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Cientistas criam cimento que emite 50% menos CO2

Magali Moser20 de abril de 2013

Brasil é referência no estudo que tem reconhecimento internacional. Desafio agora é disponibilizar a tecnologia em escala industrial.

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Foto: picture-alliance/dpa

Se por um lado a indústria de cimento é considerada um dos principais indicadores de desenvolvimento de uma nação, por outro, também gera impactos ambientais devastadores: é responsável por 5% a 8% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Uma pesquisa recente para diminuir os efeitos nocivos desta indústria vem da Universidade de São Paulo (USP), que apresentou esta semana uma mudança na fórmula do cimento convencional. Com reconhecimento mundial, a nova fórmula promete reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) na produção de cimento em até 50% e, com isso, também o impacto ambiental dessa indústria.

"Esta pesquisa é uma rara oportunidade para pesquisadores das áreas da engenharia civil e de materiais de construção contribuírem para a questão das mudanças climáticas. Isso mostra que é possível reduzir os impactos ambientais de maneira significativa, sem aumento de custo", considera o professor Vanderley John, da Escola Politécnica da USP e um dos autores do estudo.

Entenda a pesquisa

Um saco de cimento é composto por materiais reativos, isto é, produtos que reagem com a água e formam uma "pedra". Entre eles está o clínquer, que precisa ser fundido a altas temperaturas. Para cada tonelada de clínquer fabricada, uma tonelada de CO2 é emitida na atmosfera com a queima de combustível para aquecer os fornos.

Há algum tempo, a indústria descobriu que era possível substituir o clínquer – responsável por 90% das emissões de CO2 do cimento – por um material inerte: o calcário moído ultra-fino. A indústria já faz isso de forma limitada. Mas a equipe da USP demonstrou ser possível ir mais longe, produzindo cimento com 70% de calcário ultra-fino (que não precisa ir ao forno) e 30% de material reativo.

Assim, a pesquisa mostrou que a produção de cimento pode dobrar, sem aumentar as emissões globais de CO2, já que não é preciso investir em fornos nem queimar mais combustível. Um dos avanços também foi mostrar que é possível resolver o problema das emissões de CO2 do cimento sem elevar o custo, garantindo aos países em desenvolvimento acesso a um material barato e sustentável.

 "Não vamos patentear esse conceito. Queremos criar um movimento mundial. Nosso objetivo é que a nova fórmula venha a se tornar uma solução para todos os fabricantes de cimento e, por consequência, de todos os consumidores", explica o pesquisador.

O estudo levou 12 anos para ser concluído. O doutorando que participa da pesquisa, Bruno Damineli, recebeu dois prêmios no exterior, entre eles uma menção honrosa no Holcim Forum 2013, em Mumbai, na Índia, dia 13 de abril. Ele também ganhou no ano passado um prêmio internacional para concretos de baixo consumo do Instituto Sueco de Cimento e Concreto (CBI), que reúne a cadeia produtiva do país.

Demanda por cimento tende a aumentar

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Indústria cimenteira é a que mais emite CO2 no planeta, sendo responsável por pelo menos 5% das emissões totaisFoto: picture-alliance/dpa

Segundo estimativas, a produção de cimento nos países em desenvolvimento deve dobrar nos próximos 40 anos. Com o cimento poluente convencional, a participação da indústria cimenteira nas emissões globais de CO2 pode passar dos 20%, de acordo com um estudo da organização ambientalista WWF em parceria com a Lafarge, uma das líderes mundiais na produção de materiais de construção.

Por meio do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês) a indústria pensa em adotar uma estratégia de sequestro de carbono que deverá exigir investimentos acima de 500 milhões de dólares e aumentar significativamente o custo do cimento, o que teria consequências sociais nos países em desenvolvimento.

Em média, o consumo mundial de cimento é de 440 quilos por pessoa, por ano, segundo o professor John. "É quase a mesma quantidade consumida de comida", compara.  Até 2050, a previsão é de que a demanda por cimento aumente em todo o mundo, já que o material é considerado decisivo para o desenvolvimento, especialmente para melhorar a infraestrutura. "Cimento é um bem fundamental nos países em desenvovlimento. Ainda precisaremos de muito cimento para conseguir construir ambientes adequados", avalia o professor.

Com a nova tecnologia de baixo impacto ambiental desenvolvida na USP, acredita-se que seja possível mudar a indústria do cimento rapidamente. Isso pode significar de 10% a 15% a menos de CO2 emitido no planeta até o ano 2050. Os pesquisadores negociam agora parcerias com a indústria para aperfeiçoar a tecnologia e aplicá-la na produção.

 "O que ainda será um desafio é colocar esta tecnologia na produção atual de quase 4 bilhões de toneladas de cimento por ano. Isso vai requerer muita pesquisa e desenvolvimento industrial", ressalta John.