1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Diretora do Instituto Leo Baeck fala sobre história dos judeus alemães

13 de fevereiro de 2013

O Instituto Leo Baeck, sediado em Nova York, possui o maior acervo do mundo sobre história judaica. Uma empreitada bem-sucedida, garante sua diretora Carol Kahn Strauss.

https://p.dw.com/p/17abb
Foto: DW/J.Bruck

O Instituto Leo Baeck foi fundado em 1955, entre outros por Hannah Arendt e Martin Buber. Além da sede em Nova York, o Instituto tem representações em Londres, Jerusalém e, desde 2001, também no Museu Judaico de Berlim. O Instituto leva o nome do rabino Leo Baeck, alto representante do judaísmo na Alemanha desde a República de Weimar até o período nazista. Com passagem pelo campo de concentração de Theresienstadt, ele sobreviveu ao Holocausto e emigrou para os EUA depois da guerra.

O Instituto Leo Baeck dedica-se à pesquisa e à documentação da história dos judeus de língua alemã do século 17 até os dias de hoje. Em entrevista, sua diretora, Carol Kahn Strauss, fala sobre o desaparecimento da cultura judaico-alemã nos EUA e sobre sua relevância para a própria história alemã.

Deutsche Welle: Durante o Holocausto, mais de 100 mil judeus alemães fugiram para os EUA, muitos deles para Nova York. Havia em Washington Heights um bairro de judeus alemães, onde eles faziam compras nas padarias e nos açougues alemães, frequentavam cultos religiosos em alemão e liam o jornal Aufbau, da comunidade judaica de língua alemã. O que ainda resta desta cultura?

Carol Kahn Strauss:Essa cultura não existe mais. Não ficou muita coisa dos judeus alemães em Nova York, somos todos americanos. O Aufbau não existe mais e a maioria dos estabelecimentos comerciais de judeus alemães foram fechados. Washington Heights é hoje fortemente dominado por imigrantes da República Dominicana. A cultura judaico-alemã não é mais visível aqui. Do ponto de vista histórico, muita coisa da cultura judaico-alemã passou a fazer parte do mainstream norte-americano, seja no cinema, na música ou na arquitetura. Estamos aqui sentados em frente a uma parede com retratos dos vencedores do Prêmio Nobel que eram judeus alemães, viveram nos EUA e trabalharam aqui. A influência deles é muito extensa.

E o que aconteceu com a terceira geração, com os filhos e netos dos judeus alemães? Eles ainda têm alguma ligação com essa herança?

Nenhuma, exceto quando querem um passaporte europeu para estudar ou trabalhar na Europa. Eles são americanos, é isso.

O que significa isso para o Instituto Leo Baeck? Nova York  ainda é o lugar certo para o Instituto?

Leo Baeck Institut New York
4000 pesquisadores visitam o arquivo do Instituto Leo Baeck por anoFoto: DW/J.Bruck

Acho que tudo tem seu tempo. A fase americana do Instituto Leo Baeck, em minha opinião, já passou. Acho que nosso arquivo e nosso acervo deveriam ser transferidas algum dia para o Museu Judaico de Berlim. Neste contexto, é importante nos lembrarmos de que os judeus alemães, até as Leis de Nurembergue do ano de 1935 eram cidadãos alemães plenos. Eles são parte da história alemã, bem como nossos arquivos.

Seu instituto é financiado em grande parte por doações. É possível convencer as novas gerações da importância disso?

História não vende bem. Sem o apoio de grandes instituições, não teríamos nem ao menos sobrevivido. As pessoas não fazem doações para livros velhos, isso não comove ninguém nem convence a abrir a carteira. Precisamos pensar sobre novas formas de financiamento. Antigamente, muitos judeus alemães lembravam o instituto em seus testamentos. Mas isso acontece com uma frequência cada vez menor. Apostar na herança não é uma forma confiável de financiamento.

Há interesse por parte do governo e da opinião pública alemã pelo trabalho do instituto?

Sim, e o interesse é cada vez maior. O governo federal alemão sempre nos apoiou muito. Viajo com frequência para participar de eventos na Alemanha e sei que o interesse das pessoas é grande. E poderia ser maior ainda, se conseguíssemos chamar mais atenção para nosso trabalho. Precisamos deixar claro às pessoas que os judeus, entre 1870 e 1933, não teriam vivido melhor em outro lugar da Europa que não na Alemanha.

As trajetórias de sucesso na ciência, música, literatura e em tantos outros setores são muitas vezes esquecidas em função das atrocidades posteriores. Mas a verdade é que esse capítulo da história judaico-alemã é muito positivo. O ex-premiê Gerhard Schröder disse por ocasião da inauguração do Museu Judaico de Berlim: "Não é preciso se lembrar somente do que aconteceu de terrível, mas também do que foi fértil". Para mim, essa citação corresponde ao cerne do nosso trabalho no Instituto Leo Baeck.

Quais os desafios que você vê no futuro? O que ainda tem que ser feito?

Há tanta gente jovem que se interessa por nossos temas. Precisamos pensar em como "empacotar" e comercializar a história dos judeus alemães. Através dos diversos filmes, livros e peças de teatro, podemos perceber que o interesse pelo tema é enorme. E há mais de meio século somos os especialistas em história dos judeus alemães. Agora também precisamos contá-la às pessoas.

Carol Kahn Strauss dirige o Instituto Leo Baeck desde 1994. Filha de imigrantes judeus alemães, ela nasceu há 62 anos em Nova York. Graduada em Ciências Políticas pela Columbia University, tem mestrado em Relações Internacionais pelo Hunter College. Kahn Strauss foi durante muito tempo presidente da comunidade judaico-alemã de nome Habonim em Nova York.

Entrevista realizada por Jan Bruck (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer