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Chega de falsa solidariedade!

6 de fevereiro de 2019

A "solidariedade" do grupo que pichou e depredou a embaixada brasileira em Berlim é perigosa e criminosa. Pois a violência enche de razão o novo governo brasileiro, escreve a colunista Astrid Prange.

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Assim amanheceu a embaixada brasileira após a ação de um grupo de extrema esquerda
Assim amanheceu a embaixada brasileira após a ação de um grupo de extrema esquerdaFoto: DW/Marcio Damasceno

Caros brasileiros,

Confesso que não consigo mais ouvir a palavra "fascista". Nem "antifascista", "feminista" e tampouco "solidariedade". Pois essas palavras são usadas sem critério e fazem parte de um vocabulário da esquerda política que justifica o uso da violência.

Essas palavras também foram usadas para justificar o ato recente contra a embaixada brasileira em Berlim, que amanheceu na última sexta-feira (01/02) coberta de tinta rosa e com janelas e portas de vidro quebradas. "Em solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e à resistência feminista, transgênero e antifascista no Brasil, atacamos a embaixada brasileira. A tinta e o vidro quebrado causaram danos materiais consideráveis."

Com essa frase, termina um texto anônimo, publicado no portal alemão de.indymedia.org, plataforma filiada à rede internacional Indymedia. O site é conhecido na Alemanha por veicular notícias, convocações para manifestações e textos de grupos de esquerda e de extrema esquerda.

Pergunto-me se o MST e a "resistência feminista" foram consultados antes deste ato de "solidariedade". Será que concordaram? Será que já agradeceram? Sentem-se mais seguros e recompensados agora? Será que os funcionários da embaixada brasileira que, como pessoas privadas, durante a campanha eleitoral participaram de manifestações contra Bolsonaro em Berlim, curtiram esse "apoio"?

Francamente: essa "solidariedade" não ajuda a ninguém, pelo contrário. Ela é perigosa, criminosa e politicamente perversa. Pois a violência e o cinismo que sobressaem desse ataque enchem de razão o novo governo brasileiro. É um gol contra para a já sofrida sociedade civil e contra a oposição a Bolsonaro. 

E enche de razão a extrema direita na Alemanha também. Na plataforma em alemão "nachtgespraechblog” (blog de conversa noturna), que de acordo com sua própria definição, propaga o combate à esquerda, o incidente foi logo instrumentalizado: "A Antifa é o único grupo político que propaga abertamente violência na política", comenta o blog. "Enquanto a polícia ainda investiga, a Antifa já assumiu a autoria do ataque à embaixada brasileira".

Para mim, pior ainda que a previsível instrumentalização pela direita é o silêncio da esquerda. Cadê as notas de repúdio ao ato? Nem na página alemã do MST se acha uma notícia sequer.

É o mesmo silêncio que causou estranheza depois da cúpula do G20 em julho 2017 em Hamburgo. Mais de 700 policiais foram agredidos durante o evento, e grupos de extrema esquerda até hoje não se distanciaram da violência. Pelo contrário: defendem o uso dela na luta política.

No post anônimo na Indymedia, uma frase revela a hipocrisia dos autores: "A vida no Brasil está ficando perigosa para todos que não se encaixam na ideologia fanática e fascista dos novos soberanos", diz o texto. Com o "ato de solidariedade" em Berlim, vai ficar mais perigoso ainda. Chega de "solidariedade"!

Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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