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Clima em Curitiba é de incerteza antes da decisão da Fifa

Clarissa Neher, de Curitiba17 de fevereiro de 2014

Prefeitura garante que estádio estará pronto a tempo, mas ritmo das obras, que durante o domingo não andaram, deixa dúvidas. Entidade máxima do futebol já teria plano B, que seria levar jogos para outras três cidades.

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Foto: DW/C. Neher

Em Curitiba, o clima é de incerteza na véspera da decisão da Fifa, marcada para esta terça-feira (18/02), sobre a permanência da cidade como sede da Copa de 2014. Do lado de fora do estádio, é difícil prever se as obras serão concluídas a tempo para o Mundial. O ritmo de trabalho parece lento para uma situação emergencial.

No domingo (16/02), dois dias antes da visita da comitiva da Fifa que decidirá o futuro da cidade, o canteiro de obras estava parado. Segundo reportagem do Bom Dia Paraná, jornal da filial local da Rede Globo, nenhum operário trabalhava na Arena da Baixada nesse dia. A Prefeitura, porém, garante que a construção está evoluindo.

“Houve uma evolução visível após a última visita do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. O ritmo voltou ao normal no canteiro de obras, as questões financeiras já foram praticamente resolvidas. Não vemos mais com preocupação”, afirma Reginaldo Cordeiro, secretário municipal da Copa do Mundo, em entrevista à DW Brasil.

Segundo Cordeiro, as obras avançaram bastante no último mês. O gramado já foi colocado, a cobertura metálica deve ficar pronta nesta semana, uma grande parte das cadeiras já foi instalada. Além disso, os acabamentos nos vestiários, lanchonetes e lojas foram iniciados. Pendentes ainda estão a parte elétrica, de transmissão e iluminação, além de pontos de tecnologia de informação.

Decisão só na terça

A visita para verificar o andamento das obras, nesta terça-feira, é esperada com ansiedade. Neste mesmo dia Valcke deve comunicar por telefone a decisão ao prefeito da cidade, Gustavo Fruet, e ao governador do Paraná, Beto Richa. E, depois, fará o anúncio público.

Com a aproximação desta data, cresceu também a especulação na imprensa sobre a permanência da cidade no Mundial. Nesta segunda-feira (17/02), no entanto, Valcke garantiu que nenhuma decisão ainda foi tomada.

"Temos um time técnico que vai até Curitiba, e então vamos dar a resposta final. Não estamos fazendo isso apenas pelo prazer de deixar todos esperando, mas haverá pessoas que vão lá amanhã [terça-feira] para apresentar um relatório final", disse Valcke em Brasília.

Fifa-Generalsekretär Jérôme Valcke in Brasilien
O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, diz que nenhuma decisão ainda foi tomadaFoto: Reuters

A emissora ESPN e rádios argentinas noticiaram que a Fifa já tem um plano alternativo para as quatro partidas da primeira fase que seriam disputadas em Curitiba. Os jogos seriam transferidos para São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Estádio de menor investimento

Apesar da incerteza, o Atlético Paranaense, o governo do estado do Paraná e a Prefeitura de Curitiba tentam tranquilizar a população, garantindo que tomaram todas as providências estipuladas pela Fifa para que as obras na Arena da Baixada sejam concluídas até o final de abril.

Desde o ultimato de Valcke, no dia 21 de janeiro, o número de operários passou de 908 para 1.200 na semana passada. Nesta segunda-feira, a expectativa era que o aumento chegasse a 1.370. A única exigência da entidade que ainda não foi cumprida é a liberação do empréstimo de 65 milhões de reais pelo BNDES para a conclusão das obras – o que pode acontecer em breve, segundo a Prefeitura.

A Arena da Baixada era o estádio que precisaria de menos intervenções entre os 12 da Copa. Seu orçamento inicial era de 184,5 milhões de reais, e o prazo de entrega era dezembro de 2013. Mas uma série de problemas atrasou as obras, a ponto de colocar em risco a permanência de Curitiba no mundial.

A obra começou com seis meses de atraso. Desde o início, ela foi marcada por complicações no financiamento, dividido entre clube e governos municipal e estadual. O Atlético criou uma empresa para coordenar as obras, a CAP/SA, responsável por contratar empresas menores. Dessa maneira, o trabalho só era executado após a liberação do dinheiro.

WM-Stadium Arena da Baixada
A Arena da Baixada, ainda incompleta: prazo de entrega era inicialmente dezembro de 2013Foto: DW/C. Neher

Atraso previsível

Os desentendimentos entre o Atlético e os governos municipal e estadual também atrapalharam a liberação dos empréstimos. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) detectou irregularidades na obra e suspendeu o repasse de recursos. Além disso, o Tribunal do Trabalho ordenou a paralisação da construção devido à falta de segurança.

Greves de operários e alterações de projetos também contribuíram para que o orçamento do estádio chegasse a 330 milhões de reais, e o prazo de conclusão foi adiado para 30 de abril deste ano.

“Hoje eu não sei qual o projeto que está sendo construído na Arena. Nós analisamos três projetos diferentes ao longo dos últimos dois anos. É uma confusão muito grande que é aceitável numa obra privada, mas não é uma boa engenharia”, afirma Mauro Lacerda, professor de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná.

Segundo Lacerda, coordenador do projeto da universidade em conjunto com o TCE para fiscalizar e analisar as obras da Copa na cidade, o atraso na entrega do estádio já era previsível desde meados do ano passado.

Outros problemas

WM-Stadium Arena da Baixada
Caminhões diante do estádio do Atlético Paranaense: no domingo, obras não andaramFoto: DW/C. Neher

Mas o estádio não é o único problema na cidade, considerada modelo no país. As sete obras de modalidade urbana previstas em Curitiba estão atrasadas. O prazo de conclusão de todas elas é maio. O atraso foi causado por falhas no planejamento dos projetos.

Segundo Cordeiro, quando o novo governo assumiu o município, após a eleição de 2012, encontrou projeto incompletos que tiveram que ser refeitos para que as obras pudessem sair do papel.

“Infelizmente em Curitiba a engenharia política se sobrepôs à engenharia civil. Devido ao entusiasmo da Copa, algumas decisões políticas trágicas foram tomadas. Os projetos não foram devidamente estudados”, opina Lacerda.