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Crescimento infinito com recursos limitados

19 de junho de 2012

Num mundo com recursos limitados, será realista pensar num crescimento econômico sem fim? O tema vai ser debatido na conferência Rio+20. Especialistas divergem quanto ao que pode ser um bom e mau crescimento.

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Foto: Fotolia/Frog 974

Prateleiras cheias nos supermercados, os últimos medicamentos e mais viagens de turismo do que no ano anterior: tudo isso contribuiu para um Produto Interno Bruto (PIB) elevado na Alemanha em 2012.

O PIB corresponde ao valor de todos os bens e serviços produzidos em um país num determinado ano. Na maioria das nações, ele é visto como um indicador de prosperidade e desenvolvimento. Quando se produz e se vende mais do que no ano anterior, o PIB sobe s e fala-se então em crescimento econômico.

Diferente de prosperidade

No entanto, quando se calcula o PIB não se computam possíveis perdas como, por exemplo, os incêndios ambientais ou a poluição resultante da extração de matérias-primas ou da fabricação e transporte de bens.

A produção de alimentos também não entra nas contas, tal como a fabricação de armas. O crescimento econômico pode também implicar em crescimento da desigualdade social: nesse caso, a riqueza do país é distribuída apenas entre alguns.

Esses são motivos suficientes para se questionar o atual modelo de crescimento, de acordo com Alberto Acosta, economista e antigo Ministro da Energia do Equador. Segundo ele, crescimento econômico não significa necessariamente desenvolvimento: "Qualquer forma de crescimento tem uma história social e ecológica. Há boas formas de crescimento e más formas de crescimento".

Crescimento econômico é visto como indicador de prosperidade
Crescimento é visto como indicador de política bem sucedidaFoto: AP

Segundo Acosta, os países industrializados seguem uma lógica do crescimento pelo crescimento, que não é orientado pelas necessidades reais das próprias populações e que é feito à custa dos países em desenvolvimento. O economista propõe, por isso, frear o crescimento.

Dinheiro versus felicidade

Pedir um crescimento menor é um assunto tabu entre os círculos econômicos tradicionais e na política econômica, observa a jornalista alemã Petra Pinzler, autora do livro Immer mehr ist nicht genug. Vom Wachstumswahn zum Bruttosozialglück (Sempre não é suficiente: Sobre obsessão de crescimento e Satisfação Social Bruta).

Ela partilha da opinião de muitos críticos: "Os economistas tradicionais partem do princípio que há um crescimento quase perpétuo, que continua ilimitadamente". Mas as matérias-primas são limitadas, recorda. Pode também haver crescimento econômico alargando-se o setor dos serviços. Mas a este setor pertencem também os mercados financeiros bastante especulativos, alerta a autora.

Pinzler pede que se deixe de comparar a prosperidade à riqueza material, apontando para os estudos sobre o índice de felicidade nas populações. Só em países muito pobres há uma relação direta entre o bem-estar e o crescimento econômico. Quando se atinge um determinado nível de riqueza, o bem-estar não continua a crescer indefinidamente: ter três automóveis não significa ser três vezes mais feliz do que quando se tinha apenas um.

Crescimento econômico não implica necessariamente satisfação pessoal
Crescimento econômico não implica necessariamente satisfação pessoal

Crescimento populacional e aumento dos rendimentos

Por sua vez, Günter Schmidt questiona se os países industrializados estão efetivamente saturados, e se há espaço para começarem a desacelerar o crescimento. O especialista em recursos naturais, que trabalha para o Banco Mundial, entre outras instituições, lembra o caso da Grécia, onde a falta de crescimento econômico levou a uma queda dramática do bem-estar e da prosperidade.

O especialista parte do princípio que o crescimento é algo inevitável: "Daqui a uns anos, seremos 9 bilhões de pessoas no planeta. Além disso, os rendimentos estão subindo em todos os países, sobretudo em países emergentes como a Índia ou a China". E isso trará inevitavelmente uma maior demanda de vários produtos, não só de alimentos.

Além disso, o ser humano é, por natureza, criativo, prossegue Schmidt. Ele desenvolve novas tecnologias ou economiza dinheiro que é, por sua vez, flui para a pesquisa e desenvolvimento através de créditos bancários – tudo isso gera crescimento, sustenta o especialista. E questiona: que instância imporia aos países uma desaceleração do crescimento, em face da competição no mercado mundial?

Regulação dos mercados

Pelo menos representantes dos países em desenvolvimento pedem à política que imponha regras à economia mundial.

Nova classe média do Brasil consome avidamente
Nova classe média do Brasil consome avidamenteFoto: AP

Uma sugestão é, por exemplo, substituir o Produto Nacional Bruto por outros indicadores, ou mudar a forma como é efetuado seu cálculo, tendo em conta outros fatores, como a destruição ambiental. Deste modo diminuiria a pressão sobre os governos para que fomentem o mero crescimento pelo crescimento.

Outra sugestão: a exploração predatória da natureza deveria ser punida mais severamente. Os representantes dos países em desenvolvimento olham com ceticismo para um dos motes principais da agenda da conferência Rio+20: a chamada "economia verde", que tem como objetivo contribuir para um desenvolvimento social e ecológico sustentável. Desse modo, o próprio meio ambiente se tornaria uma mercadoria, passível de ser negociada na bolsa de valores.

Autora: Christina Ruta (gcs)
Revisão: Augusto Valente