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França

11 de março de 2007

O presidente francês não pretende se recandidatar, encerrando assim sua carreira política, após doze anos no Palácio do Eliseu.

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Após 45 anos de carreira políticaFoto: AP

O presidente francês, Jacques Chirac, anunciou que não vai se candidatar a um terceiro mandato. "Não vou me esforçar para obter seu apoio para um novo mandato", declarou Chirac num pronunciamento à televisão francesa, no domingo (11/03). Com isso, ele confirma as expectativas de se afastar da política ativa após 45 anos.

Durante 12 anos, o político conservador determinou o destino da França como presidente. Com exceção de François Mitterrand, nenhum outro político – nem Charles de Gaulle – se manteve tanto tempo no poder.

No entanto, o balanço de Jacques Chirac não é dos melhores. Os franceses estão fartos deste político de 74 anos, que conseguiu se manter no poder com surpreendente versatilidade, grande instinto de poder e uma certa falta de princípios.

O mais tardar após o fracasso político do plebiscito francês, que brecou a Constituição européia em 2005, considerava-se a carreira de Chirac liquidada. No entanto, contrariando toda lógica gaullista, Chirac não renunciou à presidência – algo sintomático de um político sem grandeza histórica, que nunca hesitou em colocar seus interesses pessoais acima dos interesses da nação. Ele entra para a história como o protótipo de uma casta política que não pensa duas vezes antes de se servir dos cofres públicos para financiar seu partido.

Contra todos os tipos de totalitarismo

Isso não significa que Chirac não tenha convicções morais. Um de seus grandes méritos como presidente foi reconhecer a culpa da França na perseguição dos judeus durante o regime Vichy. Logo no começo de seu primeiro mandato, em 1995 (quando a Alemanha era governada por Helmut Kohl e o Reino Unido por John Major), Chirac pôs fim às inverdades mantidas desde o pós-guerra.

Além disso, ele combateu frontalmente os extremistas de direita da Frente Nacional de Jean-Marie le Pen. "Para mim, é quase corporal. Não suporto qualquer tipo de racismo e xenofobia", afirma ele no livro de entrevistas L'Inconnu de l'Élysée (O desconhecido do Eliseu, org. Pierre Péan), com o qual tentou preparar os franceses para a sua despedida.

Algo que pouco se comenta foi seu empenho por maior segurança no trânsito. Após sua reeleição, em 2002, ele declarou que uma das três prioridades de seu mandato seria reduzir drasticamente o número de mortos em acidentes de trânsito. Com a criação de radares fixos, controles policiais mais rigorosos e campanhas na mídia, ele conseguiu de fato reduzir o número anual de vítimas para cinco mil, o que corresponde a 43% em cinco anos.

Na política externa, Chirac se transformou em um europeu mais convicto. Apesar de continuar defendendo insistentemente os interesses franceses, ele se deixou convencer da importância da Europa e da proximidade com a Alemanha. A ânsia unilateral de poder de um George Bush nunca fez o seu gênero. Como opositor veemente da guerra no Iraque, Chirac conquistou grande popularidade em 2002 e 2003.

Promessas não cumpridas

Já em 1995, ele havia prometido aos franceses reagir contra a deterioração social no país. Os conflitos sociais na periferia das grandes cidades francesas em 2005 soaram como o eco ominoso de uma promessa não cumprida.

Mas no decorrer do tempo, os franceses aprenderam a não levar tão a sério as promessas eleitorais de Jacques. Como prefeito de Paris, ele prometeu sanear o Sena a ponto de se poder nadar no rio que atravessa a capital francesa. Isso foi em 1978. Nesta época, Chirac já se preparava – às custas dos cofres da cidade de Paris – para conquistar o Palácio do Eliseu. Duas vezes ele foi derrotado por Mitterrand.

Mas, uma vez no poder, Chirac permaneceu 12 longos anos. Nem sequer os escândalos de corrupção, cujas investigações ele conseguiu impedir através de sua imunidade parlamentar, bastaram para derrubá-lo. Sua renúncia a uma recandidatura é apenas uma nota de rodapé na atual disputa eleitoral pelo Palácio do Eliseu. A grande maioria dos franceses não quer vê-lo reeleito e os institutos de pesquisas até deixaram de perguntar por ele nas últimas semanas.

(ap / sm)