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Mulheres no poder

16 de março de 2010

A Deutsche Telekom adotará cota para mulheres em postos de chefia. Iniciativa abre discussão sobre qual a melhor solução de fomento à paridade entre os sexos, se as medidas voluntárias ou as impostas por lei.

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Deutsche Telekom quer mais mulheres na chefiaFoto: DW

A gigante alemã das telecomunicações, Deutsche Telekom, vai introduzir uma cota para executivos do sexo feminino, visando preencher com mulheres 30% dos postos de chefia de níveis intermediário e superior até o final de 2015, declarou a empresa, sediada em Bonn nesta segunda-feira (15/03). Será a primeira empresa integrante do índice DAX (que reúne as 30 companhias abertas de melhor performance financeira da Alemanha) a aplicar tal cota.

Esforços anteriores da Deutsche Telekom para aumentar o número de mulheres em cargos de direção eram "bem-intencionados, mas não muito bem-sucedidos", afirmou um porta-voz da companhia. Dos 130 mil funcionários da empresa na Alemanha, apenas 32% são mulheres, e somente 13% dos postos administrativos em médio e alto escalão são ocupados por pessoas do sexo feminino.

Metade dos talentos disponíveis

Deutsche Telekom Rene Obermann
Presidente da Telekom, René Obermann, quer atrair o talento femininoFoto: AP

Ao definir uma cota e divulgar os progressos conseguidos, a empresa pretende incentivar a disposição interna para aumentar o número total de executivas, de acordo com o porta-voz.

"Não se trata de contratar mulheres apenas por contratar mulheres, mas conseguir uma estrutura de competição e de procura de talentos", disse ele, apontando para o crescente número de mulheres que se diplomam nas universidades alemãs, atualmente 60% do total de formandos.

Os especialistas concordam. "Se você não está contratando mulheres hoje em dia, você está realmente focando apenas na metade do talento disponível lá fora", afirma Candace Johnson, empresária e especialista da área de telecomunicações, que ajudou a lançar o sistema de satélites SES / Astra, a fundar a Europa Online (a primeira e maior rede mundial independente de transmissão por satélite) e é fundadora da Global Telecom Women´s Network, fórum internacional para executivas do setor de telecomunicações.

A iniciativa da Deutsche Telekom acendeu um debate na Europa sobre qual o melhor caminho para se levar um maior número de mulheres aos altos escalões das empresas do continente.

Legislação pode ser necessária

"Como economista, sou a favor da autorregulação e da criação de incentivos voluntários para que as companhias contratem mulheres", disse à Deutsche Welle Elke Holst, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW, na sigla em alemão). "Mas, pessoalmente, sinto que muito pouco aconteceu e que uma ação mais forte, como a legislação, pode ser necessária."

Segundo o DIW, apenas 2,5% de todos os membros de conselhos diretivos das 200 maiores empresas da Alemanha (excluindo o setor financeiro) são mulheres e apenas 10% de todos os assentos nos conselhos de supervisão são ocupados por mulheres.

No setor financeiro, a situação é semelhante. Nos 100 maiores bancos, 2,6% de todos os membros do conselho executivo são mulheres, e nas 62 maiores empresas de seguros, 2,8% dos membros do conselho executivo são mulheres. A presença delas em conselhos de supervisão, no entanto, é ligeiramente superior ao das 200 maiores empresas: 16,8% em bancos e 12,4% em companhias de seguros.

Mulheres profissionais

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Mulheres são minoria em cargos de chefia na EuropaFoto: dpa

O progresso geral na Europa tem sido lento, com exceção da Noruega. Em 2008, o país nórdico introduziu uma lei que torna obrigatória uma representação de 40% de mulheres em cargos de chefia, com penalidades para as empresas que não atingem a cota.

Segundo a Associação Europeia de Mulheres Profissionais (EPWN, na sigla em inglês), a percentagem de mulheres nos conselhos de direção das 300 maiores empresas da Europa foi de 9,7% no final de 2008, acima dos 8,5% em 2006 e 8% em 2004.

"Realizamos o estudo apenas a cada dois anos, porque, como vocês podem ver, tem havido muito pouco progresso", disse a atual presidente da EPWN, Monica Pesce, que também é presidente da Associação das Mulheres Profissionais na Itália.

Igualdade e mérito

Algumas executivas acreditam que a legislação é necessária para dar início ao processo de levar as mulheres para cargos de chefia. "A tendência em toda a Europa são esforços voluntários, não conduzidos por lei", disse Mirella Visser, membro do conselho de supervisão da Royal Swets & Zeitlinger na Holanda e ex-presidente da EPWN. "O problema é que se as empresas não cumprem essas metas, elas não precisam explicar por que não cumpriram", ressalva.

A associação alemã Mulheres em Conselhos de Supervisão (Fidar, na sigla alemã) exige leis que punem quem não respeitar as cotas femininas. Além da Noruega, a associação aponta para um número de países europeus com legislação de cotas, incluindo Finlândia, Suécia e França. Na segunda-feira, Fidar realizou uma conferência em Berlim sobre o tema de mulheres nos conselhos de supervisão.

Mas nem todas as mulheres concordam que as cotas são a solução ideal. "As cotas podem garantir a igualdade, mas não necessariamente o mérito", disse Pesce, presidente da EPWN. "Há uma grande discussão sobre isso em toda a Europa. Pessoalmente, acho que devemos apoiar as mulheres talentosas e torná-las mais visíveis. E isso é exatamente o que estamos tentando fazer no braço italiano da associação de mulheres profissionais."

Autor: John Blau (md)
Revisão: Carlos Albuquerque