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Checkpoint Berlim: Guerra a propagandas sexistas

26 de junho de 2017

Governo local pretende banir da cidade outdoors com propagandas que objetificam mulheres e homens ou reproduzem estereótipos machistas e discriminatórios. Um distrito berlinense já adota a proibição.

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Propaganda mostra bunda de mulher
Governo de Berlim quer proibir anúncios sexistas na cidade,Foto: picture-alliance/M. Latz

Bundas, peitos e expressões machistas e discriminatórias para vender produtos podem estar com os dias contados em Berlim. O governo local planeja banir da cidade anúncios que reproduzem e reforçam estereótipos masculinos e femininos.

Os planos da prefeitura berlinense foram revelados na mesma semana em que uma propaganda do chocolate Snickers causou revolta nas redes sociais no Brasil. Embalagens com expressões que "reproduziriam" supostos comportamentos causados pela fome foram lançadas no país, no entanto, as palavras depreciativas só aparecem no feminino, como "reclamona" e "furiosa".

Após a polêmica, a empresa se defendeu, alegando que há também versões masculinas, mas que, como a campanha foi lançada recentemente, elas ainda não estavam disponíveis em todos os pontos de venda. No Brasil, consumidoras sugeriram um boicote ao chocolate.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Em Berlim, para evitar esse tipo de constrangimento, a ideia do governo é proibir propagandas sexistas em outdoors que pertencem à cidade. A proibição desse tipo de anúncio já está em vigor em dois distritos: Friedrichshain-Kreuzberg, desde 2014, e Pankow, mais recentemente. As iniciativas partiram das prefeituras distritais, que ainda são as responsáveis pelos espaços públicos destinados à publicidade.

Uma terceira move processo semelhante: Charlottenburg-Wilmerdorf. No mês passado, a legenda A Esquerda entrou com um projeto distrital para proibir propagandas sexistas, discriminatórias e misóginas. O texto bane ainda anúncios em que mulheres são tratadas como fracas, bobas, histéricas, ingênuas, consumistas ou associadas a trabalhos domésticos.

Como os distritos são, no momento, responsáveis pelos espaços publicitários públicos, esse tipo de iniciativa distrital está partindo de vereadores dos partidos que formam a coalizão do governo local – Partido Social-Democrata (SPD), Partido Verde e A Esquerda. O distrito de Mitte também prepara uma proposta semelhante.

A partir de 2019, a prefeitura passará a ser responsável por esses espaços de propaganda e, então, o governo pretende expandir a proibição para toda a cidade. O banimento de propaganda sexista é um dos pontos acertados no acordo de coalizão assinado em novembro do ano passado.

Em seu site, o Partido Verde, por exemplo, argumenta que a propaganda influencia imagens e ideias de como homens e mulheres deveriam ser ou parecer, além de comportamentos e expectativas da sociedade.

"Propaganda sexista é uma apresentação de preconceitos e formas de comportamento relacionadas ao gênero, que desvaloriza socialmente um grupo de pessoas perante outro", acrescenta a legenda.

Ainda não há um plano concreto de como o governo local pretende colocar em prática e controlar esse banimento, mas as autoridades têm até o final do próximo ano para traçá-lo. Associações de publicitários reclamaram da ideia e contestam o fato de o governo querer regular o conteúdo das propagandas, citando a liberdade de expressão.

O que acontece é que, sem uma proibição, esse tipo de conteúdo continua enchendo outdoors pelas cidades, como se fossem ideias brilhantes. Questionou-me como, em pleno século 21, bundas, peitos, machismo e discriminação ainda funcionam para vender produtos.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.