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Como o Ocidente pode lidar com Putin e Kim Jong-un?

Julian Ryall
22 de outubro de 2023

Washington acusa a Coreia do Norte de fornecer armas à Rússia para a guerra na Ucrânia. Especialistas dizem que o ressentimento de ambos em relação ao Ocidente alimentará cooperação ainda por algum tempo.

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Kim Jong-un aperta mão de Vladimir Putin
Kim foi à Rússia no mês passado, gerando especulações sobre entregas de munições a MoscouFoto: Vladimir Smirnov, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP/picture alliance

A Coreia do Sul juntou-se aos Estados Unidos na condenação da Coreia do Norte depois de Washington ter alegado que Pyongyang tinha fornecido munições e armas à Rússia para a guerra em curso na Ucrânia.

Seul está considerando medidas adicionais contra Pyongyang, disse um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores.

Analistas sugerem que restam poucas opções para exercer pressão adicional sobre o vizinho do norte da Coreia do Sul, que conseguiu sobreviver apesar do peso de uma série de sanções internacionais paralisantes, impostas desde que o regime de Pyongyang realizou um primeiro teste nuclear em 2006.

Dizem que a geopolítica global mudou dramaticamente desde então e que Pyongyang encontra-se agora estreitamente alinhada tanto com a Rússia como com a China, enquanto enfrentam o Ocidente.

E essas alianças de conveniência estão permitindo à Coreia do Norte contornar muitas sanções, melhorar as suas capacidades militares e tentar promover as suas próprias ambições geopolíticas no nordeste da Ásia.

Coreia do Sul condena câmbio

Referindo-se às relações entre a Rússia e a Coreia do Norte, num comunicado divulgado recentemente, o Ministério do Exterior sul-coreano afirmou: "Qualquer troca de armas entre os dois é uma clara violação das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e uma ameaça à paz e à estabilidade na Península Coreana."

"É por isso que Putin nos odeia"

Os comentários foram feitos depois que o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse a repórteres em Washington que a Coreia do Norte entregou mil contêineres de suprimentos militares à Rússia.

De acordo com o governo dos EUA, contêineres foram vistos sendo colocados a bordo de um navio norte-coreano no porto de Najin, na Coreia do Norte, e depois transportados para o porto de Dunay, no extremo oriente russo. A partir daí, os satélites rastrearam o carregamento até um depósito de munições perto da cidade de Tikhoretsk, a cerca de 290 quilômetros da fronteira com a Ucrânia.

Imagens semelhantes analisadas pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank com sede em Washington, mostraram um aumento acentuado no tráfego ferroviário que transporta contêineres através da fronteira da Coreia do Norte com a Rússia.

Tanto Moscou como Pyongyang negaram que a Coreia do Norte esteja enviando armas para a Rússia.

"Ressentimento do Ocidente"

Embora a Rússia se beneficie militarmente e haja expectativa de que a Coreia do Norte receba combustível, alimentos e tecnologia militar em troca, os dois terão a oportunidade de fortalecer as relações bilaterais e "causar danos" ao Ocidente, na avaliação de Dan Pinkston, professor de relações internacionais na Universidade Troy, em Seul.

"Ambos os países têm um profundo sentimento de aversão contra o Ocidente e um desejo de derrubar a ordem internacional", diz. "Podemos acrescentar outros atores a essa lista – a China e o Irã, por exemplo –, cujas queixas não são exatamente iguais, mas todos guardam ressentimento em relação ao Ocidente."

E embora nenhuma das nações que formam esta nova "aliança antidemocrática" confiem inteiramente umas nas outras, acrescentou, elas cooperarão, desde que seja do seu interesse fazê-lo. No caso da Rússia e da Coreia do Norte, a colaboração poderá durar muito tempo. "Esses dois países querem uma arquitetura de segurança muito diferente da atual", ressalta.

Pinkston afirma que líder russo Vladimir Putin quer destruir a Otan e a União Europeia, enquanto a Coreia do Norte quer o desmantelamento do acordo de armistício da Guerra da Coreia de 1953 e, possivelmente, controlar a metade sul da península coreana.

Vista aérea de desfile, com bandeira da Coreia do Norte em primeiro plano
Parada militar em Pyongyang: tanto Moscou como Coreia do Norte negam fornecimento de armasFoto: YONHAPNEWS AGENCY/picture alliance

"Estes são atores transacionais que agem de forma oportunista, pois têm a oportunidade de tirar vantagem da atual situação geopolítica global", explica Pinkston.

O perigo é que ainda mais sanções contra Pyongyang por parte dos EUA ou da Coreia do Sul pouco farão para prejudicar o regime de Kim, enquanto a Rússia já indicou que, armada com um veto no Conselho de Segurança da ONU, não tolerará pressão adicional da ONU sobre a Coreia do Norte.

Habilidades específicas da Coreia do Norte 

Foi até sugerido que a Coreia do Norte, que conseguiu sobreviver habilmente às sanções durante tanto tempo – supostamente aproveitando ao máximo ataques de hackers para roubar grandes quantidades de criptomoedas, malas diplomáticas para contrabandear narcóticos e fundos obtidos ilicitamente, assim como outras manobras –, poderia estar disposta a ensinar à Rússia alguns dos truques que desenvolveu em troca de armas nucleares e tecnologia de mísseis.

Park Jung-won, professor de direito internacional na Universidade Dankook, acredita que a Coreia do Norte provavelmente "continuará a assumir posições provocativas e a fazer o melhor uso da favorável situação internacional para os seus próprios fins".

"Não terá passado despercebido a Pyongyang que a política dos EUA está paralisada neste momento", diz o especialista. A Coreia do Norte também está ciente de que a Ucrânia e o Oriente Médio estão prendendo a atenção do mundo e que, tendo a Rússia como amiga no Conselho de Segurança da ONU, sanções adicionais serão provavelmente limitadas em âmbito e impacto.

"Tudo isto é favorável à Coreia do Norte, e acredito que continuem a tirar partido desta incerteza até as eleições nos EUA no próximo ano", ressalta Park.

"Só quando soubermos quem será o próximo presidente dos EUA é que as coisas poderão se estabilizar."