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Argentina

24 de outubro de 2011

Desde Perón uma liderança argentina não conseguia uma votação como a de Kirchner, com 54% dos votos. Especialistas apontam controle da inflação como um dos maiores desafios da presidente reeleita.

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Cristina Fernandez de Kirchner consegue se reelegerFoto: Picture-Alliance/dpa

A reeleição de Cristina Kirchner na Argentina, neste domingo (23/10), é vista como um triunfo sem precedentes para a presidente. Escolhida com aproximadamente 54% dos votos, a vitória marca a virada política de Kirchner, que enfrentou diversos protestos ao longo de seu governo – o que provocou comentários de que ela teria que deixar a presidência mais cedo.

"Se alguém tivesse dito que isso seria possível há dois anos, eles teriam dito que nós éramos loucos", declarou em lágrimas a presidente reeleita, diante do público em frente ao palácio presidencial. Aproximadamente 76% dos eleitores foram às urnas na Argentina. O socialista Hermes Binnes, rival da presidente, obteve 36% dos votos.

Aos 58 anos, Kirchner disse que vai continuar o trabalho que garantiu o crescimento econômico do país sul-americano nos últimos anos. "Há muito que ser feito, mas todos que viram esse país antes de 2003 notam o progresso que fizemos", disse ela, fazendo referência à administração do seu marido, Néstor Kirchner, presidente entre 2003 e 2007 e morto no ano passado.

Desde a terceira reeleição de Domingo Perón, em 1973, com 62% dos votos, nenhum outro líder havia obtido um resultado como o da presidente.



Desafios do próximo governo

Ainda assim, especialistas prevêem tempos difíceis neste novo mandato. Para Osvaldo Pandolfi, economista da Universidade Nacional de San Martín, em Buenos Aires, "o maior desafio será, no plano econômico, controlar a inflação – alta em comparação com níveis internacionais –, em primeiro lugar com um ajuste importante do gasto público para adequá-lo à arrecadação."

Segundo dados do Indec, instituto de estatísticas argentino, a inflação em 2010 foi de 10,9%, embora institutos privados e organizações internacionais estimem que ela tenha chegado a 25%. Para 2011, a previsão é similar. Embora haja controvérsia sobre a medição dos preços, "ela não é suficiente para relativizar a melhoria dos indicadores sociais em relação a 2001-2002", afirma Pandolfi.

No entanto, o contexto internacional não está mais tão favorável, já que os principais compradores da Argentina – Brasil e China – passam por uma fase de desaceleração econômica. E a Europa está no meio de uma grave crise.

Terceiro mandato

Antes mesmo de os resultados das eleições serem anunciados, em círculos próximos ao governo argentino surgiram rumores de um possível terceiro mandato de Kirchner em 2015, que só seria possível com uma reforma constitucional.

A votação deste domingo também escolheu representantes para a Câmara dos Deputados e do Senado, e a presidente terá a maioria nas duas instituições, o que, portanto, possibilitaria a aprovação de tal reforma.

"Um dos desafios que enfrentará, com um possível terceiro mandato ou sem ele, é a oposição dentro de seu próprio partido e o surgimento de novas lideranças alternativas dentro do peronismo", opina Mariana Llanos, pesquisadora do Instituto para Estudos Latino-Americanos (Giga), em Hamburgo.

Peronismo

O peronismo, que conta com 35% a 40% do eleitorado argentino, parece se adaptar a diferentes épocas e contextos econômicos e sociais. "Eles têm essa maleabilidade ideológica que outros partidos políticos não têm, e possuem figuradas de liderança", explica Llanos.

Para a especialista, o kirchnerismo soube compreender um clima de época que nasceu depois da crise: um clima contra o ex-presidente Carlos Menem, contra as privatizações e contra a submissão ao Fundo Monetário Internacional. Para Llanos, isso ajudou Kirchner a se sustentar no poder por todo esse tempo.

Outro ponto favorável à presidente é o impulso dado pelos governos de Cristina e Nestor Kirchner, juntamente com organizações de diretos humanos, à reparação dos crimes cometidos durante a ditadura militar.

Para Llanos, caso o terceiro mandato não se concretize, o fim de Cristina Kirchner não será o fim do peronismo. Esse movimento tem particularidades que outros partidos políticos não têm, nem na Argentina nem em outros países da América Latina, e isso dá a ele continuidade e perspectiva.

Para a oposição, é complicado ganhar espaço e competir com um partido com essas características. "Teremos kirchnerismo ainda por um tempo, mas não sei se será este [kirchnerismo]", conclui Llanos.

Autoras: Cristina Papaleo / Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler

Kirchner gewinnt Präsidentenwahl in Argentinien
Apoiadores celebram em Buenos Aires a vitória de KirchnerFoto: dapd