo governo federal com representantes do setor, marcado para esta quarta-feira (02/08) em Berlim.

No centro dos debates está justamente a busca por alternativas à proibição de circulação de automóveis com motores a diesel – o combustível mais usado no país – nas regiões centrais das grandes cidades alemãs, que sofrem cada vez mais com a poluição atmosférica. As montadoras querem de todas as maneiras impedir que isso aconteça e tentam impor o recall como solução.

A alternativa proposta pelos fabricantes é instalar softwares que ajudem a diminuir as emissões de óxidos de nitrogênio nos milhões de automóveis que seguem as normas de emissões de poluentes Euro-5 e Euro-6 da União Europeia. Proibições de circulação seriam, assim, evitadas. Um esboço da declaração final mostra que a proposta das montadoras deve sair vitoriosa.

Só que foi justamente essa proposta que o Tribunal Administrativo de Stuttgart considerou insuficiente no seu veredicto sobre os planos do governo local para reduzir a poluição atmosférica na cidade. A capital do estado alemão de Baden-Württemberg é a sede da Daimler, da Porsche e da Bosch e, ironicamente, conhecida por ter o ar mais poluído da Alemanha.

Os ambientalistas da organização Deutsche Umwelthilfe, que moveram a ação contra o governo estadual de Baden-Württemberg, já disseram que não vão tolerar que a cúpula do diesel apresente "trapaças" como soluções e que vão "esgotar todas as possibilidades legais" caso isso aconteça.

Merkel não vai participar

A indústria automobilística não é um setor qualquer na Alemanha. Marcas como Volkswagen, Mercedes-Benz, Porsche e BMW são o orgulho de uma nação que se define como automobilística. Além disso, o setor emprega 800 mil pessoas e responde por nada menos que um quinto das exportações. Diante disso, o governo sempre andou ao lado das montadoras. Agora, com uma série de escândalos de fraudes em emissões e a acusação de formação de cartel, esse apoio dá sinais de rachar.

Como a chanceler federal Angela Merkel está de férias, a recepção aos participantes da cúpula – os chefões das grandes montadoras e os governos de nove estados – ficará a cargo dos ministros dos Transportes, Alexander Dobrindt, e do Meio Ambiente, Barbara Hendricks. A dupla já deixa explícita a divisão dentro do governo alemão sobre o assunto.

Enquanto Dobrindt demonstra simpatia pela solução das montadoras, Hendricks não faz questão de esconder que a considera insuficiente. "Só poderemos reduzir claramente as emissões na frota de Euro 5 e Euro 6 e evitar as proibições de circulação se houver melhoras técnicas", disse.

Ela se refere à instalação, nos automóveis já em circulação, de tanques maiores de ureia, uma substância que ajuda a transformar os óxidos de nitrogênio em água e nitrogênio. Só que a solução defendida pela indústria, a atualização de software, custa cerca de 100 euros por automóvel. Já novos tanques de ureia custariam no mínimo 1.500 euros por unidade trocada. As direções das montadoras já deixaram claro que consideram a proposta uma afronta. Dobrindt tentou acalmar os ânimos e disse que, antes de mais nada, especialistas precisam analisar se as melhoras técnicas sugeridas são mesmo possíveis em determinados modelos.

Acusações contra ministro

O ministro dos Transportes tenta mostrar tranquilidade diante dos escândalos de fraudes nas emissões de motores a diesel. É verdade que, na semana passada, ele elevou o tom e disse que as montadoras devem assumir sua "maldita responsabilidade" e corrigir os defeitos. Mas isso foi tudo. Depois disso surgiram acusações de que órgãos subordinados a ele teriam maquiado relatórios finais de inquéritos sobre o envolvimento da Porsche no escândalo de emissões, a pedido da montadora. Além disso, Dobrindt foi acusado de saber que a montadora usava um software para fraudar os níveis de emissão de poluentes.

O Ministério dos Transportes negou as acusações, mas a ministra da Economia, Brigitte Zypries, cobrou esclarecimentos sobre o que exatamente Dobrindt e seus subordinados sabiam. "Precisamos dessas informações antes da cúpula", afirmou. Já a oposição acusou o governo de evitar o confronto com as montadoras. "O que vemos é um governo que espera continuar seguindo como sempre nos seus acordos com a indústria", afirmou a chefe da bancada verde, Katrin Göring-Eckardt.