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Checkpoint Berlim: Novo capítulo no drama sobre aeroportos

3 de julho de 2017

Atraso nas obras do BER abriu espaço para novos planos, como manter o Tegel em funcionamento. Grupo apoiado pelos liberais conseguiu aprovar referendo para decidir sobre o futuro do aeroporto que deveria ser fechado.

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Aeroporto Tegel deveria ser fechado após a inauguração do BER
Aeroporto Tegel deveria ser fechado após a inauguração do BERFoto: picture alliance/dpa/J. Carstensen

Os cinco anos de atraso na inauguração e a falta de previsão de quando o novo aeroporto de Berlim entrará em operação abriram espaço para que novas ideias e planos surgissem sobre o futuro do aeroporto de Tegel, que inicialmente seria desativado assim que voos partissem e chegassem no Berlim-Brandemburgo (BER).

Durante a campanha eleitoral local do ano passado, uma das principais bandeiras do Partido Liberal Democrático (FDP) era evitar o fechamento do Tegel. Com a promessa, a legenda conquistou muitos eleitores e votou a ocupar assentos no parlamento regional.

Como prometeu, o partido levou adiante o projeto "Berlim precisa de Tegel" e deu início ao processo para a convocação de um referendo para que os moradores da capital alemã decidam sobre o futuro do antigo aeroporto.

Em Berlim, qualquer cidadão pode propor junto ao governo grandes mudanças na cidade. Para promovê-las, porém, a ideia precisa ser aprovada por um determinado número de moradores num referendo, que é convocado se a petição apresentada alcançar as metas previstas na legislação.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

O primeiro passo é o recolhimento de 20 mil assinaturas a favor da proposta para dar início ao processo. Com as assinaturas em mão, a petição é apresentada ao parlamento local para análise. Se a proposta for recusada, os iniciadores da campanha têm quatro meses para recolher 170 mil assinaturas para exigir um referendo sobre o tema. Se a meta for alcançada, o governo precisa promover a consulta popular.

A iniciativa pela manutenção de Tegel completou com sucesso estas etapas e, por isso, no dia 24 de setembro, os berlinenses, além de ir às urnas para escolher o novo governo alemão, vão também decidir sobre o futuro do antigo aeroporto.

O principal argumento dos defensores de Tegel é que o novo aeroporto abrirá suas portas já precisando de ampliações, pois o número de passageiros previsto no projeto final é bem menor do que o fluxo que chega atualmente à cidade. Alegam ainda que toda grande metrópole possui mais de um aeroporto.

Já o governo argumenta que a manutenção de Tegel, inaugurado em 1974, exigiria uma reforma no local que pode custar até um bilhão de euros. E quando o novo aeroporto estiver pronto, diz não haveria mais a demanda para um segundo aeroporto em Berlim.

Entendo os defensores, Tegel é um aeroporto prático, fica quase no centro, com acesso rápido de ônibus. Já o BER fica numa região bem mais afastada, fora de Berlim. Há mais de dez anos, porém, foi decidido investir num novo aeroporto, em vez de reformar os antigos, que eram três – Tempelhof (fechado em 2008), Tegel e Schönefeld (que fica próximo ao novo).

Bilhões de euros foram investidos no projeto, que se revelou um desastre, mas o espaço está lá e algum dia deve abrir suas portas. Por isso, percebo iniciativa do FDP como um oportunismo eleitoral. A legenda viu na questão uma chance de conquistar eleitores e, provavelmente, também usará o tema na campanha deste ano.

Se o novo aeroporto já tivesse sido inaugurado em 2012, como previsto, não haveria esta discussão. Agora, o governo corre o risco de ter que investir milhões de euros num projeto que não me parece necessário. Para manter Tegel em funcionamento, o referendo precisa, no entanto, da aprovação de mais de 25% dos eleitores cadastrados na cidade, ou seja, mais de 660 mil votos a favor.

Em 2008, o referendo para evitar o fechamento do aeroporto de Tempelhof não conseguiu alcançar essa meta. A grande vantagem do FDP neste ano é que a votação será realizada no mesmo dia da eleição alemã, o que pode levar mais eleitores às urnas e, quem sabe, a uma vitória.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.