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Cem anos de Ingmar Bergman, ícone do cinema

Jochen Kürten ip
14 de julho de 2018

Natural de Uppsala, cineasta sueco é protagonista essencial da história da sétima arte. No centenário de seu nascimento, ele continua uma fonte de revelações e descobertas – tanto artísticas como biográficas.

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Bergman em 1981, no set de filmagem de "Fanny e Alexander"
Bergman em 1981, no set de filmagem de "Fanny e Alexander"Foto: Getty Images/AFP/J. Forsell

Muitos consideram Ingmar Bergman o maior diretor de cinema do século 20. Para que isso ficasse oficialmente registrado, em 1997 o Festival Internacional de Cinema de Cannes concedeu ao sueco um prêmio especial: a "Palma de todas as Palmas".

Isso equivalia a nada menos do que consagrá-lo como "o melhor diretor de todos os tempos". É claro que tais superlativos são questionáveis, porém confirmam o cineasta como um dos mais importantes pioneiros da história da sétima arte.

Workaholic  por trás das câmeras e no palco

Nascido em 14 de julho de 1918 em Uppsala e morto em 2007 na ilha sueca de Faroe, Bergman deixou uma obra imensa. Entre 1946 e 2003, dirigiu numerosos filmes, especialmente para a grande tela.

Desde cedo, porém, ele também experimentou com o formato menor para a televisão, e conta entre os diretores teatrais mais importantes da Europa. E ele escrevia: memórias, diários, e é claro, roteiros – um enorme volume de texto, enfim, ainda não totalmente desbravado.

Seus filmes ganharam inúmeros prêmios, em festivais europeus e também nos Estados Unidos, onde ele recebeu três Oscars. Não é nenhum segredo que muitos diretores das gerações posteriores adoravam o sueco, tentando repetidamente imitá-lo. Entre seus fãs, o mais famoso é Woody Allen. O americano, mais conhecido como diretor de comédias melancólicas, tem dois dramas à la Bergman: Setembro  e A outra.

Em meados da década 50, Bergman começou a ter reconhecimento por seu trabalho no Festival de Cannes
Em meados da década 50, Bergman começou a ter reconhecimento por seu trabalho no Festival de CannesFoto: picture-alliance/dpa/Scanpix/M. Hartman

Arte, mulheres: um campo de batalha

O sueco não tinha fãs somente no mundo do cinema: representantes de outros setores culturais também não lhe pouparam elogios. A recém-publicada nova edição alemã de suas memórias, Laterna Magica – Ingmar Bergman: Mein Leben, foi prefaciada pelo Prêmio Nobel de Literatura Jean-Marie Gustave Le Clézio.

O romancista francês resume assim o cerne da arte bergmaniana: "Bergman é um ser humano livre de moral, ou melhor, não sociável, e apenas a convivência com as mulheres que ele escolhe lhe proporcionam um ofício, um amparo – um conteúdo existencial."

Bergman e as mulheres: esse é também um capítulo à parte, sobre o qual muito se escreveu. O sueco teve várias esposas, casos amorosos, parceiras, muitas vezes simultaneamente. Bergman também fez dessas relações tema do filme de sua vida. "Possivelmente porque a arte era para ele esse tecido de mentiras, ciumeiras, jogos eróticos e dramas meio engraçados e meio trágicos que a inteligência lúcida produz", analisa Le Clézio, "um tecido que é como um campo de batalha, em que não se conquista nada, mas se registra tudo."

Bibi Andersson (esq.) e Liv Ullmann em "Persona", 1966
Bibi Andersson (esq.) e Liv Ullmann em "Persona", 1966Foto: Imago/United Archives

Mestre da imersão psicológica

Em seus filmes, Bergman encenava esse campo de batalha das emoções com uma intensidade muitas vezes insuportável, sem poupar os espectadores. Ele foi um dos primeiros a mostrar e abordar erotismo e sexualidade com uma liberdade sem precedentes.

E associou esses mundos emocionais humanos às questões relativas ao sentido da vida. Doença e morte, a busca de Deus e se a religião pode realmente ser uma ajuda honesta para o ser humano: tudo isso inquietava o cineasta constantemente.

Só bem mais tarde ficou claro que Ingmar Bergman também fazia de sua vida uma obra de arte. O diretor de tantas obras-primas inesquecíveis sabia muito bem se autoencenar. O que ele escrevia era sua visão das coisas. Pouco se sabe que outros, seus atores e numerosos membros de equipe, tenham chegado a conclusões diferentes, perspectivas contrastantes.

Bergman ao lado de uma de suas maiores estrelas, atriz norueguesa Liv Ullmann, em 19/09/1967
Bergman ao lado de uma de suas maiores estrelas, atriz norueguesa Liv Ullmann, em 19/09/1967Foto: AP

Por trás da fachada, um novo Bergman?

O documentário Bergman – A year in a life  (Um ano em uma vida), da também sueca Jane Magnusson, lançado em Cannes, em maio, apresentou alguns resultados surpreendentes. Por exemplo, a relação do sueco com o nazismo, que ele louvou por muito tempo. Ou o olhar sobre sua infância e juventude, que ele destrinchou em muitos de seus filmes e tantas vezes tematizou.

Essa visão, conclui Magnusson, era bastante subjetiva e – da perspectiva dos familiares de Bergman – provavelmente de uma distorção grosseira. Portanto, aquilo que o diretor dizia sobre sua vida e trabalho deve ser tratado com cautela. O que não diminui, no entanto, o poder artístico de seus filmes.

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