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Combate à corrupção na Arábia Saudita atingiu seu objetivo?

Wesley Dockery md
2 de fevereiro de 2018

Maioria dos príncipes, políticos e empresários presos por acusação de corrupção foi libertada, alguns em troca de dinheiro. Analistas veem jogo de fachada para fortalecer príncipe herdeiro e desviar atenção de problemas.

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Príncipe saudita Mohammed bin Salman
Príncipe saudita Mohammed bin Salman avança rumo ao totalitarismo, diz especialistaFoto: picture-alliance/AA/Bandar Algaloud/Saudi Royal Council

Em novembro, a Arábia Saudita lançou uma luta contra a corrupção que levou príncipes, políticos e empresários a serem presos e confinados no hotel Ritz-Carlton, em Riad. Cerca de 500 pessoas ficaram detidas no hotel de luxo da capital.

Na terça-feira, o procurador-geral saudita, Saud al-Mojeb, revelou que a campanha havia rendido mais de 106 bilhões de dólares em acordos financeiros, incluindo apreensão de ativos imobiliários e outros bens, além de dinheiro dos próprios detidos, dado em troca da liberdade deles.

A maioria dos detidos foi libertada, mas 56 pessoas ainda permanecem em custódia, com as investigações ainda em curso – e, para alguns dos acusados, elas incluem acusações de crimes adicionais, não relacionados à corrupção.

Uma das pessoas mais famosas detidas e recentemente liberadas é o empresário Alwaleed bin Talal. As acusações contra ele incluem lavagem e desvio de dinheiro, mas ele foi libertado no sábado passado depois de entregar parte de seus ativos financeiros.

Waleed al-Ibrahim, que detém 40% da televisão árabe MBC, é outro dos executivos libertados durante o fim de semana. Segundo a agência de notícias Reuters, ele reiterou sua fidelidade à Arábia Saudita e à família governante depois que foi libertado.

Príncipe Alwaleed bin Talal
Príncipe Alwaleed bin Talal é um dos mais famosos acusados de corrupção no paísFoto: picture-alliance/dpa/H. Ammar

Jogo de fachada

Mohammad bin Abdullah al-Zulfi é um ex-membro do Conselho da Shura, o órgão consultivo formal que elabora leis e as propõe ao rei. Ele apoia os esforços do príncipe herdeiro para livrar o reino da corrupção. "O futuro reino da Arábia Saudita é baseado em um forte plano econômico, onde as forças prejudiciais da corrupção estarão ausentes. A mensagem de hoje é clara: não se enriqueça com a corrupção", disse ele à DW.

Al-Zulfi defende a decisão do príncipe quando questionado se seria justo libertar os detidos mediante pagamento, em vez de dar a eles penas de prisão mais altas. "Existem condições especiais para os detidos, e para o Estado é necessário recorrer à opção de acordo em vez de prisão", disse. "O Estado atualmente precisa de mais dinheiro, e não aprisionar os envolvidos. Não devemos também esquecer que há um grande prejuízo para a reputação dos indivíduos, e isso também é um tipo de punição", acrescenta.

Abdulaziz al Moayyad, um ativista da oposição saudita que vive na Irlanda e é coordenador da ONG Citizens Without Chains, acredita que o expurgo é simplesmente um jogo de fachada. "O governo do país não pode combater a corrupção por ser, ele mesmo, corrupto", diz.

"A corrupção é conhecida como a inflação da riqueza, e todas as figuras em posições mais altas na Arábia Saudita têm essa inflação", afirma. "Quem não moram na Arábia Saudita pensa que, por se prender alguns nomes conhecidos, há um desejo real de lutar contra a corrupção. Mas aqueles que vivem na Arábia Saudita sabem que pessoas com fundos secretos ainda estão prosperando."

Tentativa de desviar a atenção

"O príncipe Mohammed bin Salman está se movendo em direção a um Estado de um homem só e ao totalitarismo na Arábia Saudita", avalia o especialista Günter Meyer, diretor do Centro de Pesquisa sobre o Mundo Árabe da Universidade de Mainz. "Isso cria muita oposição. Então, ele tem que provar à vasta maioria da população saudita que a situação está melhorando e, ao mesmo tempo, desviar a atenção de áreas com fracassos, como a política externa", sublinha Meyer, citando a luta para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad na Síria, bem como a incapacidade de subjugar os rebeldes houthis no Iêmen.

Ele diz que os expurgos contra a corrupção melhoraram a imagem de Salman como um líder forte. "Entre a população isso o tornou muito mais popular. Corrupção, como todos sabem, é um dos principais problemas do país. Ele é visto como um líder forte, um que realmente está combatendo a corrupção de um modo efetivo."

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