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Demissão em massa

21 de dezembro de 2010

Os médicos recebem, em média, quatro euros por hora nos hospitais tchecos – menos do que quem trabalha em redes de "fast food". Se profissionais da saúde cumprirem a promessa, país pode mergulhar em crise já no Natal.

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Médicos se preparam para cirurgiaFoto: PA/dpa

Em Praga, o hospital Vinohrady, uma grande instituição que abriga amplos departamentos médicos e uma respeitada seção de neurologia, corre o risco de perder 80% de seus médicos a partir de março de 2011.

Juntamente com outros 4 mil colegas de toda a República Tcheca, os médicos de Vinohrady assinaram cartas de demissão em protesto contra seus baixíssimos salários.

"O salário inicial de um médico nos hospitais tchecos é de 17 mil coroas por mês. São aproximadamente 100 coroas – o equivalente a quatro euros – por hora, sem considerar os impostos", diz Martin Engel, radiologista no Vinohrady e chefe do sindicato dos médicos (LOK). "Ganha-se mais trabalhando num restaurante fast food", afirmou Engel. Segundo o profissional, os médicos deveriam se envergonhar por aguentarem essa situação por tanto tempo.

Engel e seus colegas do LOK estão à frente da campanha "Obrigado, nós estamos de saída". Uma ambulância tcheca de modelo antigo percorre o país e aconselha os médicos sobre como e quando devem abandonar seus postos.

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Até agora, 25% dos 16 mil médicos que atuam em hospitais assinaram cartas de demissão, que serão entregues em massa aos administradores das instituições até o fim de dezembro, de forma que os hospitais tchecos correm o risco de lhe faltar pessoal a partir do segundo trimestre de 2011.

Martin Engel tem 30 anos de experiência como radiologista. Sem contar as horas extras, ele ganha aproximadamente 1600 euros mensais brutos, quantia muito inferior aos salários de médicos com a mesma qualificação no resto da Europa.

A esposa e o filho de Engel, também médicos, assinaram a carta de demissão. O radiologista se considera velho demais para começar uma nova vida no exterior, mas muitos profissionais jovens estão sendo recrutados para trabalhar em hospitais na Alemanha, Áustria e Reino Unido, onde os médicos podem ganhar de seis a sete vezes mais do que recebem na República Tcheca.

Comportamento irresponsável?

A exigência da LOK é que os salários dos médicos subam para até três vezes acima da média nacional. O ministério de Saúde considera a hipótese irrealista diante da crise econômica e dos cortes no orçamento. Leos Heger, ministro da Saúde, disse à imprensa na semana passada que os médicos deveriam reconsiderar suas decisões e aguardar mais um ano para ver se as reformas planejadas no setor surtem efeito.

"Dizer 'não, ou você nos dá mais dinheiro agora ou iremos criar problemas terríveis, iremos destruir o sistema de saúde desse país', francamente, acho que é uma extrema irresponsabilidade", considerou Heger.

O ministério da Saúde disse encarar o problema com seriedade, mas, mesmo assim, acredita que aos 4 mil médicos tchecos faltem conhecimento de línguas estrangeiras e qualificações europeias para simplesmente deixarem o país da noite para o dia.

Estima-se que 700 médicos possam pedir demissão com o objetivo de deixar o país ou trabalhar em clínicas privadas na República Tcheca, segundo o ministro.

Para os sindicatos, trata-se de um jogo de altas apostas: em uma região tcheca, 85% dos médicos de hospitais prometeram deixar o trabalho até o Natal. Se esses profissionais e seus colegas cumprirem a ameaça, o país pode estar diante de uma séria crise na saúde.

Autor: Rob Cameron (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer