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China intensifica corrida pelo petróleo sul-americano

Fernando Caulyt11 de outubro de 2013

Chineses expandem troca de créditos por petróleo de Equador e Venezuela e vão participar de concorrência do pré-sal no Brasil. Interesse, porém, não é só econômico: Pequim quer também apoio político dos países da região.

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Foto: picture-alliance/dpa

Na mitologia chinesa, o dragão representa a energia do fogo e a transformação. E a China pode ser comparada a um dragão – faminto e à busca, cada vez mais, de recursos naturais como o petróleo. Segunda maior economia do mundo, o gigante asiático vem tentando intensificar sua aproximação de países como Brasil, Venezuela e Equador à procura de matérias-primas para garantir suas altas taxas de crescimento e sua segurança energética.

A dependência de Pequim de matéria-prima estrangeira se nota, por exemplo, nos contínuos créditos chineses em troca do petróleo da Venezuela e do Equador, além do interesse de três estatais do país em participar do primeiro leilão do pré-sal brasileiro, marcado para outubro deste ano.

"Como a China chegou ‘atrasada’ à disputa internacional de hidrocarbonetos e as principais reservas de petróleo já estavam sendo exploradas por empresas ocidentais, o país desenvolveu uma estratégia que prioriza a penetração em países onde não há forte competição externa de empresas ocidentais", afirma Henrique Altemani de Oliveira, professor de relações internacionais da Universidade Estadual da Paraíba. "Assim, ela evita confrontação com os EUA e as potências europeias."

Por trás da necessidade de petróleo para ajudar no crescimento econômico também está uma estratégia geopolítica da China: a obtenção de apoio de diferentes países sul-americano.

"O apoio político dos países da América do Sul, como também os da África, apresenta-se como um trunfo mais do que importante nos fóruns negociadores internacionais que utilizam o princípio do voto quantitativo. O interesse quanto à América do Sul cresce de importância quando ainda se considera que a região está na área de influência dos EUA", diz Altemani.

Crédito por petróleo

China e Venezuela vêm expandindo a cooperação comercial nos últimos anos. Desde 2007, o gigante asiático emprestou cerca de 41 bilhões de dólares ao país sul-americano – crédito que está sendo expandido de forma recorrente. Em setembro passado, o presidente Nicolás Maduro visitou o presidente chinês, Xi Jinping, e reforçou a cooperação.

Xi Jinping und Nicolas Maduro in Peking
Nicolás Maduro reforçou laços com a China após visitar Xi Jinping, em setembroFoto: picture-alliance/dpa

A Venezuela paga os créditos por meio de petróleo – exporta cerca de 310 mil barris por dia para o país asiático por meio da estatal PDVSA. Os yuanes recebidos são utilizados em projetos assistencialistas do governo, em obras de infraestrutura e no financiamento de importações de produtos básicos e grandes projetos petrolíferos.

"A China tem assegurado o seu abastecimento de petróleo por mais de dez anos com a Venezuela, que conta com a maior reserva mundial de petróleo pesado", diz Ana Soliz Landivar, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo. "Uma das características da China é assegurar o seu abastecimento por meio do desembolso imediato de créditos em troca de contratos a longo prazo com um preço fixo por barril de petróleo."

Parceria com Equador

O Congresso do Equador autorizou, no início de novembro, a exploração de petróleo no Parque Nacional de Yasuní, na Amazônia. A extração de petróleo no parque, que possui a maior reserva de petróleo do país e uma das maiores biodiversidades do mundo, teria sido motivada também por pressão da China.

De acordo com especialistas, o Equador depende cada vez mais dos empréstimos enviados por Pequim. Desde 2008, quando decretou moratória de parte de sua dívida externa, Quito passou a ter nos chineses seus principais credores. A China anunciou em julho, inclusive, que vai investir na construção de uma refinaria no Equador, no valor de cerca de 12 bilhões de dólares, para suprir a demanda interna de derivados do país sul-americano.

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Criança da etnia Waorani, do parque Yasuní: extração de petróleo no local teria sido por pressão da ChinaFoto: Rodrigo Buendia/AFP/Getty Images

"A aproximação chinesa em relação aos países sul-americanos pode ser prejudicial se não for negociado de maneira a preservar as riquezas naturais e a cultura tradicional associada ao meio ambiente", diz Thiago Gehre Galvão, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). "Mas pode ser positiva se a presença chinesa for moderada por contratos que protejam os interesses dos países da região e sua sociedade, empresas e empregos."

Na briga pelo pré-sal

Três estatais chinesas se inscreveram para participar do leilão do megacampo de petróleo Libra – o primeiro da camada pré-sal, a ser realizado em 21 de outubro. As empresas chinesas Sinopec, Sinochem e CNPC (China National Petroleum Corporation) vão disputar com outras oito companhias o maior campo descoberto, até agora, no pré-sal.

Estima-se que o campo de Libra tenha de 8 a 12 bilhões de barris, sendo que, atualmente, as reservas brasileiras comprovadas correspondem a cerca de 15 bilhões de barris. O prazo do contrato será de 35 anos, não renováveis, e espera-se que a vencedora do leilão realize um investimento de cerca de 200 bilhões de dólares durante a exploração do campo.

Dilma Rousseff
Governo Dilma definiu que Petrobras vai ter, no mínimo, 30% do consórcio que vencer campo de LibraFoto: Evaristo Sa/AFP/Getty Images

A participação obrigatória da Petrobras, de no mínimo 30% do consórcio vencedor, desanimou grandes multinacionais, como as americanas Exxon e Chevron, além das britânicas BP e BG, mas não as estatais chinesas, que confirmaram o interesse pelas gigantescas reservas de petróleo do país.

"São restrições que, para empresas privadas, significam controle e risco de interferência na gestão. O caso chinês é diferente, pois a participação deles é feita por conta do interesse estratégico de longo prazo", diz o economista Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "A China entra na disputa não apenas com o objetivo de ter lucro, mas para obter mais uma fonte de suprimento."