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Debate mostra visões opostas de Trump e Biden sobre os EUA

23 de outubro de 2020

Novamente frente à frente na TV, candidatos travam embate civilizado, mas apresentam ideias inconciliáveis em todos os temas-chave para o futuro americano, da pandemia às mudanças climáticas.

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Biden e Trump em púpitos, um de frente para o outro, com a moderadora e o auditório ao fundo.
Biden e Trump participaram do evento em Nashville, no Tennessee.Foto: Jim Bourg/AP Photo/picture-alliance

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu adversário democrata na corrida à Casa Branca, Joe Biden, fizeram na noite desta quinta-feira (22/10) um debate mais civilizado que o primeiro. Mas apresentaram prognósticos ideias opostas para o futuro do país.

Se no primeiro confronto na TV um debate de fato não ocorreu, com os candidatos se limitando a atacar-se mutuamente, desta vez ambos mantiveram uma troca de argumentos calma. O que não escondeu, no entanto, o claro conflito de ideias.   

Trump e Biden basicamente apresentaram argumentos inconciliáveis em assuntos-chave para os EUA: desde o que acreditam ser o futuro da pandemia, passando pelo sistema de saúde, imigração e economia, até mudanças climáticas.

Debate civilizado

 

Ao contrário do debate de 29 de setembro, criticado pela hostilidade e marcado por interrupções, neste Trump manteve a calma e usou argumentos familiares para atacar o histórico de Biden.

Biden, por sua vez, argumentou incisivamente contra as políticas de Trump em áreas como imigração e a condução da crise provocada pelo coronavírus.

"Foi definitivamente melhor do que o anterior", disse à DW J. Miles Coleman, analista eleitoral da Universidade da Virgínia. "Trump estava mais focado na mensagem e não houve brigas com a moderadora".

No primeiro debate, Trump constantemente interrompia Biden, que fez o mesmo algumas vezes com o adversário. De acordo com uma contagem do jornal Washington Post, Trump interrompeu acaloradamente o moderador ou Biden 71 vezes durante o primeiro debate. Biden fez o mesmo 22 vezes.

Como consequência, dessa vez, cada candidato teve o microfone silenciado durante a resposta inicial de dois minutos de seu oponente em cada um dos seis segmentos.

Trump retratou seu adversário como um político de carreira ineficaz. Biden chamou o republicano de "o presidente mais racista da história moderna".

O republicano tentou minar a credibilidade do adversário, alegando repetidamente que o filho de Biden, Hunter, havia feito negócios duvidosos na Ucrânia - e que Biden, então vice-presidente de Barack Obama, teria lucrado com isso.

"Nunca peguei um centavo de uma fonte estrangeira em minha vida", rebateu Biden.

Eleições EUA: um eterno "a culpa não é minha"

Coronavírus

O primeiro tópico de discussão da noite foi o coronavírus. Biden criticou duramente Trump pelo que considera uma resposta desastrosa à pandemia.

Os EUA são o país mais afetado pela pandemia no mundo, com mais de 8,4 milhões de casos e mais de 223 mil mortes oficiais, de acordo com dados da universidade americana Johns Hopkins.

"Qualquer pessoa responsável por tantas mortes não deve permanecer presidente dos Estados Unidos da América", disse Biden.

O grande momento do democrata no debate veio quando Trump disse que os americanos estavam "aprendendo a viver" com o coronavírus, já que não tinham escolha.

"Você diz que as pessoas estão aprendendo a viver com isso, as pessoas estão aprendendo a morrer com isso", afirmou Biden. Para Colemann, essa foi a melhor frase de Biden no debate.

Ainda sobre o coronavírus, os dois externaram visões opostas sobre como enfrentar a pandemia, percebidas logo na chegada dos dois candidatos ao auditório: Biden chegou de máscara e tirou a proteção antes de começar a falar. Trump não usou a proteção.

O republicano afirmou que definitivamente não quer mais bloqueios. "O remédio não pode ser pior do que o próprio problema", disse o presidente. Biden, por sua vez, destacou que pretende seguir normas de segurança e manter lojas, escolas e outros estabelecimentos abertos quando for seguro.

Trump disse ainda que os EUA estão "arredondando a curva" e que uma vacina será "entregue em semanas", embora não tenha dado uma data para isso. Trump também mencionou sua própria recuperação da covid-19, sugerindo que agora ele estava "imune".

