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Conservadores querem "zonas de trânsito" para refugiados

Kay-Alexander Scholz (av)13 de outubro de 2015

Municípios se dizem sobrecarregados com afluxo migratório ininterrupto. Para aliviá-los, partido de Merkel propõe criação de áreas pré-ingresso nas fronteiras, como as que existem nos aeroportos internacionais.

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Zona de trânsito na fronteira da Hungria
Foto: picture alliance/JOKER

Representantes de administrações municipais da Alemanha se perguntam seriamente onde será possível alojar os milhares de refugiados que continuam acorrendo ao país. Nesta segunda-feira (12/10), os líderes foram ouvidos sobre o tema, numa audiência de especialistas da comissão interna do Parlamento alemão para reforma do direito de asilo.

Os representantes municipais apresentaram um quadro deplorável, em que suas capacidades estariam esgotadas e teria sido atingido o limite da sobrecarga. "Por puro desespero" algumas autoridades locais já se negam a acolher novos migrantes, já que concretamente faltam prédios, camas de campanha e pessoal.

Os municípios não têm esperanças de que o pacote de leis em estudo vá trazer uma melhoria sensível da situação. Criticou-se, acima de tudo, o fato de os estados alemães não se comprometerem a manter os solicitantes de asilo nos assim chamados "locais de pré-acolhimento", até seu requerimento ter sido decidido.

No momento, alguns requerentes já são transferidos às municipalidades após um período de apenas um a três dias, queixou-se Kay Ruge, do Conselho dos Municípios Alemães. As comunidades, no entanto, consideram que, a rigor, sua função seria só abrigar aqueles que vão poder permanecer no país.

Os estados se encontram diante de desafios semelhantes. Em Berlim não está funcionando nem mesmo o sistema de registro inicial para refugiados, anterior ao pedido de asilo propriamente dito. A governadora da Renânia do Norte-Vestfália, Hannelore Kraft, vem advertindo há dias que não há mais lugares disponíveis nos centros de pré-acolhimento de seu estado.

Pausa para respirar

Nesse contexto, os partidos conservadores União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, e União Social Cristã (CSU) propõem a criação de "zonas de trânsito", como terceira alternativa de acolhimento inicial para os refugiados, ao lado das municipais e estaduais.

Nessas zonas de trânsito se decidiria, num processo abreviado, se o migrante tem perspectiva de obter asilo. Caso contrário, deve deixar a Alemanha dentro de um prazo curto. Isso diminuiria a carga sobre os municípios e estados, já que os solicitantes nem chegariam a ser transferidos das zonas de trânsito para eles. A proposta foi bem aceita pelos representantes municipais na sessão da comissão do Parlamento desta segunda-feira.

As zonas de trânsito igualmente facilitariam a deportação dos solicitantes rejeitados. Isso se aplica em especial aos migrantes dos Bálcãs, cujos países são classificados como seguros e que, portanto, têm poucas chances de asilo na Alemanha.

A deputada Martina Renner, do partido de oposição A Esquerda e integrante da comissão para reforma do direito de asilo, criticou os planos como perpetuação de uma "política de isolamento" equivocada. No entanto, isolamento parece ser exatamente o que os municípios desejam, no momento. "Precisamos de uma pausa para respirar", desabafou Uwe Lübking, da Federação das Cidades e Municípios Alemães.

Deutschland Flüchtlingskrise Zeltstadt in Dresden
Instituição de zonas de trânsito eliminaria chances de ingresso para migrantes sem papéisFoto: picture-alliance/dpa/A. Burgi

Como no aeroporto

Ainda cabe definir como essas zonas de trânsito seriam na prática. Uma localização possível é a fronteira entre o estado da Baviera e a Áustria, para onde continua afluindo o maior número de refugiados. Nesse aspecto, o governador bávaro e presidente da CSU, Horst Seehofer, é um aliado seguro, pois tem mostrado interesse em acelerar os processos de asilo.

O modelo para a nova medida seriam as zonas de trânsito como as existentes nos aeroportos internacionais de Berlim e Frankfurt. Antes de ingressar propriamente em território alemão, os refugiados seriam mantidos ali até que se constate se têm o direito de entrar no país. Isso eliminaria as chances dos que não dispõem de documentos de identificação válidos.

A instauração de zonas de trânsito para refugiados dependeria, ainda, da aprovação do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro da CDU-CSU na coalizão de governo federal. Até o momento, seus representantes não estão totalmente convencidos. O chefe da bancada social-democrata no Parlamento, Thomas Oppermann, disse rechaçar "a criação de presídios na fronteira". O ministro da Justiça, Heiko Maas, diz considerar a iniciativa "irrealizável na prática".