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Curtas trazem futuro do cinema brasileiro a Berlim

10 de fevereiro de 2012

"Licuri Surf" e "L" fazem parte da mostra oficial do Festival de Berlim, Berlinale. Com temas ligados a jovens com realidades completamente diferentes, os curtas retratam como os novos cineastas produzem no Brasil.

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'Licuri Surf' de Guile MartinsFoto: Berlinale 2012

Para o diretor Guile Martins, a ideia de fazer o filme Licuri Surf vem de uma história pessoal. Há mais de dez anos, viajando pela Bahia, ele procurou um lugar para acampar e acabou em contato com uma aldeia pataxó. Lá ele conheceu Licuri, na época com 11 anos, e sua família. Desde então, ele voltou todos os anos e ficou fascinado com a relação dos índios com a água.

"Queria expandir a ideia do surfe além da prancha. O que me levou a fazer o filme foi a interação deles e como se deixavam levar pela água. É uma relação vital, que a maioria dos surfistas não tem", declarou o diretor à DW Brasil.

Descobrindo um novo mundo

Apesar de Licuri viver em uma região com poucas ondas, ele entrou em contato com o esporte através da mídia e dos turistas que visitam a área. O jovem começou a praticar o esporte com um pedaço de madeira.

"Um dia ele me perguntou se conhecia uma praia com onda porque ele queria mais aventura. Fizemos uma viagem pela Bahia atrás de ondas. Assim nasceu a ideia para Licuri Surf", contou o diretor que conseguiu a verba para o filme através de um edital publicado pelo governo do estado de São Paulo.

O filme mostra essa viagem, da Bahia até a praia de Camburi, no litoral paulista, onde além de pegar onda Licuri pôde fazer sua própria prancha com um surfista local. "Os pataxós têm uma tradição muito forte com o artesanato. Achei que seria uma troca interessante", disse o diretor.

Para Licuri, a experiência foi ótima, mas muito cansativa. “Ele achou os surfistas muito obcecados com as ondas. Ele tem outras atividades, como caçar e pescar, e nunca vai passar o dia todo no mar” completou Guile, que assim que ficou sabendo da seleção para a Berlinale, voltou à aldeia e exibiu o filme para os índios.

Descobrindo a si mesmo

O curta de Thais Fujinaga L, também enfoca descobertas. Ela mostra de maneira singela e pessoal a história de Teté, uma pré-adolescente que recebe apelidos na aula de natação por ser muito alta e ter o pé grande.

Berlinale 2012 Filmstill Still L
Cena de 'L', curta de Thais FujinagaFoto: André Luiz de Luiz

Algo similar aconteceu com Thais quando ela tinha esta idade. "Esse molde dentro de um padrão é muito opressor, ainda mais quando seu corpo está mudando. Aconteceu comigo e, acredito, com a maioria das pessoas", declarou a diretora.

Essa opressão termina quando Teté encontra Héctor, garoto de origem chinesa que também recebe apelidos. Esse choque social e cultural leva a garota a medidas extremas. “Há alguns anos, li na internet sobre as mulheres chinesas que quebravam e enfaixavam os pés para eles ficarem pequenos. O pé curvado era sinal de beleza. Essa técnica radical durou séculos e foi abolida só nos anos 1940”, disse a diretora e também roteirista de L.

O filme que participa da mostra Generation, dedicada às crianças, encontra seu ponto alto na química entre os dois jovens atores e no clima singelo e quase interiorano. A diretora, que nasceu em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, buscou referências na própria infância e em bairros mais residenciais da capital paulista. "Foi um processo natural", completou Thais.

Curtas no Brasil

Para o produtor executivo de L, Cauê Ueda, a tecnologia é a grande responsável pelo aumento da produção de curtas-metragens no país. A crescente disponibilidade de câmeras e ilhas de edição cada vez mais baratas permite a viabilização e dá mais liberdade artística aos realizadores.

Outro ponto levantando por Cauê é como a internet funciona não só como ferramenta de troca de informação, mas também como forma de deixar o curta mais acessível. "Profissionais que antes eram técnicos encontram seu espaço para também criar com essas facilidades de produção e difusão", declarou Cauê.

L foi realizado com verba captada por dois editais: da prefeitura de São Paulo e do Ministério da Cultura. Mas é possível viver de curta-metragem no Brasil? Para Guile Martins, sim. Segundo o diretor, há muita coisa acontecendo e é preciso diversificar. "Além de dirigir, também faço som e edição. É possível, desde que você encontre um grupo ativo e consiga transitar entre as funções. Tenho vivido nos últimos oito anos somente de curtas", explicou o diretor.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Roselaine Wandscheer