Biden acusou Trump de não fazer nada para combater a pandemia e de alegar falsamente que ela acabaria logo. Sob a acusação de não assumir a responsabilidade pela crise, Trump respondeu: "Assumo total responsabilidade. Não é minha culpa que ele tenha chegado aqui. Não é culpa de Joe. É culpa da China".

Imigração

Outro ponto acalorado do debate foi em relação à imigração. Biden atacou Trump por sua política anti-imigração, que separou crianças migrantes de seus pais na fronteira com o México. Essa semana, veio à tona que os pais de 545 crianças ainda não foram localizados.

Trump rebateu e disse que alguns dos centros de detenção, muitas vezes descritos como jaulas, foram construídos durante o governo Barack Obama, quando Biden era vice-presidente. "Era ele. Eles construíram gaiolas", disse Trump.

Racismo 

Biden disse que entendia por que os pais negros temiam por seus filhos e que havia "racismo institucional na América". Trump afirmou que fez mais pela comunidade negra nos Estados Unidos do que qualquer presidente, "com exceção de Abraham Lincoln", responsável pela abolição da escravidão nos EUA.

Trump acusou Biden de prejudicar a comunidade negra na década de 1990 ao apoiar um projeto de lei contra o crime quando Biden era senador.

Quando questionado sobre o movimento Black Lives Matter, Trump disse que ele era "a pessoa menos racista na sala". Biden respondeu com um grau de incredulidade: “Abraham Lincoln, aqui está o presidente mais racista que já tivemos na história moderna".

Mudanças climáticas

Quando o debate entrou no tema mudanças climáticas, Trump disse que não sacrificaria empregos nos EUA em prol do acordo climático de Paris. Ele também disse que turbinas eólicas "matam todos os pássaros" e que produzi-las causa poluição.

Trump afirmou também que os EUA têm o "nível mais baixo de emissões de carbono". "Olhe para a China, como ela é imunda. Olhe para a Índia. É imunda. O ar está imundo", disse ele.

Biden afirmou que quer uma transição da indústria do petróleo para promover a energia renovável e que, como presidente, voltaria a aderir ao acordo climático de Paris, do qual os EUA se retiraram durante o governo Trump.

“As mudanças climáticas e o aquecimento global são a próxima ameaça existencial à humanidade", destacou Biden.

Sistema de Saúde

Trump acusou Biden de planejar terminar com as políticas privadas de saúde. "Fizemos um trabalho incrível na área de saúde e vamos fazer ainda melhor", disse o republicano. Trump acrescentou, sem fornecer detalhes, que seu plano de saúde seria uma melhoria em relação ao Obamacare e seria "um belo atendimento de saúde".

Biden se esquivou da acusação de Trump de que o candidato democrata defende a medicina socializada.

"Todos deveriam ter direito a cuidados de saúde acessíveis", disse Biden sobre seu plano de saúde. "Temos que fornecer seguro saúde para as pessoas a um preço acessível e é isso que eu farei".

Discurso de posse

Ao final, os dois candidatos foram questionados sobre o que diriam no discurso de posse aos eleitores que não votaram neles. Trump diria: "Temos que tornar o nosso país totalmente bem-sucedido, como era antes da praga vinda da China". 

Biden adotou um tom mais conciliatório. "Eu sou o presidente americano e represento todos vocês e lhes darei oportunidades enormes de tornar as coisas melhores".

Avaliação do debate

Para Miles Coleman, analista eleitoral da Universidade da Virgínia, Trump saiu do debate um pouco mais forte do que seu adversário. "Trump venceu, no sentido de que [seu desempenho no debate] não foi um desastre", disse o analista político. "Agora, isso vai mudar muitas cabeças? Eu não sei", acrescentou.

Segundo uma sondagem pós-debate da CNN, Biden foi considerado vencedor pela maioria dos espetadores (53%), contra 39% que consideraram que Trump esteve melhor. 

Outro debate estava marcado para 15 de outubro, mas foi cancelado. Como Trump contraiu covid-19, a organização sugeriu que o embate fosse virtual,ideia rechaçada por Trump. Na data, os dois concederam entrevista a emissora de TV concorrentes.  

Mais de 42 milhões de americanos já votaram antecipadamente, um número recorde.

LE/lusa/ots