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"Cada época precisa de uma resposta"

(rr)24 de agosto de 2004

A insatisfação dos alemães com as reformas do Partido Social Democrata (SPD) cresce. O presidente do partido, Franz Müntefering, comentou à Deutsche Welle a situação e as novas tarefas que seu partido tem de cumprir.

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Müntefering: 'Quem fragmentar a esquerda, estará ajudando a direita'Foto: AP

DW: Sr. Müntefering, protestos em massa nas ruas da Alemanha, protestos em massa contra a reforma social do governo. Quando os senhores idealizaram esse pacote, que une a ajuda social ao seguro-desemprego, os senhores esperavam por isso?

Franz Müntefering: Não nas dimensões que a coisa tomou, especialmente no Leste. Que seria difícil comunicar isso ao povo, estava claro. O principal objetivo dessa lei é melhorar a mediação de empregos, criar novas vagas e acabar com o desemprego de longa data. Isso significa muito esforço e por isso eu tenho compreensão com alguns dos manifestantes. Mas não por todos, especialmente não pelos que espalham o medo muito além do necessário.

O chanceler Gerhard Schröder falou em uma "frente popular" para descrever essa aliança que se formou contra as reformas e que se estende desde o Partido do Socialismo Democrático (PDS) à extrema direita. Essa frente preocupa o senhor?

Bem, o chanceler fez uma certa analogia que não se pode questionar. O curioso, e também irritante, em tudo isso é que membros importantes da CDU (União Democrata Cristã), que participou da formulação do pacote, agora protestam publicamente. Meu pedido à Sra. Merkel [presidente da CDU] é que o que foi acertado em comunhão não seja agora boicotado ou sabotado por seus políticos.

Muitas pessoas dizem que as reformas são injustas, pois sacrificam apenas os mais pobres. O que o senhor diz disso?

Isso não é verdade. Especialmente os que recebem seguro-desemprego no Leste alemão. Hoje, eles recebem 467 euros por mês. Após as reformas – já contando com o auxílio moradia –, pelo menos a metade deles passará a receber mais do que isso. Quem contribuirá mais são solteiros e bem pagos. A alta classe terá mais desvantagens do que as classes média e baixa.

Justiça é para o senhor – para o seu partido – um conceito central. Agora o senhor tem um problema. O apoio a seu partido desmorona: apenas um em cada quatro alemães votaria nos social-democratas. Qual sua receita para o futuro, para reconquistar o conceito de justiça para o seu partido?

Justiça social é o efeito a longo prazo de nossa política. Para tudo o que fazemos hoje, precisamos nos perguntar qual será o efeito disso em 10, 20 ou 30 anos. Os jovens de hoje não podem herdar de nós apenas dívidas e hipotecas. Eu até entendo que as pessoas coloquem os interesses atuais à frente dos interesses futuros, isso é humano. Mas nós, como governantes, não podemos fazer o mesmo. Precisamos definir justiça social e bem-estar social como algo relacionado à igualdade de chances, e isso a longo prazo. Por isso não podemos apenas distribuir a renda, temos que pensar que os cofres estão vazios, não houve crescimento nos últimos três anos, então temos que gastar menos e investir o dinheiro para as gerações futuras.

Mas agora há outras forças de esquerda que lhe querem tomar o conceito de justiça. Os sindicatos querem um novo partido de esquerda. Será que o SPD está diante de uma cisão?

Os sindicatos não querem um novo partido. Se existem membros desses sindicatos ou mesmo de nosso partido que querem um novo partido, isso eu não sei. Caso isso acontecesse, seria para nós uma perda, sem dúvida. Eu só posso aconselhar a essas pessoas que pensem mais uma vez. Pois quem quiser fragmentar o centro e a esquerda de modo a destruir nossa capacidade de negociação, estará ajudando diretamente os conservadores. A decisão é se queremos estabilizar a economia social de mercado dando-lhe um formato contemporâneo, ou se queremos partir para um capitalismo puro como quer a oposição.

E quanto a seu predecessor na presidência do partido, Oskar Lafontaine, que flerta descaradamente com os novos "separatistas", vamos chamá-los assim. Além disso, ele pediu a renúncia do chanceler Schröder. Isso não seria um comportamento nocivo ao partido?

Oskar Lafontaine exigiu duas coisas: em primeiro lugar, a renúncia do chanceler; em segundo, que o SPD faça exatamente a política que ele quer. O partido negou as duas coisas. Agora ele pode tirar as conclusões que quiser. Se ele optar por ficar, então eu espero que ele aceite a decisão da maioria do partido e ajude a executar as reformas planejadas.

Será que o momento do SPD como "partido do povo" passou e o senhor será líder de um partido de centro-esquerda de menores dimensões?

Eu estou convencido de que não é assim. A luta pelos eleitores ainda não chegou ao fim. Há muitas pessoas que ainda não sabem se irão às urnas. Esse é um grande potencial de eleitores, que na verdade eram nossos antigos eleitores. Esperemos para ver como será na próximas semanas ou meses.

Fato é que este país precisa se renovar e que a globalização, a europeização, o desenvolvimento democrático, a falta de crescimento dos últimos anos, tudo isso nos afetou muito. E eu acho especialmente social-democrático – até Willy Brandt já dizia isso – que cada época precisa de suas próprias respostas e que deixar tudo como está seria a resposta errada. Se a conjuntura é outra, é preciso mudar e procurar justiça social dentro da nova perspectiva. É o que estamos fazendo. Eu não digo que cada um de nossos passos é correto. Com certeza faremos alguns erros, mas estamos na direção certa, sem dúvida. E a social-democracia não chegou ao fim, continuamos precisando dela mais do que nunca neste país e também na Europa. A diferença entre uma economia de mercado de cunho social-democrático e o capitalismo puro é facilmente reconhecível.

A entrevista foi feita por Christian F. Trippe.