1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Rola mais uma cabeça

18 de julho de 2011

Premiê britânico abrevia giro pela África a fim de se apresentar diante do Parlamento. Também o vice-comissário da polícia metropolitana de Londres renuncia devido ao escândalo dos grampos.

https://p.dw.com/p/11z39
Primeiro-ministro David CameronFoto: picture alliance / empics

Após o chefe da Scotland Yard, Paul Stephenson, outro alto funcionário da polícia britânica renunciou ao cargo nesta segunda-feira (18/07), em conexão com o escândalo de espionagem jornalística e suborno desencadeado pelo tabloide News of the World. Trata-se de John Yates, vice-comissário do Metropolitan Police Service de Londres.

News of the World letzte Ausgabe
Magnata Rupert Murdoch (d) e filho JamesFoto: picture alliance / dpa

Em 2009, ele decidira suspender as investigações do caso, apesar das novas acusações terem sido feitas. Na ocasião, Yates alegara que, desde a conclusão do primeiro processo, em 2007, não haviam surgido provas adicionais. Recentemente, ele se desculpara pela decisão, porém as exigências para que abandonasse o posto falaram mais alto.

Ao renunciar ao cargo no domingo, Stephenson alegou não ter tido a real noção da extensão do caso de espionagem. A polícia londrina é acusada de ter recebido propina dos repórteres do agora extinto News of the World, em troca de informações confidenciais. Além disso, os agentes não teriam investigado com o rigor necessário as acusações contra os jornalistas, que segundo as investigações teriam escutado milhares de telefonemas clandestinamente.

Perguntas complicadas

"Chefe de polícia dá tiro de despedida contra Cameron": com manchetes como essa, a imprensa britânica tenta digerir os turbulentos incidentes do fim de semana. O escândalo dos grampos – neste meio tempo tornado incêndio político – domina em peso as primeiras páginas dos jornais. Com exceção do The Sun, do grupo de Murdoch: abrindo o tabloide, vê-se a foto do jogador de futebol David Beckham com a filhinha recém-nascida, numa clara manobra de distração.

Entretanto, o caso persegue o premiê David Cameron, mesmo durante sua viagem pela África. Os jornalistas que o acompanham pouco estão interessados em relações comerciais ou coisa parecida. Eles só querem saber do escândalo Murdoch.

Por que o chefe de polícia teve que renunciar? Será devido ao fato de ele haver contratado como assessor de relações públicas um ex-jornalista de destaque do News of the World? Por que o primeiro-ministro considera completamente normal ter contratado o antigo redator-chefe do tabloide Andy Coulson para a assessoria de imprensa na Downing Street, se este é acusado de ter sabido das práticas de propina e de grampeamento no jornal e por isso chegou a ser detido pela polícia? Estas e outras intrincadas perguntas se acumulam e obscurecem cada vez mais o caso.

Cameron admitiu ter sido um erro contratar Coulson, mas garante que não sabia do suposto envolvimento dele no escândalo. Além disso, Cameron mantém uma relação de amizade com Rebekah Brooks, ex-redatora-chefe do News of the World.

Zona cinzenta

News of the World letzte Ausgabe
Última edição do 'News of the World' foi às bancas em 10/07/2011Foto: dapd

"A situação na polícia é realmente diferente da do governo", argumenta Cameron. "Os problemas na polícia têm influência direta sobre as investigações desse caso, e sobre a confiança da opinião pública. Isso diz respeito ao News of the World e à própria polícia."

O escândalo dos grampos lançou luz sobre a zona cinzenta na qual, durante anos, a elite política do país, a direção da polícia e o clã Murdoch teriam mantido relações. Deste modo, não mais é possível Cameron se inocentar com a observação de que, afinal, encontros com representantes da imprensa são comuns.

Agora, o assunto atinge o premiê pessoalmente, pois é difícil de explicar, por exemplo, por que em 15 meses de mandato ele teria se encontrado 25 vezes com membros da família Murdoch e seus altos executivos.

Teorias de conspiração em Londres

Nesse ínterim, o chefe de governo britânico sentiu-se obrigado a abreviar seu giro pela África, a fim de participar do debate parlamentar em torno do escândalo Murdoch na próxima quarta-feira. "Assim poderei posicionar-me novamente, informar o Parlamento sobre o estado das investigações e responder a perguntas que surjam entre hoje e amanhã", declarou Cameron em Pretória, na África do Sul.

Rebekah Brooks
Rebekah Brooks, ex-braço direito de MurdochFoto: picture alliance/dpa

O presidente sênior da News Corporation, Rupert Murdoch, de 80 anos, e seu filho James responderão às perguntas da comissão parlamentar nesta terça-feira. O escândalo já causa efeitos financeiros sobre a empresa. Desde que o escândalo veio a público, o valor da News Corporation na Bolsa de Valores já diminuiu em 6 bilhões de dólares, escreve a agência de notícias DPA.

No domingo circulavam, além disso, ousadas teorias de conspiração em Londres: segundo estas, a polícia só teria prendido temporariamente Rebekah Brooks – antiga redatora-chefe do magnata da imprensa – com o fim de torpedear sua declaração e a dos Murdochs diante da comissão. Afinal, teoricamente todos eles teriam a possibilidade de apelar para as investigações policiais, recusando-se a dar declarações.

Porém o presidente da comissão parlamentar, o conservador John Whittingdale, parece não temer essa eventualidade. "Rupert e James Murdoch querem cooperar com a comissão. Do ponto de vista deles, daria uma péssima impressão se viessem para se esconder atrás de advogados."

Ainda não é possível prever o que, no fim das contas, o escândalo dos grampos virá a representar para o império Murdoch. Entretanto, observadores ingleses afirmam que esta será a mais grave crise na história da empresa multinacional da mídia.

AV/dw/rtr/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer