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Chegada de delegada muda tom de investigação sobre estupro

30 de maio de 2016

Após delegado questionar crime, nova responsável pelo caso afirma que não há dúvida de que adolescente foi violada e ressalta que imagens bastam para provar violência. "A minha convicção é de que houve estupro", diz.

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Após polêmica, Cristiana Bento assumiu a investigação sobre o estupro da adolescente
Após polêmica, Cristiana Bento assumiu a investigação sobre o estupro da adolescenteFoto: Reuters/S.Moraes

A mudança da coordenação do inquérito sobre o estupro de uma adolescente em uma favela na zona oeste do Rio de Janeiro mudou o tom da investigação. Enquanto o responsável anterior relativizou os fatos, a nova delegada encarregada do caso fez questão de rechaçar qualquer tese que coloca em dúvida a ocorrência do crime.

"A minha convicção é de que houve estupro. Tanto é que está no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. Quero verificar agora a extensão desse estupro. Se foram cinco, dez, 30. O vídeo prova o abuso sexual, além do depoimento da vítima", afirmou Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) e a nova responsável pela investigação, nesta segunda-feira (30/05), em entrevista coletiva.

A delegada pediu a prisão temporária de seis suspeitos de envolvimento no crime, inclusive Lucas Perdomo Duarte Santos e Raí de Souza – este último que assumiu ter feito o vídeo da jovem. Os dois já foram detidos, os outros quatro continuam foragidos.

Os dois jovens atualmente detidos chegaram a prestar depoimento sobre o caso na semana passada, mas foram liberados pelo delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), que era responsável na época pela investigação.

Após ouvir os depoimentos da vítima e dos suspeitos, Thiers chegou a dizer que não sabia se o crime realmente tinha ocorrido. "A polícia só vai pedir algum tipo de prisão se for comprovada a existência do crime e se houver necessidade", afirmou o delegado.

As declarações de Thiers e sua conduta no caso causaram indignação e levaram a advogada da jovem, além do Ministério Público do Rio de Janeiro, a pedir seu afastamento. O delegado foi acusado de estar tratando o caso de forma machista e misógina. A Polícia Civil refutou a acusação e disse que o caso estava sendo tratado de forma técnica e imparcial.

No entanto, após a polêmica, a Polícia Civil decidiu passar a coordenação das investigações para a DCAV, com o objetivo de garantir a proteção da vítima e evitar questionamentos de parcialidade no trabalho investigativo.

Durante a coletiva desta segunda, o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, alegou que a mudança na coordenação da investigação ocorreu porque o "nível de estresse" de Thiers estaria prejudicando o caso. Segundo ele, a conduta do delegado está sendo avaliada.

Laudo do IML

A polícia divulgou ainda que o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) não mostrou indícios de violência. Porém, a nova delegada relativizou o exame, afirmando que se a vítima estiver desacordada, não haverá resistência e, por isso, não aparecem lesões.

Na coletiva, a diretora do IML, Adriane Rego, ressaltou ainda que o exame foi feito quatro dias após ao abuso, o que dificulta a coleta de provas. "Os vestígios se perderam em razão dos vários dias que se passaram. Mas a polícia não pode afirmar que não houve lesão só porque o laudo não constatou", disse.

"Nos crimes sexuais, o exame de corpo de delito é importante, mas não é determinante. Às vezes há lesão, mas foi consentida pela vítima. E pode acontecer de ter havido estupro mesmo não tendo havido lesão", acrescentou.

A delegada Cristiana Bento disse ainda que a investigação corre em segredo na Justiça e que ela não dará detalhes do processo. Com a repercussão do caso e a denúncia, a vítima passou a ser ameaçada de morte e entrou no programa de proteção a crianças e adolescentes.

CN/ots