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"Chance de Wilders virar premiê é quase nula"

Ines Eisele ca
10 de março de 2017

Geert Wilders domina as atenções na campanha eleitoral da Holanda. Em entrevista, especialista explica por que é pouco provável que o candidato populista chegue ao poder.

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Geert Wilders no parlamento holandês
Wilders "não é antidemocrático, mas testa, provocativamente, os limites da democracia"Foto: picture alliance/dpa/M. Beekman

Pouco antes das eleições parlamentares da próxima quarta-feira (15/03) na Holanda, todos falam do candidato populista de direita Geert Wilders.

Em entrevista à DW, o cientista político Andrei Zaslove disse considerar, no entanto, improvável que Wilders venha a se tornar primeiro-ministro. Mesmo assim, o populista "deslocou a fronteira do que não pode ser dito: nos anos 1990, políticos poderiam ser processados pelo que falam hoje abertamente", analisa Zaslove.

Niederlande Andrej Zaslove
Andrei Zaslove pesquisa sobre populismo há 13 anosFoto: Radboud-Universität Nijmegen

"Com suas declarações populistas contra o islã, a União Europeia e a imigração, Wilders chamou, naturalmente, muita atenção. Eu não diria que ele é antidemocrático, mas ele testa, provocativamente, os limites da democracia", avalia o cientista político.

Andrej Zaslove ensina política comparada na Universidade Radboud, em Nijmegen. Nos últimos 13 anos, ele vem pesquisando sobre o fenômeno do populismo na Holanda e em outros países. Entre outros, é o autor do livro The Re-invention of the European Radical Right (A re-invenção da direita radical europeia, em tradução livre).

DW: Indo direto à questão mais premente, Geert Wilders pode vencer a eleição na Holanda com sua legenda populista de direita Partido da Liberdade (PVV)?

Andrej Zaslove: Segundo as últimas sondagens, o PVV deverá se tornar apenas a segunda maior força política do país, depois do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), que já está no poder. Mas mesmo que Wilders viesse a ficar ligeiramente na frente, ele precisaria de parceiros de coalizão para formar um governo. A não ser que ele possa atrair para si os votos de mais de 50% dos eleitores – e isso é impensável no sistema multipartidário holandês.

E haveria parceiros de coalizão?

Nunca se deve dizer não, mas até agora todos os partidos relevantes rejeitaram claramente uma cooperação. A probabilidade de que vejamos em breve Wilders como primeiro-ministro gira em torno de zero.

Por que os índices de aprovação de Wilders pioraram pouco antes da eleição?

A campanha eleitoral dele foi estranha, ele quase não apareceu. Talvez isso tenha mudado a opinião de alguns indecisos. Mas ainda é cedo para descartar Wilders. Muitos questionam se tudo é algo calculado e se ele ainda não vai iniciar um ataque surpresa.

E apesar ou até mesmo por causa da ausência de Wilders, as pessoas continuaram a falar sobre ele. Por quê?

Com suas declarações populistas contra o islã, a União Europeia e a imigração, Wilders chamou, naturalmente, muita atenção. Eu não diria que ele é antidemocrático, mas ele testa, provocativamente, os limites da democracia. Ao contrário, por exemplo, de Donald Trump, Wilders tem uma visão de mundo consistente, age de forma calculada e é um político experiente.

Na maioria das vezes, a campanha de Wilders contra muçulmanos e imigrantes não parece muito prudente, como, por exemplo, a fotomontagem que ele tuitou após o atentado ao mercado de Natal em Berlim e que mostra Angela Merkel com as mãos manchadas de sangue.

Há anos que Wilders faz campanha contra o islã, essa luta é sua principal preocupação. Na Holanda, muitas pessoas também se indagam se o isolamento dele radicalizou ainda mais essa posições já exacerbadas. Desde 2004, ele vive sob proteção policial constante devido a ameaças de morte, quase como numa prisão.

Wilders fundou o PVV em 2006. Como o partido tem influenciado o debate político na Holanda desde então?

No geral, observa-se uma guinada à direita. Pois os demais partidos, como, por exemplo, o neoliberal VVD do primeiro-ministro Mark Rutte, não querem deixar o campo livre para Wilders, perdendo votos para ele. Wilders deslocou a fronteira do que não pode ser dito: nos anos 1990, políticos poderiam ser processados pelo que falam hoje abertamente.

Quem são as pessoas que votam no PVV?

Uma parte dos votos do PVV provém de um eleitorado que é muito leal há anos. De acordo com estudos, a tendência é que, nesse rol de eleitores, haja mais homens que mulheres e também pessoas de menor escolaridade e que se sentem deixadas para trás. Além disso, para muitos, votar em Wilders é um ato de protesto contra o establishment político, contra o qual tem crescido nos últimos anos o descontentamento frente a uma grande e morosa coalizão de governo – da mesma forma que na Alemanha.

Vamos supor que o PVV venha a governar em breve a Holanda. Promessas de Wilders, como o "Nexit" (saída da Holanda da União Europeia), a proibição do Alcorão e o fechamento de fronteiras se tornariam realidade?

Acho que muito disso é impraticável. Para uma saída da União Europeia não haveria apoio suficiente na população holandesa, isso é algo que simplesmente não consigo ver. Outras reivindicações não são compatíveis com a Constituição. E, na Holanda, um primeiro-ministro não tem tanto poder quanto, por exemplo, a chanceler federal Angela Merkel na Alemanha.