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Entre inovação e fantasmas

28 de julho de 2009

De seu criador antissemita a uma entrevista infeliz, passando pela predileção de Hitler, Bayreuth muito teve que lutar com uma história pouco honrosa – e uma forte queda para a fofoca. Sua nova direção é a esperança.

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Irene Theorin, Michelle Breedt e Robert Dean Smith em 'Trstão e Isolda'Foto: AP
Schweißfleck-Affäre: CDU Kanzlerkandidatin Angela Merkel mit ihrem Ehemann Joachim Sauer, rechts, bei der Ankunft zur Eroeffnung der Wagner-Festspiele in Bayreuth
'Escândalo da mancha de suor' em 2005: Merkel, ainda candidata, em Bayreuth ao lado do maridoFoto: dpa

Novos ventos sopram na casa de festivais de Bayreuth. Em grande parte, graças a uma mulher de 31 anos, loura, alta e vistosa. Seu nome é Katharina Wagner, bisneta do compositor e filha de Wolfgang Wagner, que durante meio século dirigiu o teatro dedicado à ópera wagneriana.

Também em 2009, o grande espetáculo começou antes da ópera, com a chegada triunfal dos VIPs, dos ricos e poderosos à chamada "Colina Verde". Nessas horas a coluna social é, definitivamente, mais importante do que a arte.

Por exemplo, quando chegou a chefe de governo alemã, Angela Merkel, e a grande pergunta era: será que ela mais uma vez suou o vestido antes mesmo do primeiro ato? Afinal, o alto verão europeu pode castigar e esta não seria a primeira vez que o "escândalo da mancha de suor" faz tremer a nação.

Wagner e o nazismo

Mas as celebridades não apenas dão brilho ao Festival Wagner. Elas também são parte do dilema em que o evento há décadas se debate. Pois, antes da Segunda Guerra Mundial, o principal convidado de honra, tanto nas récitas quanto na casa da família, era ninguém menos que Adolf Hitler. O líder do regime nazista na Alemanha era um wagneriano ardoroso e ligado aos Wagner por laços estreitos de amizade.

Winifred Wagner und Adolf Hitler, Kalenderblatt
Winifred Wagner e Hitler inauguram memorial Wagner em 6 de março de 1934Foto: picture-alliance/dpa

Especulou-se muito, em livros, palestras e conversas informais, se Richard Wagner (1813-1883) foi uma espécie de precursor do nazismo e de sua ideologia de desprezo humano. Essa questão continua sem resposta. No entanto, está mais do que comprovado que ele era antissemita, sendo grande parte das provas de seu próprio punho, inclusive um infame Tratado sobre o judaísmo na música.

Desde sua inauguração, em 1876, a direção do Festival de Bayreuth tem estado nas mãos do clã familiar. Com a morte do herdeiro Siegfried, em 1930, sua viúva, a inglesa Winifred Wagner (1897-1980), assumiu as rédeas dos negócios. Ela era nacional-socialista convicta, filiada ao partido desde 1926, e cultivava uma relação singularmente estreita com Hitler. Dez anos antes dele se tornar chanceler alemão, Winifred já o introduzira à família Wagner.

Hitler era um convidado bem-vindo, tanto na esfera privada, na Vila Wahnfried, quanto como espectador no teatro do festival. O historiador e ideólogo do racismo Houston Stewart Chamberlain, também inglês e casado com Eva, filha do compositor, era outro pilar nazista dentro do clã.

Caduquices de velha?

Mesmo muito tempo depois da queda do Terceiro Reich e da morte do líder nazista, Winifred Wagner permaneceu fiel a sua memória. Trinta anos após o fim da guerra, ela afirmava que só via em Hitler um amigo; ela ficaria feliz se ele entrasse pela porta.

Essa declaração, que escapou durante uma conversa com o diretor de cinema Jürgen Syberberg em 1975, causou grande celeuma. Os filhos Wieland e Wolfgang se esforçaram por minorar as consequências da gafe e tirar Winifred – e a família como um todo – da linha de fogo, rotulando a frase como caduquices de uma velha senhora.

Wieland declarou publicamente que sua mãe não estava em condições de ser levada a sério. "Ela acredita até hoje na guerra total!", desculpou-se. Porém, isso não impediu que uma "sombra marrom" – o fantasma do nazismo – pairasse durante longo tempo sobre o Festival Wagner.

A importância de ser bonita

Bayreuth Siegfried 1951
Histórica montagem de 'Tristão e Isolda' de Wieland Wagner, em 1951Foto: picture-alliance/dpa

Em 1951, os dois irmãos assumiram conjuntamente a direção do Festival Richard Wagner. Os netos do compositor conseguiram reavivar o evento que se arrastava tanto artística como financeiramente desde o fim da Segunda Guerra. Após a morte de Wieland, a força artística do duo, em 1966, Wolfgang Wagner passou a arcar sozinho com Bayreuth.

Só em 2008, e após longas especulações, jogos de poder e brigas de bastidores, suas sucessoras na regência da meca operística se tornaram as meias-irmãs Katharina Wagner e Eva Wagner-Pasquier. No entanto, é Katharina quem domina a ribalta.

Isso talvez se deva a sua juventude ou a sua beleza: mulher de altura imponente, com uma certa aura de glamour, ela é alvo preferencial da imprensa. Mesmo articulistas sérios dedicaram páginas e páginas à aparência da jovem empresária e diretora de cena.

Apenas sete anos

Christoph Marthaler, Direktor des Schauspielhauses Zürich
Christoph Marthaler abriu o festival em 2009Foto: AP

Embora tenham começado a codeterminar os novos destinos de Bayreuth no ano passado, Katharina e Eva assumiram efetivamente a direção do festival em 2009. E já introduziram mudanças históricas, com a transmissão ao vivo e em HDTV da récita inaugural de Tristão e Isolda de Christoph Marthaler pela internet. E O navio fantasma foi apresentado pela primeira vez numa versão adaptada para crianças.

Cabe esperar se o vento fresco que sopra sobre a Colina Verde trará mudanças duradouras. Pois as novas diretoras não terão muito tempo para arejar a casa. Todos seus antecessores, do pai e tio até o bisavô e sua viúva, tiveram cargo vitalício. Mas também nisso os tempos mudaram: Eva e Katharina têm contrato por tempo limitado, e ele expira em sete anos.

Autores: Dirk Kaufmann /Augusto Valente
Revisão: Rodrigo Rimon

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