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China e EUA tentam evitar guerra comercial

Andreas Rostek-Buetti av
7 de janeiro de 2019

Representantes das duas maiores economias do mundo empreendem nova tentativa de desativar a bomba-relógio de um conflito comercial de maior escala. Washington e Pequim manifestam otimismo.

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Bandeira do EUA diante do emblema nacional da China
Negociações bilaterais em Pequim devem durar dois diasFoto: picture alliance/AP/A. wong

Segundo a mídia americana, recentemente, ao preparar as lideranças do Pentágono para o novo ano, o secretário da Defesa Patrick Shanahan – o presidente Donald Trump acabara de demitir o até então chefe do departamento, James Mattis – deu seu conselho: "Sempre pensar na China, China, China."

Shanahan é político de Defesa, e não encarregado de comércio dos Estados Unidos. No entanto, essa citação ilustra quanto está atualmente em jogo na relação entre os dois países. Trata-se não só de um conflito comercial que afeta cada vez mais a economia mundial, mas também de questões de domínio global.

Os linhas-duras do escalão máximo do governo americano não estão diretamente presentes à rodada de negociações de dois dias que se inicia nesta segunda-feira (07/01) em Pequim. O representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, é conhecido por seu profundo ceticismo perante a China; o assessor de Trump para questões comerciais, Peter Navarro, é simplesmente considerado um "falcão". Quem está na capital chinesa é uma delegação encabeçada pelo vice-representante de Comércio, Jeffrey Gerrish.

Do lado chinês, não se sabe quem travará as negociações, e também são parcas as informações sobre o conteúdo destas até o momento: os representantes se concentrarão em produtos agrícolas, energia e automóveis, divulgou Pequim, ainda em dezembro.

Na realidade, há muito mais em jogo. Ambos os lados deverão fechar uma espécie de cessar-fogo, durando inicialmente até 2 de março, o prazo acordado pelo presidente chinês, Xi Jinping, e Trump, na recente conferência do G20 em Buenos Aires. Até lá, estarão suspensas novas tarifas punitivas, inclusive a já anunciada elevação dos impostos aduaneiros sobre mercadorias chinesas, totalizando 200 bilhões de dólares.

Ainda assim, o cenário de ameaças já é impressionante, e os mercados financeiros internacionais refletem a apreensão quanto às consequências funestas para a economia mundial: desde o fim de 2018, fortes turbulências sacodem as bolsas de valores de Nova York, Tóquio, Frankfurt e outras.

Banquete com líderes mundiais na cúpula do G20 em Buenos Aires, dezembro de 2018
Xi Jinping e Trump em cúpula do G20 em Buenos Aires: aparência de entendimento em clima de ameaçasFoto: picture alliance/dpa

Ataques recíprocos e otimismo

Há meses, as duas maiores economias do mundo vêm aplicando mutuamente tarifas sobre toda uma série de produtos. Os EUA impuseram taxas extraordinárias de 250 bilhões de dólares; Pequim rebateu com medidas retaliatórias, embora não no mesmo valor.

No meio tempo, Washington cuidou para que fosse presa no Canadá uma diretora financeira da empresa de telecomunicações chinesa Huawei; a China reagiu imediatamente, detendo cidadãos canadenses em seu território.

Pouco antes da virada do ano, os dois chefes de Estado conversaram novamente ao telefone, tentando em seguida aparentar otimismo. Trump escreveu no Twitter: "O acordo está avançando muito bem", "Grande progresso sendo feito!" E, Pequim, por sua vez: "Esperamos que ambas as equipes se encontrem no meio do caminho, trabalhem duro e alcancem logo o fechamento de um acordo."

Neste domingo, Trump reforçou: "Eu acho realmente que eles querem fazer um acordo", e mais uma vez classificou a debilidade conjuntural da China como uma vantagem para os EUA.

Contudo parece mais do que questionável se um avanço será de fato alcançado. As ressalvas de Trump e seu governo aos chineses são categóricas: segundo eles, o país rejeita uma abertura real de seus mercados, rouba know-how alheio, ou obriga as empresas estrangeiras a revelarem seu saber tecnológico. Além disso, sua política subvencionista sistemática, como o programa Made in China 2025, impede a livre concorrência. Tudo isso precisa mudar, diz Trump.

"A China teria que fazer concessões abrangentes aos EUA em pontos centrais", afirma à DW Rajiv Biswas, economista-chefe para a Ásia do serviço britânico de informações econômicas IHS Markit.

Também Jin Canrong, vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Popular de Pequim, considera "otimista demais" a perspectiva de um acerto dentro de 90 dias.

Desde já, observadores internacionais apelam para a história na tentativa de explicar o atual conflito. Num extenso artigo de análise, a revista alemã Der Spiegel  menciona a "armadilha de Tucídides", termo cunhado pelo cientista político Graham Allison: como na guerra entre Esparta e a emergente Atenas, observada pelo historiador grego Tucídides, quando uma potência tenta superar outra, em geral o resultado é guerra.

A corrida da China em relação aos EUA é, de fato, vertiginosa. Na época da grande crise financeira de 2008, o desempenho comercial americano era três vezes superior ao chinês. Desde então, este quase triplicou, mas o dos EUA é atualmente apenas um terço maior. Nesse passo, ambas as economias nacionais estarão equiparadas por volta de 2030.

Entretanto trata-se de um problema que dificilmente se resolverá até 2 de março de 2019. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a guerra comercial vá ter efeitos negativos para o crescimento econômico de ambos os países: 0,2% a menos para a China, assim como um ligeiro enfraquecimento para os EUA. E a ameaça se estende igualmente a outras regiões do planeta.

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