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Crise na Ucrânia eleva gastos militares em países da região

Helle Jeppesen (rc)13 de abril de 2015

Apesar de orçamentos para defesa terem apresentado leve queda em termos globais, em alguns Estados, a tendência é contrária, aponta relatório. Países bálticos, por exemplo, incrementaram investimentos no setor.

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Schweden Großeinsatz nach fremder Unterwasseraktivität vor der Küste
Foto: Reuters/Pontus Lundahl/TT News Agency

Os gastos militares em todo o mundo não sofreram grandes alterações, mas a distribuição dos investimentos mudou, indica o relatório anual sobre orçamentos de defesa do Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (Sipri), divulgado nesta segunda-feira (13/04).

"Em termos gerais, é animador verificar, em primeira análise, uma leve redução", diz o especialista em Defesa Jan Grebe, do Instituto Internacional para Pesquisa da Paz e de Conflitos (Bicc), sediado na Alemanha. O declínio de cerca de 0,5% observado em 2014 nos orçamentos para defesa em todo o mundo se deve às reduções dos gastos militares dos Estados Unidos e às políticas de austeridade em muitos países europeus, afirma o especialista.

Ao mesmo tempo, Sam Perlo-Freeman, o principal autor do relatório do Sipri, diz que, na Europa, é notável a influência do fator Ucrânia – país vizinho da Rússia assolado pelo conflito entre forças do governo e separatistas pró-Moscou.

"A Polônia acelerou a modernização de sua defesa. Os países bálticos aumentaram seus orçamentos militares em 2014 e vão aumentá-los ainda mais em 2015", diz o especialista.

O Sipri coleta informações para seus estudos de fontes acessíveis ao público, como dados governamentais sobre os orçamentos para defesa. Por essa razão, afirma Perlo-Freeman, os números de 2014 não permitem tirar conclusões mais amplas. Entretanto, é possível observar uma tendência a partir da situação na Ucrânia.

Grebe, no entanto, alerta sobre possíveis interpretações prematuras a partir dos dados divulgados pelo Sipri. Os números atuais, diz ele, "não devem ser diretamente relacionados à política da Rússia". "Trata-se de medidas de modernização em diversos países, que investiram em suas Forças Armadas", afirma.

Infografik Veränderung der Verteidigungsetats weltweit 2013-2014 Portugiesisch

Vizinhos da Rússia se previnem

Pequenos sinais sugerem um incremento dos gastos com armamentos no futuro. A Suécia, que não é membro da Otan, vem nos últimos anos aumentando gradativamente sua cooperação com a aliança para a defesa do Ocidente e com países nórdicos e bálticos, aponta o relatório do Sipri. Para que o país possa reagir com mais eficácia a uma escalação da crise ucraniana, entre outros fatores, o Parlamento sueco aprovou em 2014 o aumento do orçamento militar do país para 2015.

"Após anos de austeridade, a Suécia começa a aumentar o orçamento de defesa", observa Perlo-Freeman. Ele ressalta que o novo estudo do Sipri demonstra que apenas os vizinhos da Rússia respondem à crise com o aumento de seus gastos militares. Por outro lado, os países da Otan e da União Europeia, mais distantes geograficamente, mantêm a austeridade.

Esses países, afirma, "fizeram uma reavaliação da situação da segurança na Europa e da ameaça potencial da Rússia, especialmente no que diz respeito aos países bálticos".

Outra questão em jogo é se a Rússia estará apta a prosseguir com a planejada modernização de suas Forças Armadas, diz Grebe. Importações da Europa não são possíveis em razão do embargo imposto pela União Europeia, e as tão aguardadas inovações tecnológicas de sua própria indústria militar não aconteceram. Outro problema para Moscou é o envelhecimento de seu aparato.

"Eventualmente, boa parte do conhecimento será perdido quando muitos dos engenheiros se aposentarem, o que trará enormes problemas para a indústria armamentista russa quanto ao desenvolvimento de novos produtos," afirma Grebe.

Também é possível que o país não tenha verbas suficientes para sua ambiciosa modernização das Forças Armadas, aponta Perlo-Freeman, ressaltando que as quedas do preço do petróleo e do gás, além das sanções europeias, já tiveram efeito sobre o orçamento militar russo.

"Na esteira do conflito na Ucrânia, eles afirmaram que iriam proteger os gastos militares dos cortes financeiros, mas em 2015, Moscou teve que reduzir o orçamento inicial em 5%", afirma o especialista do Sipri.

Petróleo por armas

O relatório do Sipri deixa clara a ligação entre os rendimentos do petróleo e o orçamento militar. Muitos dos vinte países que, em 2014, gastaram mais de 4% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em investimentos militares são produtores de petróleo.

"Os cinco primeiros países no topo da lista – Omã, Arábia Saudita, Sudão do Sul, Chade e Líbia – estão entre os maiores produtores mundiais de petróleo" aponta Perlo-Freeman.

Infografik Top 20 Länder Militärausgaben im Vergleich zum BIP Portugiesisch

Além disso, observa o especialista, poucos dos países que mais investiram em defesa são democráticos. Entre os vinte no topo da lista, apenas três são classificados por ele como Estados democráticos – Líbano, Israel e Namíbia –, o que explicaria os altos investimentos militares. Tais países não precisam justificar seus gastos, aponta o especialista. "Eles investem na força e na lealdade de seus exércitos, no intuito de assegurar a sobrevivência do regime."

Perlo-Freeman aponta mais um fator para os gastos excessivos dos países produtores de petróleo com armamentos. "Os negócios armamentistas, em parte secretos, e o interesse de muitos governos e empresas ocidentais envolvidos são uma maneira bastante eficiente de canalizar uma parte dos rendimentos com petróleo para contas particulares dos tomadores de decisão."