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Cientistas rejeitam terceira dose para população em geral

14 de setembro de 2021

Em artigo publicado na "The Lancet", equipe internacional de cientistas diz que vacinas são eficazes na prevenção de quadros graves de covid e que prioridade deve ser inocular quem ainda não teve acesso à imunização.

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Homem recebendo injeção no braço
Cientistas dizem ser mais importante direcionar doses para países que precisam do que aplicar terceira dose na populaçãoFoto: Mortuza Rashed/DW

Um grupo de especialistas de alto nível se opõe a vacinações de reforço contra o coronavírus na população em geral neste momento da pandemia de covid-19.

Os autores de um estudo de âmbito internacional publicado nesta segunda-feira (13/09) pela revista científica The Lancet afirmam que uma dose de reforço não é "apropriada" atualmente para ser ministrada de forma ampla, devido à elevada eficácia das vacinas atuais na prevenção de casos graves da doença, incluindo a variante delta do novo coronavírus.

A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional que inclui cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras instituições, como a agência americana FDA, avaliou dados de diversos testes clínicos e estudos observacionais publicados sobre o desempenho das vacinas.

Com base na análise, os especialistas constataram que as vacinas existentes "permanecem altamente eficazes contra doenças graves", incluindo as produzidas pelas variantes de maior risco.

De acordo com uma média de resultados de estudos de observação, a vacinação atual mostra 95% de eficácia contra casos graves, tanto nas variantes delta como alfa, e 80% de eficácia contra a infecção por qualquer uma das variantes.

Em todos os tipos e variantes de vacinas, a proteção é mais elevada contra casos graves do que contra leves, segundo os cientistas.

Não vacinados são maior ameaça

Os autores acrescentam que, embora se saiba que as vacinas são um pouco menos eficazes contra a covid-19 assintomática e a sua transmissão, em populações com elevadas taxas de inoculação é a minoria não vacinada que é o principal vetor de infecção, bem como o grupo com maior risco de desenvolver quadros graves de covid-19.

Os especialistas salientam que mesmo que os anticorpos contra o vírus nas pessoas vacinadas diminuam com o tempo, isso "não significa necessariamente uma redução na eficácia das vacinas contra doenças graves".

"No seu conjunto, os estudos disponíveis não fornecem provas críveis de que existe um declínio substancial na proteção contra doenças graves, que é o principal objetivo da vacinação", diz Ana Maria Henao-Restrepo, uma das autoras do estudo.

Prioridade para não inoculados

Ela argumenta que, diante do fornecimento ainda limitado de vacinas, o maior número de vidas pode ser salvo se os imunizantes "forem oferecidos a pessoas que estejam em risco maior de desenvolverem quadros graves da doença e que ainda não foram vacinadas".

Mesmo que houvesse em última análise algum benefício em administrar a vacina de reforço, não compensaria os benefícios de proporcionar essa proteção inicial a pessoas que ainda não foram inoculadas, segundo a especialista.

Henao-Restrepo assinala que, se as vacinas forem administradas onde são mais necessárias, isso "pode acelerar o fim da pandemia, inibindo a evolução das variantes".

Os especialistas dizem que se as vacinas de reforço forem eventualmente utilizadas, as circunstâncias específicas e os grupos populacionais em que os benefícios são superiores aos riscos terão de ser identificados.

Apelo da OMS

Em alguns países ricos já foi anunciada uma dose de reforço, enquanto em outros lugares quase ninguém ainda foi vacinado. Israel começou a aplicar a terceira dose em maiores de 60 anos no fim de julho.

O Brasil decidiu começar a aplicação da terceira dose da vacina contra a covid-19 em setembro. No início da fila estão idosos e imunossuprimidos, segundo anunciou em agosto o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

A OMS apela desde o início de agosto por uma paralisação temporária de vacinações de reforço contra o coronavírus enquanto países mais pobres ainda esperam por doses de vacina.

Os autores do estudo publicado na The Lancet reconhecem ser possível que, em algum momento futuro, um reforço possa ser necessário para todos devido a uma queda do efeito protetor dos inoculantes ou pelo surgimento de variantes que sejam mais resistentes. Entretanto, destacam que ainda não há nenhuma evidência clara de que isto já esteja ocorrendo. Vacinações adicionais poderiam, porém, ser cogitadas neste momento para determinados grupos de pessoas, por exemplo, aqueles com imunodeficiência.

md/lf (EFE, Reuters, DPA)