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Debate republicano é marcado pelo medo

Spencer Kimball (ff)16 de dezembro de 2015

Proibir muçulmanos de entrar nos EUA, suspender acolhimento de refugiados sírios, ampliar o programa de vigilância da NSA. Após ataques em Paris e San Bernardino, os candidatos republicanos apelam para medidas radicais.

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Pré-candidatos republicanos no debate em Las VegasFoto: Reuters/M. Blake

Os eventos em Los Angeles determinaram o tom do debate entre os pré-candidatos do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos. Cerca de 650 mil estudantes foram mandados de volta para casa após uma ameaça de bomba feita por e-mail. As autoridades disseram que a ameaça foi um trote, e as aulas serão retomadas nesta quarta-feira (16/12).

Horas após o fechamento em massa de escolas, os candidatos republicanos à corrida presidencial se reuniram em Las Vegas para debater segurança nacional.

Os Estados Unidos já estavam com os nervos à flor da pele após os ataques em Paris, e o tiroteio promovido por extremistas islâmicos em San Bernardino criou uma atmosfera de medo que não se via há 14 anos.

De acordo com uma pesquisa conjunta do jornal The New York Times e da rede de TV CBS, os americanos estão mais preocupados com o terrorismo do que estiveram em qualquer outro momento desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

Durante o debate desta terça-feira, os três candidatos republicanos que lideram nas pesquisas de intenção de voto sugeriram, de uma forma ou de outra, medidas radicais. Elas incluem uma proibição temporária à entrada de muçulmanos nos EUA, a suspensão do acolhimento de refugiados sírios e o retorno do extenso programa de vigilância da Agência Nacional de Segurança (NSA).

Trump: barrar muçulmanos, restringir a internet

Donald Trump disparou na preferência dos eleitores republicanos após pedir uma "proibição total e complete da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos". De acordo com a Universidade de Monmouth, o magnata do ramo imobiliário tem uma vantagem de 27 pontos sobre seu rival mais próximo, o senador Ted Cruz, do Texas.

Seus rivais nas primárias condenaram seus planos em relação aos muçulmanos. Trump, porém, não sofreu nenhuma pressão para recuar durante o debate em Las Vegas. De acordo com uma pesquisa do jornal Washington Post e da rede de TV ABC, quase 60% dos eleitores republicanos concordam com ele.

O líder na corrida republicana também defendeu sua proposta recente de "fechar a internet de alguma forma", com o objetivo de impedir o "Estado Islâmico" de recrutar apoiadores nas redes sociais. Ele procurou especificar suas declarações anteriores dizendo que o foco seriam usuários do Iraque e da Síria.

"Eu certamente estaria disposto a fechar áreas onde estamos em Guerra com alguém", disse Trump. "Com toda certeza não quero deixar pessoas que querem nos matar usar a nossa internet."

Em relação à guerra na Síria, Trump rejeitou uma mudança de regime neste momento, dizendo que o foco deveria ser lutar contra o EI. "Não podemos lutar contra Assad. Quando você luta contra Assad, você luta contra a Rússia – e uma porção de grupos diferentes."

Cruz: nenhum refugiado pelos próximos três anos

O senador Ted Cruz, do Texas, conseguiu reduzir a diferença para Trump no estado de Iowa, apesar de estar em um distante segundo lugar nas pesquisas nacionais.

Durante o debate desta terça-feira, ele se distanciou da ideia de Trump de barrar muçulmanos, mas sem condená-la diretamente.

"Há milhões de muçulmanos pacíficos neste mundo, em países como Índia, onde não existem os problemas que estamos vendo em nações que têm o território controlado pela Al Qaeda ou pelo EI", disse Cruz.

O texano elaborou um projeto de lei para uma moratória de três anos no acolhimento de refugiados "de países onde o EI e a Al Qaeda controlam boa parte do território".

Cruz defendeu ainda seu voto no Senado pelo fim das operações da NSA, dizendo que a vigilância deveria ser dirigida aos "do mal".

Ele apelou para uma política externa que evite mudanças de regime e o envio de armas para "míticos rebeldes moderados", apontando para a derrubada de Muammar Kadafi em 2011. "A Líbia agora é uma zona de guerra terrorista liderada por jihadistas", disse Cruz.

Rubio: mais vigilância da NSA

O senador Marco Rubio, da Florida – que vem se estabelecendo como um novo favorito ao passo que a campanha do ex-governador Jeb Bush perde força –, defendeu os programas de vigilância da NSA, que sofreram restrições pelo Senado após as revelações de Edward Snowden.

"Essa não é apenas a mais capacitada, mas também a mais sofisticada ameaça terrorista que já enfrentamos. Neste momento precisamos de mais ferramentas, não menos. O programa de metadados era uma ferramenta valiosa que não temos mais ao nosso dispor."

Rubio, que no momento aparece em terceiro nas pesquisas de intenção de voto em nível nacional, apelou por uma coalizão mais ampla dos países árabes para combater o EI por ar e por terra. O senador disse que o acordo nuclear do presidente Barack Obama com o Irã desencorajou os Estados sunitas de desempenharem um papel mais importante na coalizão liderada pelos EUA.

Bush: voltar a se envolver no mundo árabe

Jeb Bush, que já foi considerado o favorito à nomeação republicana, tem agora apenas 3% das intenções de voto em nível nacional, apesar de ter arrecadado mais de 100 milhões de dólares para sua campanha.

Ele condenou a retórica de Trump contra os muçulmanos com mais energia do que os outros candidatos republicanos. Embora isso possa garantir a ele maior apoio entre a opinião pública americana em geral, essa postura não o ajuda a ganhar votos entre os eleitores das primárias republicanas.

"Essa não é uma proposta séria," disse Bush sobre o plano de Trump de proibir muçulmanos de entrar nos EUA. "Na verdade, isso vai afastar o mundo muçulmano e o mundo árabe de nós, justamente no momento em que precisamos voltar a nos envolver com eles para podermos criar uma estratégia para destruir o EI".

Apesar de o ex-governador ter censurado a retórica de Trump, anteriormente ele disse que os Estados Unidos deveriam focar em aceitar os refugiados sírios que pudessem provar que são cristãos.