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Direitos humanos são tema secundário na visita de Xi aos EUA

Monika Griebeler (av)24 de setembro de 2015

Comércio, cibersegurança e conflitos territoriais dominam agenda de encontro entre presidente chinês e Barack Obama, e assuntos mais delicados devem ficar de fora. Ativistas criticam posicionamento do governo americano.

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Foto: picture-alliance/AP Photo/T.S. Warren

Quando o presidente da China, Xi Jingping, chegou a Seattle, abrindo seu atual giro pelos Estados Unidos, centenas de manifestantes já o esperavam, portando cartazes contra a política de Pequim para o Tibete, contra a repressão e as violações dos direitos humanos.

Também não há como ignorar os protestos em Washington. Vermelho-vivo e gigantescas, as faixas pendem do museu de jornalismo Newseum, entre o Capitólio e a Casa Branca: "Viva a liberdade, viva a democracia", "Governo chinês devia respeitar os direitos humanos", "Libertem os advogados dos direitos humanos na China".

Segundo informações da Anistia Internacional, desde o princípio de julho deste ano, Pequim mandou prender praticamente todos os mais de 200 juristas especializados em direitos humanos do país. Trinta deles ainda estão encarcerados ou desaparecidos.

Além disso, o governo planeja uma nova lei colocando sob observação mais estrita as ONGs estrangeiras atuantes na China. Há muito tempo as autoridades não combatiam os ativistas de forma tão maciça quanto agora.

Friedensnobelpreisträger 2009 Barack Obama
Barack Obama (dir.) recebeou Nobel da Paz em 2009Foto: picture-alliance/AP Images

Excesso de cautela

Na opinião do dissidente chinês Wei Jingsheng, "na verdade agora seria o momento exato para conversar com a China, tanto sobre o déficit comercial como sobre os direitos civis". No entanto, ele tem dúvidas de que a situação dos direitos humanos chegue a ser tematizada durante o encontro entre Xi e Barack Obama nesta sexta-feira (25/09). "Obama não vai fazer isso, por temer, assim, ofender o empresariado", especula o chinês que vive desde 1997 em exílio nos EUA.

A conselheira do chefe de Estado americano para assuntos de segurança nacional, Susan Rice, anunciou que comércio, cibersegurança e conflitos territoriais no Mar do Sul da China dominarão a agenda do encontro presidencial. No entanto, Obama também deverá tocar em outros temas polêmicos, ressalvou.

Para o presidente do Subcomitê de Direitos Humanos dos EUA, o congressista republicano Chris Smith, essa não passa de uma promessa vazia. "Obama fracassou lamentavelmente. Ele nada fez para melhorar o estado dos direitos humanos, mal menciona o tema", declarou em entrevista à DW.

Segundo Smith, esse fato já ficara claro no encontro do presidente democrata com o antecessor de Xi, Hu Jintao. "Obama é portador do Prêmio Nobel da Paz e quando se encontra com o homem que mantém seu colega de premiação preso, ele sequer menciona Liu Xiaobo."

Escritor e coautor do manifesto sobre os direitos civis Carta 08, Liu está preso na China desde dezembro de 2009. No ano seguinte, ele recebeu o Nobel da Paz in absentia.

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Faixas de protesto em chinês dominam fachada do Newseum, em WashingtonFoto: Getty Images/AFP/P.J. Richards

Carta dos intelectuais a Xi

Antes da partida de Xi para os EUA, mais de 40 intelectuais americanos – entre eles, autores conceituados como Paul Auster, Jeffrey Eugenides e Jonathan Franzen – dirigiram uma carta aberta ao chefe de Estado chinês. Nela, exigem a libertação dos autores do país "que definham no cárcere pelo crime de terem manifestado a própria opinião".

São citados quatro casos exemplares. Além de Liu Xiaobo e sua esposa, mantida em prisão domiciliar, e do cientista uigure Ilham Tohti, condenado há um ano à prisão perpétua, eles criticam o fato de a jornalista investigativa e colaboradora da DW Gao Yu não receber a devida assistência médica no cárcere.

"A detenção de autores e jornalistas compromete a imagem da China no exterior e mina suas pretensões de ser um parceiro respeitável no âmbito internacional", prossegue a carta. Os signatários concluem com a reivindicação de que Xi empreenda algo "imediatamente" para garantir o direito de todos os chineses à liberdade de expressão e de informação.

Apoio hesitante

A diretora da seção chinesa da ONG Human Rights Watch (HRW), Sophie Richardson, afirma que os EUA teriam pretextos suficientes para abordar questões de direitos humanos. Entre eles: os advogados e autores encarcerados; os conflitos no Tibete e na província uigure de Xinjiang; ataques contra igrejas no leste chinês; assim como o projeto de lei para controle das ONGs estrangeiras.

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Jornalista da DW Gao Yu foi condenada à prisão na ChinaFoto: DW

Richardson reconhece que em diversas ocasiões os Estados Unidos expressaram sua apreensão sobre a situação no país perante altos funcionários da China. No entanto, faltou uma reação condizente da Casa Branca ao "alarmante declínio dos direitos humanos", critica.

O governo americano só teria se colocado "a contragosto" do lado dos ativistas oprimidos da China, condena Richardson. Únicas exceções foram a recepção do Dalai Lama em 2014 e as superficiais congratulações a Liu Xiaobo pelo Prêmio Nobel da Paz em 2010.

Longe dos olhos

Outros governos também adotaram um tom mais reservado em suas críticas a Pequim, à medida que o país se tornou mais poderoso economicamente. "Essa tendência existe há mais de dez anos", constata o dissidente Wei Jingsheng. "E fica cada vez pior."

Algumas semanas atrás, os chefes de protocolo chineses já haviam feito uma visita prévia a Washington. Uma de suas exigências foi que os manifestantes permanecessem fora da vista e dos ouvidos do presidente Xi. Por isso, o Lafayette Park, diante da Casa Branca, foi isolado.

Mesmo assim, devido ao grande número de manifestações da sociedade civil, o chefe de Estado da China não conseguirá escapar dos protestos. Mas da discussão política sobre os direitos humanos em seu país, provavelmente sim.