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Grécia

DW/Agências (sv)9 de dezembro de 2008

Tumultos deixam centro de Atenas destruído. Polícia mal paga e pouco qualificada e jovens sem perspectiva são razões dos distúrbios. Sindicatos convocam greve geral. Enterro de estudante morto gera novas manifestações.

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Manifestantes incendeiam carros e lojasFoto: AP

A polícia anunciou que continua em estado de alarme. Na tarde desta terça, será enterrado o jovem Alexis Grigoropoulos, de 15 anos, morto pela polícia no último sábado (7/12). As circunstâncias de sua morte ainda não foram totalmente esclarecidas.

Para o meio-dia está marcada uma manifestação de escolares e estudantes em protesto contra a violência policial. Forças de segurança temem que possa haver novos ataques de violência durante a marcha de protesto. Os protestos inicados por grupos de esquerda já foram aderidos por outras parcelas da população. Centrais sindicais convocam uma greve geral para esta quarta-feira (10/12) e as escolas do país mantêm-se fechadas.

Busca de solução

Na noite da segunda-feira (8/12), os protestos levaram à destruição de estabelecimentos comerciais em Atenas, Salônica e em pelo menos outras oito cidades do país. Segundo informações da polícia, há 173 detidos e mais de cem pessoas feridas.

No bairro de classe média alta Kolonaki foram destruídos vários estabelecimentos comerciais. A polícia reagiu usando gás lacrimogêneo. O presidente da Confederação dos Jornalistas Gregos, Panos Sombolos, afirmou que estes são os tumultos mais sérios vistos nos últimos 30 anos.

Griechenland Proteste
Morador de Atenas ao lado de ônibus incendiadoFoto: AP

Nesta terça, o premiê Costas Caramanlis reúne-se com o presidente Carolos Papoulias e com os líderes das principais facções no Parlamento, a fim de delinear uma solução para os conflitos que assolam o país. Um porta-voz do governo desmentiu os boatos de que seria decretado "estado de sítio".

Os políticos pretendem debater a respeito de uma forma de acalmar a situação. O ministro grego da Cultura declarou esta terça-feira como um dia nacional de luto. À noite, deverá haver uma manifestação com velas.

Situação da polícia

Dimitris Papadimoulis, deputado no Parlamento Europeu, acredita que a polícia grega realmente cometeu um erro capital. "Um menino de 15 anos foi morto a sangue frio e sem razão por um policial armado aspirante a Rambo. Forças paramilitares na polícia contam evidentemente com a conivência dos políticos responsáveis. Eles quase nunca são punidos e até recompensados por suas atividades. E isso há anos", diz o parlamentar.

O presidente do Sindicato dos Policiais do país, Iannis Makris, vê a situação de forma distinta. "Na Grécia acontece algo incomum: queremos todos que a polícia esteja na nossa porta quando algo nos acontece, mas caso contrário não queremos ter nada a ver com o trabalho dos policiais".

Um policial grego em início de carreira recebe um salário bruto de 683 euros, o que provoca pouca motivação para o trabalho na categoria. Também a má qualificação dos policiais é apontada como outro fator responsável pelos incidentes envolvendo a polícia no país. O que não justifica o abuso do poder, lembram as vozes críticas. Em 1985, Michalis Caltezas, jovem estudante, também com 15 anos, foi morto durante uma passeata nas ruas de Atenas. Um caso semelhante ao ocorrido no último sábado.

"Geração 700 euros"

A falta de perspectivas dos jovens na Grécia é outro fator responsável pela violência que o caso gerou. "O sistema de educação está sendo privatizado e sucateado. O desemprego aumenta, os jovens estão sem perspectiva de futuro e decepcionados em relação à política. O bairro Exarchia, em Atenas, é um sismógrafo da nossa sociedade. Ali vem sempre algo à tona, mas a classe política simplesmente não quer enxergar e agir", analisa o deputado Papadimoulis.

Griechenland Proteste
Quebra-quebra como reação à morte de estudante: violência nas ruas de AtenasFoto: AP

Segundo estimativas do Departamento de Estatísticas da União Européia, 25% da população grega vive hoje abaixo do nível de pobreza. Mesmo jovens qualificados ganham menos de mil euros por mês, o que para o custo de vida do país é muito pouco. Bons empregos em departamentos públicos só são distribuídos a pessoas de confiança dos partidos no poder. No país, fala-se de uma "geração 700 euros", em alusão ao salário médio atingido pelos que iniciam suas vidas profissionais.

Comerciantes reclamam

Se os manifestantes estão cheios de razão para ir às ruas protestar, suas ações de destruição atingem não somente a classe política, mas também o cidadão comum, que agora tem que se virar com os prejuízos causados pelo vandalismo dos últimos dias.

"A violência absurda precisa chegar ao fim, o Estado tem que manter a situação sob controle. Nos estabelecimentos comerciais, as pessoas querem, enfim, voltar a trabalhar em paz. No momento, a segurança não está sendo garantida. Um monte de manifestantes assumiu o comando das ruas e a polícia simplesmente sumiu", resume Dimitris Armenakis, presidente da Câmara de Comércio em Atenas.

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