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Ciência

11 de maio de 2009

Plantas podem ser mais inteligentes do que parecem. Elas não têm cérebro como os animais, mas desempenham funções semelhantes às cerebrais, argumentam cientistas alemães.

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Extremidades das raízes registram presença de luz ou substância tóxicaFoto: picture-alliance/dpa

Em conjunto com a equipe de pesquisadores de Stefano Mancuso, de Florença, na Itália, o cientista Frantisek Baluska, de Bonn, descobriu, em raízes vegetais, funções semelhantes às cerebrais. Estruturas citológicas, analisadas com auxílio de um microscópio, se assemelham a células cerebrais animais, afirmam os cientistas. "Esta pesquisa está, todavia, no começo", salienta Baluska. Por isso, ele prefere não falar de um "cérebro vegetal", mas usar a expressão "central de comando".

Como bolsista da Fundação Humboldt, o eslovaco Frantisek Baluska veio pela primeira vez à Alemanha nos anos de 1990. Hoje, ele pesquisa como livre docente nas universidades de Bonn e Bratislava. Para explicar o conteúdo de sua pesquisa, Baluska mostra, na tela de seu computador, a representação esquemática da extremidade de uma raiz.

Células da ponta da raiz

As linhas desenhadas sobre a imagem se assemelham, na tela do computador de Baluska, a um circuito. O cientista chama a atenção para uma determinada zona: uma camada de células acima da extremidade da raiz. Ele explica que tais células têm propriedades semelhantes àquelas do cérebro animal. São células muito ativas, embora não cresçam nem desempenhem outras funções especiais.

Elas transportam ínfimas bolhinhas (vesículas), preenchidas com substâncias, de um lado a outro. Microfilamentos de proteínas (filamentos de actina) conduzem as vesículas de transporte através das células. Trata-se dos mesmos filamentos de proteínas do esqueleto celular, responsáveis pelo movimento dos músculos tanto nos animais quanto no ser humano.

Schaltplan einer Maiswurzel
Representação de raiz de milhoFoto: DW / Michael Lange

"Algumas estruturas que encontramos remontam às sinapses, pontos de transmissão de estímulos entre as células nervosas", explica Baluska. Ali são trabalhadas informações que influenciam diretamente o comportamento das raízes. As extremidades das raízes registram, por exemplo, a presença de luz ou de alguma substância tóxica. A informação é então transportada para a região anterior à extremidade. Ali, os dados são registrados e repassados para as zonas de crescimento da raiz. A partir deste momento, a raiz passa a saber em que direção ela deve crescer e reage a essa informação dentro de apenas algumas horas.

"Essa forma de trabalho pouco se diferencia do cérebro no reino animal", afirma Baluska. O que acontece aqui no reino vegetal se assemelha a um sistema nervoso. Essa estrutura, segundo o cientista, executa as mesmas tarefas, embora apresente uma constituição bastante distinta. Essa interpretação de Baluska costuma suscitar críticas frequentes de outros especialistas.

Interação com mundo exterior

Blätter der Saubohne mit Mess-Elektroden
Medição de impulsos em folhaFoto: DW / Michael Lange

O botânico Hubert Felle, da Universidade de Giessen, por exemplo, também estuda sinais em tecidos vegetais. No entanto, ele se expressa de forma bem mais cuidadosa que Baluska. Há muitos anos, Felle vem medindo sinais elétricos nas folhas de diversas espécies de plantas. No entanto, ele prefere não chamar isso de sistema nervoso botânico ou de neurobiologia vegetal. Felle, contudo, está também convencido de que as plantas utilizam sinais elétricos para reagir ao mundo exterior. Assim, elas têm a possibilidade de reagir a inimigos, como pulgões ou larvas.

Felle desenvolveu aparelhos especialmente para a pesquisa, com os quais consegue medir a transmissão de sinais elétricos. Com uma lâmina, ele provoca um "ferimento" numa folha de feijão, o que desencadeia um fluxo de impulsos elétricos de folha para folha. Felle salienta que não se pode falar aqui, contudo, de "dor" ou de "sensações vegetais".

Trata-se de sinais que possibilitam à planta uma reação de defesa. Segundo Felle, a velocidade desses sinais é, no entanto, relativamente baixa. Em um segundo, o sinal vegetal não consegue atingir nem mesmo um centímetro.

Nesse mesmo espaço de tempo, um sinal nervoso de um mamífero percorreria tranquilamente cem metros. Nas plantas, o envio de sinais é cerca de 10 mil vezes mais lento que nos animais. Resumindo: as plantas não são mais burras que os animais, elas só vivem em outra esfera de tempo.

Autor: Michael Lange

Revisão: Rodrigo Abdelmalack