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Crise na Venezuela pode gerar surto regional de doenças

22 de fevereiro de 2019

Antes pioneiro no combate a malária, dengue e zika, país sofre com falta de entrada de medicamentos devido à crise e êxodo de médicos. Doenças como Chagas ameaçam se espalhar para países vizinhos, diz pesquisa.

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Funcionário da Saúde pública trabalha em campanha contra o zika em Caracas
Funcionário da Saúde Pública trabalha em campanha contra o zika em CaracasFoto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez

A crise humanitária na Venezuela poderá resultar num aumento das infecções de malária, doença de Chagas, dengue, zika e outros males que ameaçam 20 anos de avanços obtidos na saúde pública do país.

O alerta surgiu em um estudo publicado no portal da revista científica The Lancet para doenças infecciosas na quinta-feira (21/02), onde os autores afirmam que algumas epidemias poderão avançar para além das fronteiras venezuelanas, podendo, potencialmente, causar uma emergência de saúde pública na região.

"Assim como o ressurgimento do sarampo e outras doenças infecciosas que podem ser prevenidas através de vacinas, o aumento contínuo dos casos de malária poderá se tornar incontrolável", afirmou Martin Llewellyn, acadêmico da Universidade de Glasgow que liderou o estudo junto a pesquisadores da Venezuela, Brasil, Colômbia e Equador.

Ele afirma que com o colapso do sistema de saúde venezuelano e uma dramática redução nos programas de saúde pública e de controle de doenças, as chamadas doenças vetoriais – transmitidas por insetos como mosquitos e carrapatos – aumentam e se espalham em novas partes da Venezuela.

O país foi declarado livre de malária em 1961 pela Organização Mundial de saúde (OMS). Mas os pesquisadores revelaram que as infecções da doença aumentaram 359% entre 2010 (29.736 casos registrados) e 2015 (136.402 casos). Apenas entre 2016 e 2017, o crescimento foi de 71%, aumentando de 240.613 para 411.586 casos em razão da redução do controle dos mosquitos e da escassez de medicamentos.

"A dura realidade é que, como consequência da ausência de vigilância, diagnóstico e medidas preventivas, essas cifras provavelmente subestimam a situação verdadeira", alertou Llewellyn.

Segundo o estudo, a transmissão da doença de Chagas – que mais causa insuficiências cardíacas na América Latina – é a mais alta em 20 anos na Venezuela. As infecções da doença em menores de 10 anos entre 2008 e 2018 tiveram percentual de 12,5% em algumas comunidades, em contraste com o índice de 0,5 em 2018, o mais baixo já registrado no país.

As infecções por dengue se multiplicaram entre 2010 e 2016, com 211 casos para cada 100 mil habitantes. Os especialistas detectaram seis epidemias nacionais da doença que aumentaram progressivamente de proporção entre 2007 e 2016.

Os casos de chikungunya e zika com possibilidade de provocar epidemias também aumentaram. Estima-se que até dois milhões de pessoas estivessem contagiadas com o vírus do chikungunya, número doze vezes maior do que as estimativas oficiais.

Os pesquisadores alertam ainda para os efeitos da migração em massa de venezuelanos para os países vizinhos, como o Brasil e a Colômbia. Com a média diária de 5,5 mil pessoas que atravessaram a fronteira em 2018, esses países também podem sofrer, potencialmente, surtos de doenças infecciosas.

Nesse contexto, algumas regiões brasileiras fronteiriças também teriam detectado um aumento dos "casos importados de malária", como em Roraima, onde passaram de 1.538 em 2014 a 3.129 em 2017. Em outros países, dizem os cientistas, a situação "não está clara" – motivo pelo qual recomendam reforço da cooperação bilateral no âmbito do combate a doenças.

O controle eficaz da "crescente crise sanitária" também precisará de políticas de "coordenação regional" e um "compromisso sólido" da comunidade nacional e internacional, dizem os estudiosos. "Pedimos aos membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e outros organismos políticos internacionais que exerçam mais pressão sobre o governo venezuelano para que aceite a ajuda humanitária oferecida pela comunidade internacional para reforçar o sistema de saúde", afirma Llewellyn.

RC/rtr/efe/dpa

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